A longevidade do jornal “Diário dos Açores”, fundado em 1870, constitui um marco assinalável na imprensa açoriana.
É de louvar que, ao longo dos 154 anos de vida, os vários proprietários, apesar das vicissitudes por que passa qualquer empresa do género, tenham resistido à tentação de o encerrar.
Ao contrário, o “Diário dos Açores” mantém-se vivo, pujante, aberto à livre expressão das opiniões e atuante no meio onde se insere. Na senda, aliás, de ilustres colaboradores e personalidades das áreas da política, das artes, das letras, das ciências e da economia que manifestaram as suas opiniões e conhecimentos que merecem ser revisitados pelas jovens gerações, para que sintam orgulho nos que as precederam e consolidem a sua identidade.
As presentes edições do “Diário dos Açores” denotam uma abertura à opinião dos jovens e quadros que começam a surgir, fruto de um maior acesso ao ensino superior. É uma aposta importante.
Olhando de relance à participação e integração juvenil nas instituições da nossa sociedade é fácil perceber que a classe dirigente não integra essa faixa da população. Quando o faz, cria associações subalternas que, habitualmente, não têm voz ativa na condução dos destinos dessas agremiações. É assim nos partidos políticos, na actividade económica e até nas instituições culturais que se alimentam do entusiasmo e da boa-vontade da juventude, mas não são devidamente apoiadas pelos organismos oficiais.
É de saudar a abertura do “Diário dos Açores” às opiniões diferentes e, por vezes, divergentes dos jovens sobre a sociedade futura que pretendem construir.
Há uns anos atrás, alguns diários açorianos integravam nas suas edições páginas infantis, juvenis e literárias, também com a colaboração de professores, onde vários jovens se iniciaram no jornalismo e nas letras. Recordo algumas elaboradas por alunos da disciplina de jornalismo.
A Universidade dos Açores oferece há alguns anos cursos de diferentes áreas, nomeadamente: Comunicação Social, Turismo, etc. Seria interessante que os alunos da nossa Academia marcassem presença na imprensa, divulgando a sua atividade, suas opiniões e análises sociais e manifestando à opinião pública os seus projetos, corroborados por novas teorias e novos ideais que a investigação e o avanço técnico e científico lhes proporcionam! Seria um contributo precioso para prepararmos o devir destas ilhas, cuja história reúne um precioso manancial de títulos da imprensa escrita.
Para manter os media existentes, sobretudo os que apostam na informação de qualidade e de proximidade, na divulgação das opiniões, na promoção da liberdade, da democracia e da participação cívica, da cultura, da música, etc. devem os poderes públicos encontrar formas eficazes de os manter vivos.
Ainda recentemente, 16 órgãos da imprensa regional reivindicaram mais apoios para a sua sobrevivência. Nada mais justo. Pois se eles são canais de participação cívica e democrática, esteios das liberdades individuais e coletivas, como não ser apoiados como o são outras atividades humanas, nomeadamente: a agricultura e pesas, a indústria e o comércio, os serviços, a saúde e a educação?!…
Nenhuma atividade humana, sobretudo as que privilegiam a liberdade, a transparência, a participação cívica e a cultura devem ficar de fora dos apoios estatais.
O contrário favorece a discricionariedade dos poderes públicos, a iliteracia, a ignorância, as desigualdades e injustiças.
Espero que os próximos eleitos entendam o apelo feito pela imprensa e pelos jornalistas e tomem a sério as justas reivindicações. Sob pena de, mais cedo ou mais tarde, serem os próprios cidadãos a desconsiderá-los pelos cargos que ocupam e a dispensá-los da sua representatividade democrática.
Que tal nunca venha a acontecer!
Parabéns ao “Diário dos Açores” e a quantos consideram a imprensa livre um bem a preservar.José Gabriel Ávila*
*Jornalista c.p.239 A