Carolina Ferreira é psicóloga há 10 anos e através do seu “mindset” empreendedor conseguiu dinamizar
a sua profissão de modo a ajudar as pessoas onde quer que estejam
Carolina Ferreira é psicóloga clínica há 10 anos. No início do seu percurso profissional, deparou-se com um cenário em que a sua profissão não era devidamente valorizada. Após encontrar algumas adversidades, Carolina deixa de trabalhar na função pública e decide juntar as áreas da Psicologia e coaching, criando a sua marca Carolina Ferreira – Psicologia e Coaching, cuja missão é transformar fragilidades em potencialidades.O Diário dos Açores esteve à conversa com Carolina Ferreira para saber mais do seu percurso profissional e dos seus novos projectos. Fale-nos um pouco sobre si.Nasci e cresci na ilha de São Miguel. Actualmente vivo em Lisboa e acredito que viver pelo mundo pode ser muito aliciante, por isso transformei o meu projecto num formato digital para que possa trabalhar pelo mundo e transformar também a jornada das pessoas em algo que lhes dê liberdade, que é um valor que eu acredito e para mim é primordial. A minha missão considero ser transformar fragilidades em potencialidades e acredito mesmo de olhos fechados que qualquer pessoa pode atingir os seus sonhos, desde que os faça mesmo acontecer. Nós não podemos esperar que as coisas aconteçam se não fizermos por elas. Considero-me embaixadora da coragem, porque o meu próprio percurso tem me demonstrado que com coragem e resiliência nós podemos enfrentar diversos obstáculos e podemos, sem dúvida, ir rompendo com paradigmas que sempre nos disseram que seria impossível e podemos acreditar num mundo em que nós somos co-responsáveis pela sua construção. Desta forma vamos nos tornando mais confiantes, corajosos, e vamos buscando dentro de nós mais compaixão, alegria, e vamos sendo buscadores de soluções. E assim, a minha jornada vai-me ensinando que tudo é possível se nós acreditarmos e trabalharmos por isso. Como começou a sua jornada na área da Psicologia?A minha jornada em Psicologia iniciou-se como a de qualquer adolescente com 17 anos, que escolheu entrar para a universidade. Entrei na Universidade dos Açores e de uma forma bastante ingénua escolhi a Psicologia, porque na altura as pessoas à minha volta e os meus amigos diziam “olha, acho que tens jeito para escutar os outros”. Não teria sido a minha primeira opção. Se fosse pelas minhas convicções, teria escolhido Direito, pela justiça e por um mundo mais equilibrado do ponto de vista social, mas a verdade é que concorri e coloquei em primeiro lugar a Psicologia.Quais foram as dificuldades que encontrou quando iniciou o seu percurso profissional?Saí da Universidade em 2009, ano em que Portugal atravessava uma crise profunda que fazia com que jovens recém licenciados como eu não conseguissem integrar de maneira nenhuma o mercado de trabalho e, então, tanto eu como os meus colegas fomos nos deparando com o desemprego, com trabalhos precários, com contextos em que a Psicologia não era devidamente valorizada. Em equipas multidisciplinares havia vários profissionais de outras áreas, mas não havia o Psicólogo, e isto aguçou a minha perspectiva e o meu mindset empreendedor e fui percebendo que ia ter de conseguir outras formas de arranjar o meu local e de me reposicionar. Para além disto, vários contextos onde eu passava não tinham acessibilidade para pessoas com deficiência e eu tinha também essa dificuldade, porque não havia acessibilidade nas entidades.Em 2014, fundou o Gabinete de Psicologia e Intervenção Comunitária (GPIC) da Junta de Freguesia do Livramento. O que a impulsionou na criação deste projecto?Em 2014, tive a oportunidade de fundar o GPIC. Houve esta oportunidade através de um programa de emprego, em que a Junta de Freguesia contactou-me no sentido de fazer um programa de emprego para serviços administrativos. Não seria especificamente para fazer serviço de Psicologia, entretanto, como houve esta oportunidade, e já vinha de outras oportunidades de trabalho em que vinha insatisfeita com a posição da Psicologia, propôs à Junta de Freguesia a possibilidade de criarmos esse gabinete. Nós estávamos numa época de crise e os problemas de saúde mental haviam agravado. Havia a necessidade de nós afirmarmos o papel do psicólogo. A comunidade do Livramento tinha várias vulnerabilidades que precisavam de ser cuidadas e que precisavam de ser auscultadas, e assim surge a necessidade deste gabinete. O gabinete foi crescendo e em 6 meses nós já estávamos a atender 130 utentes, o que foi um número bastante significativo de pessoas que já procuravam autonomamente um Gabinete de Psicologia Comunitário e na altura de acesso livre, porque o serviço de saúde local não tinha serviço de Psicologia acessível para todos. Actualmente, já não faz parte do projecto GPIC. Que impacto teve este projecto na sua vida a nível pessoal e profissional?O GPIC teve um impacto fundamental na minha vida pessoal e profissional, porque trouxe-me a possibilidade de me dar margem de manobra criativa e empreendedora. Trouxe-me também a possibilidade de aumento de rede de networking, de formação e trouxe-me ainda uma flexibilidade empreendedora muito grande, porque este projecto tinha a exigência de, para além da coordenação, eu é que fazia a actuação do projecto e a avaliação do mesmo, ou seja, havia aqui várias frentes que na altura eu é que as assumia e então tinha que pensar muito bem em toda a sua estruturação e fazia com que tivesse de pensar nos seus diversos papéis. Isto teve um impacto muito grande, porque depois o projecto cresceu de tal forma que foi ganhando premiações no contexto regional e nacional e foi ganhando algum destaque em termos de boas práticas em Psicologia, o que fez com que a Secretaria Regional da Saúde, creio que em 2016-2017, abraçasse esse projecto e o integrasse na Unidade de Saúde da ilha e acho que isto é bastante significativo.O que a levou a abandonar a função pública e a enveredar pelo caminho do empreendedorismo?Eu nunca deixei o caminho do empreendedorismo. Em primeiro lugar, nós temos que perceber que nós podemos empreender em qualquer contexto que nós estamos, independentemente de ser público ou privado, ou independentemente de ser um negócio ou não, porque empreender significa que nós queremos e podemos construir algo novo. E nós quando estamos em contextos quadrados que não nos deixam inovar, que não nos deixam criar, nós percebemos que nos estão a encolher e se nos estão a encolher nós temos duas decisões: ou nos deixamos encolher ou queremos crescer e vamos para outro sítio, e assim foi. A função pública não era um contexto onde eu cabia. Considero que o meu valor não se encaixava lá. Acho que os utentes não devem ser tratados como números e que as políticas em torno da Psicologia precisam de ser rejuvenescidas, que é um trabalho de equipa que necessita de actualização e que há aqui uma necessidade de reajuste e de seriedade. Tal como um serviço de Medicina e Enfermagem é tratado com seriedade e de uma forma cientificamente válida, também precisa de acontecer o mesmo nos serviços de Psicologia na área pública. Quando nós sentimos que não estamos enquadrados e que o nosso valor e a nossa ética podem ser corrompidos com determinadas abordagens, no meu caso, decidimos sair.Porque decidiu incorporar à sua marca as áreas da Psicologia e coaching? A minha marca e a sua grande missão é transformar fragilidades em potencialidades e aquilo que eu tenho vindo a fazer na área da Psicologia e do coaching é reunir ferramentas que façam com que as pessoas possam efectivamente se empoderar com tudo isto. Tenho sempre a preocupação de fazer formação nacional e internacional para que haja esta junção destas áreas. A área do coaching é integrada na Psicologia para que as pessoas percebam que há aqui toda uma validação científica, para que se atinja determinados objectivos e nós termos a possibilidade de olhar para dentro para conseguirmos observar a transformação cá fora. Isto é bastante impactante e há aqui que destacar um aspecto bastante significativo: que as pessoas gostariam que estas mudanças fossem instantâneas, mas não são. São processos demorados, são processos que requerem o seu tempo, são processos que nós temos que respeitar as nossas próprias transformações e efectivamente esse investimento que nós fazemos em nós próprios requer tolerância por nós, requer coragem e requer também abraçarmos os nossos medos.Como tem sido a procura pelos seus serviços?Tem sido bastante positiva.Que balanço faz dos seus 10 anos como psicóloga?Faço um balanço positivo, surpreendente para mim. Se há 10 anos atrás me contassem o meu percurso, eu não iria acreditar. Destacaria palavras como inovação, criatividade, ousadia, coragem, e penso que estas devem ser as chaves que todos nós, enquanto profissionais de determinadas áreas, precisamos de colocar em frente e acreditarmos no nosso próprio valor, sempre nos munindo de conhecimento, de empatia, de humildade e percebendo que vamos ter sempre muito para aprender, muito para retransformar. Estou contente, até aqui tenho outras ambições, tenho mais ambições.Que expectativas tem para o futuro? Pretende desenvolver mais algum projecto?Tenho sempre muitas expectativas, de crescimento, de inovação, e acho que acima de tudo de diferenciação. Vamos ver o que é que o futuro reserva. Recentemente, como foi apresentado na Junta de Freguesia do Livramento, no evento de aniversário do GPIC, a marca Carolina Ferreira lançou o programa Coragem de Empreender, que é um programa anual de coaching para quem queira investir no seu negócio ou na sua marca, mas sente que não tem coragem ou precisa de desbloquear os seus talentos, precisa de encontrar alguma clareza, definir intenções e objectivos, construir uma marca que lhe apaixone. Neste programa, no Coragem de Empreender, acredito que a essência do empreendedorismo é impulsionada efectivamente pela coragem e que esta força interior vai nos permitir transformar sonhos em realizações, desafios em oportunidades e fragilidades em potencialidades. E procuro desafiar empreendedores a abraçar a coragem como uma força nutris por detrás de cada passo ousado em direcção ao sucesso. É um programa anual em que criei o método genica. Este método ajuda-nos a gerar soluções e é um método que alia técnicas de Coaching, Psicoterapêuticas e de Empreendedorismo. As pessoas através do meu site (www.carolinaferreira.com) podem pedir a sua sessão de descoberta, que é uma sessão gratuita, em que eu lhes explico todo o programa e de que forma é que elas podem enquadrar-se nesse mesmo programa. E também vem aí novidades, com um projecto bastante refrescante, provocatório e que vem criar aqui algum sismo interno, dando voz à saúde mental, direitos humanos e provocando um bocadinho a nossa sociedade, mas com conhecimento de causa. Fica a dica. Não posso falar muito mais deste projecto, mas fica assim esta informação.
Nicole Bulhões