Visualizar o mundo por de trás de uma lente fotográfica é uma das paixões de Bruno Reis, que viu nascer da mesma uma oportunidade para criar o projecto “Bruno Photography”. O Diário dos Açores esteve à conversa com o fotógrafo para desbravar que novos caminhos o esperam no seu futuro.
Fala-nos um pouco sobre si.
Chamo-me Bruno Pacheco Reis, nasci em Maio de 1985 e sou natural da vila de Capelas, onde aprendi com a família e amigos tudo aquilo que preciso para me sentir realizado. Tive uma infância humilde, mas muito feliz. Não posso deixar de mencionar o papel importante que os meus pais tiveram na construção da minha personalidade. A extroversão de meu pai e o grande coração de minha mãe, fizeram de mim o ser que sou hoje.
Não obstante, tenho de realçar uma das pessoas mais importantes na minha vida, que me ensinou a importância de respeitar os outros, a ser humilde e empático com todos os que me rodeiam, a minha avó materna, a “Tia Ludovina”.
Actualmente com 38 anos e a viver na Ribeira Grande, considero-me uma pessoa extrovertida que privilegia bons momentos e boas gargalhadas entre família e amigos. A minha vida nem sempre foi fácil e contou com desafios tremendos que nenhuma criança deveria ter que passar, mas felizmente, agora olho para esses desafios como acontecimentos importantes que contribuíram para a construção do homem que sou hoje.
Licenciei-me em 2009 em Turismo, começando por ingressar no mercado de trabalho nesta área. Após alguns anos, fui convidado a leccionar a disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica, pela nossa diocese, na Escola de Capelas. Depois de ser dispensado pela Diocese, comecei a leccionar Educação Musical no Colégio do Castanheiro.
Actualmente sou docente do pré-escolar na Escola Básica Integrada de Água do Pau e formador da área técnica em Turismo na Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada. Essa vocação de ensinar é definitivamente aquilo para o qual acho que nasci e estou destinado.
Casado há cerca de 5 anos, sou extremamente dedicado à minha família. Posso considerar que sou um felizardo, pois estou rodeado por muita gente que me ama. Resumindo, a vida já me pregou várias rasteiras, mas o que mais sobressai é o imenso apoio incondicional, amor e amizade que recebo das pessoas que tenho a felicidade de ter ao meu lado.
Como surgiu o gosto pela fotografia?
Desde muito cedo aprendi a amar a natureza e a apreciar o contacto com a mesma. Considero ser um verdadeiro ilhéu que valoriza tudo o que de mais bonito a nossa ilha nos dá.
Assim, o meu interesse pela fotografia despertou com as antigas máquinas de rolo e depois de adquirir a minha primeira máquina fotográfica, comecei a fotografar elementos da natureza e paisagísticos.
No entanto, algo faltava! Concluí que o que mais me faz apaixonar na fotografia é realmente captar emoções, sentimentos, contactos humanos!
No fundo, captar a verdadeira essência de quem estou a fotografar. Adoro captar um sorriso, um olhar, uma emoção. Conseguir captar ainda o mais belo do ser humano de forma crua e pura no seu elemento mais natural, entre a natureza, é algo que me cativa cada vez mais na fotografia.
E porque decidiu investir nesta área?
Efectivamente, não é fácil investir nesta área, até porque, há cada vez mais fotógrafos, fazendo com que a concorrência incremente.
Por outro lado, o material fotográfico é extremamente dispendioso, mas quem deseja fazer um excelente trabalho tem que investir em equipamentos fotográficos. Mas, este investimento compensa quando vejo a felicidade dos meus clientes após visualizar os resultados finais das minhas sessões.
Ajudar muitos na sua auto-estima e tornar acessíveis sessões a pessoas que talvez nunca pensaram que seriam tão fotogénicos é um ganho que paga todo e qualquer investimento.
Tenho por hábito dizer algo que não é mentira nenhuma, cobro monetariamente as sessões não para ficar mais rico, mas para investir e tornar mais ricas as sessões e resultados finais dos meus clientes.
Fotografar é deixar registado momentos determinantes e importantes na vida das pessoas. Como é deslumbrar esses momentos por detrás da câmara?
É simplesmente fantástico!
O maior prazer que tenho é acompanhar as histórias, as vivências, a verdadeira essência das pessoas que fotografo. Sinto que a câmara no momento da sessão é a cola que me une a quem estou a fotografar. Cresço com cada sessão que faço, com cada história que ouço e com cada emoção que capto.
Como exemplo disso, fotografei uma menina que tem uma doença complexa aquando da sua primeira comunhão. A menina não conseguiu, por razões de saúde, fazer a sessão na data da sua cerimónia. Apenas meses depois é que fez a tão desejada sessão. Ver o amor e dedicação daqueles pais, vestidos a rigor e a menina muito alegre com seu vestido branco num Domingo normal, entre alguma chuva e vento, foi um acontecimento que jamais esquecerei, uma autêntica lição de vida.
Fotografar alguém com cancro e que deseja com a sua sessão anunciar que está bem, mas precisa apenas do seu espaço, grávidas a quem faço sessões e depois fotografar as crianças na sua primeira sessão fotográfica, faz-me sentir que de alguma forma faço parte daquelas famílias.
Para mim, fotografar é isso mesmo: emoção e sentimento, que numa rara e complexa simbiose entre sentimento e arte, emoção e técnica, nasce o que para mim é a verdadeira magia da fotografia. E eu, simplesmente ganho muito a nível pessoal e emocional, cresço enquanto fotógrafo, mas sobretudo, cresço enquanto humano.
É possível verificar uma diversidade de trabalhos no seu portefólio. O que lhe inspira?
Como referi, tenho um amor incondicional pela natureza logo, inspira-me a relação entre o ser humano com a mesma. Mas gosto desta relação de uma forma crua, sem grandes adereços, sem grandes “maquilhagens”.
Definitivamente, a foto artística mais “crua” é a que mais me inspira. Infelizmente, considero que a minha inspiração e criatividade por vezes são demasiado grandiosas para alguma mentalidade que ainda persiste em ficar na ilha.
Conceitos como a fotografia boudoir, nus artísticos, fotos intimistas, fotos mais artísticas e “cruas” são realidades tão comuns no exterior, mas que cá, ainda são muito “condenadas” por uma parte da sociedade que não gosta de fazer, crítica quem o faz, mas que adora ver o resultado final dos outros.
Posso afirmar que umas das categorias mais visitadas na minha página de fotografia, é a categoria intimista, precisamente aquela que muitos se recusam a fazer e que acabam por condenar quem as faz. Esse é o género de fotografia que mais me inspira, pois consiste em captar o mais puro do ser humano sem distracções e adereços, tendo ali apenas a pessoa com o seu sentimento, emoção e pureza, completamente expostas e que se entregam ao momento.
Sinto-me igualmente inspirado pelas fotos que contam uma história real, seja de superação, de conquistas, de amor e/ou de uma etapa de vida.
No fundo, a minha fonte de inspiração é o próprio ser humano no seu estado mais natural possível.
Com a constante evolução das redes sociais o trabalho de fotógrafo acaba por estar em constante desenvolvimento. Como consegue manter-se a par das novas tendências?
Consigo manter-me a par das novas tendências efectuando intensas pesquisas e tentando ser o mais autodidacta possível. Sigo nas redes sociais fotógrafos nacionais e internacionais e estou inscrito em sites de fotografia internacional onde posso colocar os meus trabalhos e visualizar outros.
Tenho aplicações de fotografia onde fotógrafos de todo o mundo podem avaliar o meu trabalho e entrar em contacto comigo. Além de todas estas realidades, estou sempre atento a tutoriais e a formações online, quer seja na arte de fotografar quer seja na edição de fotografia.
Considero que estar informado é também dar a oportunidade a mim mesmo de evoluir nos meus trabalhos, mas admito que o constante desenvolvimento das redes sociais e a constante mudança das tendências no mundo da fotografia nem sempre é fácil, pois é necessário estar a par do que se faz no exterior.
Cada vez mais são as famílias que o procuraram para realizar sessões fotográficas pelo Natal. Como se preparou para estas sessões? A procura pelas mesmas tem vindo a crescer?
Cada vez mais sou procurado nas épocas natalícias para registar momentos de pura magia, pois há muitas famílias que gostam de eternizar o Natal nessas sessões. Mas antes de tal acontecer, há uma série de coisas que é necessário ter em conta, nomeadamente, criatividade para preparar o cenário de Natal, compra de adereços, acessórios decorativos adequados ao cenário em causa. Já com o cenário montado, faço a promoção das sessões nas redes sociais e envio algumas fotos do cenário às famílias que irão realizar as sessões para terem em conta as cores e vestuário mais apropriado ao cenário.
No que concerne a preços, elaboro uma série de pacotes, dando várias opções, para uma sessão de Natal seja acessível a todos, porque todos o merecem fazer.
Tudo isso não seria exequível sem a ajuda de alguns parceiros, tal como Atelier de Fotografia Silva Moura, pois a ajuda preciosa do seu proprietário Ricardo Moura é indispensável e ter um marido que colabora na preparação do cenário e durante as sessões, principalmente com os bebés e crianças.
O que representa para si o “Bruno Photography”?
Representa um sonho, uma paixão e sobretudo algo onde posso exprimir toda a minha criatividade.
O “Bruno Photography” não é apenas um projecto de fotografia, é a oportunidade que dou a mim mesmo de fugir à rotina, de colocar nas fotos a minha imaginação e sobretudo aumentar a auto-estima de muitos que consideram que as fotografias são só para quem pode ou para quem é bonito segundo os padrões de beleza que a sociedade incute. Sinto que esse projecto ajuda-me a quebrar algumas barreiras que sinto que ainda existem na nossa sociedade conforme referi anteriormente.
Não sou de todo melhor que ninguém e respeito os demais fotógrafos da nossa região, cada um tem o seu registo e penso que o meu registo é não ter registo algum!
Quais são as suas expectativas para o futuro?
Sobretudo continuar a crescer, não apenas na quantidade de sessões realizadas, mas sobretudo na técnica e arte de fotografar. Continuar a trabalhar a auto-estima de tantos e tantas que me dizem: “não tenho jeito” ou “não sou fotogénico”. Para esses, a minha resposta é sempre a mesma: a beleza está lá, apenas precisa que alguém a retrate de uma forma que não a consegue ver. Gostaria, honestamente, que acreditassem mais em mim e no meu trabalho. Muitas vezes ao propor sessões fotográficas a pessoas que se cruzam no meu caminho ou nas redes sociais, sinto vontade de lhes dizer para me darem apenas uma oportunidade de mostrar, sobretudo, o seu verdadeiro potencial. Admito que às vezes sinto-me desmotivado por certas respostas que me dão!
Pretendo continuar com as parcerias que já tenho como por exemplo com a Wolfdelivery e com o atelier de fotografia Silva Moura. Mas sonho com mais. Mais parcerias com empresas. Quem sabe pegar em açorianos comuns e fazer deles os rostos de campanhas publicitárias pois temos tanto potencial na nossa ilha subaproveitado.
Não vou desvendar todas as minhas pretensões futuras porque “boca calada faz boa sopa”, mas garantidamente, o futuro continuará a passar por fotografar pessoas no seu estado mais puro e simples, menos comercial e mais artístico!
Como crente, Deus sabe o que será melhor para mim e o que vier, simplesmente irei aceitar com um sorriso na cara e um dedo no botão de captura.
Deixo aqui o convite a todos para que possam seguir o meu trabalho através do meu sítio Web: brphotography.pt ou através das minhas redes sociais, Instagram e Facebook, com o nome brunor_photography.
Por Ana Catarina Rosa