A Câmara Municipal de Lagoa, através da Biblioteca Municipal Tomaz Borba Vieira, irá assinalar, no dia 23 de Abril, pelas 14h30, o Dia Mundial do Livro, com a disponibilização ao público do fundo de José Martins Garcia, ficando o mesmo inserido na sala em que se encontra o fundo de Tomaz Borba Vieira, patrono da Biblioteca Municipal.
A inserção deste fundo é fruto de uma doação feita por Pedro Queiroz que tinha uma relação de amizade e familiar com o escritor açoriano. Na sequência desta, a Biblioteca Municipal irá disponibilizar ao público mais de 500 espécies bibliográficas da colecção particular de José Martins Garcia. O fundo é composto, na sua grande maioria, por monografias pertencentes às áreas da Filosofia, Psicologia e Literatura. Estão presentes várias obras da sua autoria, nomeadamente nas áreas da análise crítica e estudos literários sobre Fernando Pessoa, David Mourão e Vitorino Nemésio, teoria da literatura, contos, romances e poesia. Uma das obras mais antigas é datada de 1947 e é da autoria do poeta francês Jean-Paul Sartre intitulada Baudelaire. As obras estarão disponíveis para consulta ou empréstimo aos utilizadores da biblioteca na sala de leitura.
Aquando do evento, haverá uma intervenção por parte de Pedro Queiroz, mais intimista e afectiva, tendo confidenciado ter partilhado com Martins Garcia muitos bons diálogos e tertúlias. Conforme referiu, optou por doá-las à Biblioteca Municipal Tomaz Borba Vieira, na Lagoa, “com vista a preservar a ligação à terra que passou a ser sua e que tanto o inspirava. Passava sempre as minhas férias com a minha mãe e também com ele pelo que tinha contacto próximo e com o tempo passei a ser também seu amigo. O melhor legado que poderia ser feito era homenagear com esta doação à Biblioteca da Lagoa para que todos possam sentir o impacto da insularidade e formas intensas de viver os Açores”.
Segue-se uma conversa com Urbano Bettencourt intitulada «José Martins Garcia: o homem e os livros». Urbano Bettencourt, um dos intelectuais de maior destaque no panorama cultural regional, é licenciado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa e doutorado em Estudos Portugueses pela Universidade dos Açores. Na sua obra “O amanhã não existe”, resultante da dissertação que defendeu na Universidade dos Açores para obtenção do grau de doutor em Estudos Portugueses, foca em especial a inquietação insular e a sátira na narrativa de José Martins Garcia.
Nesta obra, Urbano Bettencourt refere que Martins Garcia é um “homem e autor que domina a língua portuguesa, capaz de subvertê-la, explorá-la até aos seus limites e, ao mesmo tempo, capaz de construir um imaginário surpreendente”.
José Martins Garcia nasceu na Criação Velha, ilha do Pico, a 17 de Fevereiro de 1941 e faleceu em Ponta Delgada a 3 de Novembro de 2002. Licenciou-se em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa, tendo leccionado no Liceu da Horta, na Faculdade de Letras de Lisboa e na Brown University, em Providence, nos Estados Unidos da América. De volta aos Açores, na Universidade dos Açores, foi o responsável pela introdução da cadeira de literatura açoriana, nos planos curriculares das licenciaturas em Línguas e Literaturas Modernas, da qual também foi docente. Ocupou os cargos de Vice-Reitor e foi director da revista Arquipélago-Línguas e Literaturas, tendo terminado a sua carreira académica como Professor Catedrático.
Martins Garcia é um dos mais importantes escritores do século XX, com dimensão nacional. As obras literárias da sua autoria são maioritariamente dedicadas à ficção, nomeadamente romance e conto, abordando igualmente poesia, teatro e o ensaísmo, sendo que neste domínio destaca-se a importância os seus estudos sobre Vitorino Nemésio, Fernando Pessoa e David Mourão-Ferreira.