Este ano de 2024 arranca nos Açores com a campanha eleitoral para as eleições regionais, o primeiro de três actos eleitorais que marcam o calendário político de 2024. Apenas um desses três actos eleitorais, o da Assembleia da República, não estava previsto realizar-se este ano. As regionais açorianas e as europeias teriam de se realizar em 2024, pois termina o mandato dos respectivos parlamentos. A única diferença relativamente ao calendário previsto tem a ver com as eleições para o parlamento dos Açores, cujo mandato terminaria em Outubro e que são antecipadas em oito meses.Esta alteração de calendário, que tanta celeuma está a provocar, traz no futuro vantagens evidentes. O calendário eleitoral regional passa de Outubro para Fevereiro, com claros benefícios para a Região. Não mais Orçamentos fora do tempo em ano de eleições até que o novo Governo prepare o Orçamento, com governação durante vários meses por duodécimos, com todos os entraves e consequências daí resultantes, sobressaindo nos constrangimentos a tardia actualização de salários e reformas. As eleições em Fevereiro passam a realizar-se sempre com Orçamento já aprovado nos últimos meses do ano anterior. Sem prejuízo de poder vir a ser alterado por um novo Governo eleito. Como irá acontecer agora na República.Mas, afinal, qual a razão de tanta raiva da Coligação no Governo pela antecipação, de apenas alguns meses, das eleições regionais? Será que tinham programado para os próximos oito meses uma “governação especial”, recheada de inaugurações, lançamentos de primeira pedra e distribuição de subsídios ?Em lado nenhum a antecipação de eleições por alguns meses é tratada com tanta contrariedade e dramatismo pelos partidos no poder.O que aconteceu nos Açores com o Orçamento Regional para 2024 foi exatamente o que aconteceu na República com o 2.º governo de António Costa. Viu “chumbado” em Outubro de 2021 o Orçamento de Estado para 2022 pelo voto contra dos partidos à sua esquerda, que já tinham abandonado o acordo de incidência parlamentar que os tinha ligado ao governo do Parido Socialista, a chamada Geringonça de esquerda. Aqui aconteceu o mesmo com a geringonça de direita. Em ambos os casos houve eleições antecipadasMas a nível nacional houve bom senso, sentido do ridículo e o respeito que merece a inteligência do povo português. Ninguém enveredou pelo absurdo de acusar o PSD de ter manipulado o PCP e o BE, juntando esses partidos de extrema esquerda e o PSD numa “coligação negativa”. Também é verdade que tão disparatado e ilógico conceito ainda não tinha sido inventado. Surgiu recentemente, fruto do pensamento político de José Manuel Bolieiro. Conceito rapidamente absorvido pelo presidente nacional do PSD, que na sua visita partidária aos Açores o repetiu até à exaustão, sem ter a noção do ridículo, demonstrando ter em pouca conta a inteligência do povo açoriano. Que o faça Bolieiro, é lá com ele. Mas que venha alguém de fora fazê-lo …Para que houvesse uma coligação da oposição seria necessário que após o “chumbo” do Orçamento os partidos que o rejeitaram se apresentassem ao Presidente da República com um acordo para governar firmado entre esses partidos. E nesse caso já nem haveria eleições. Seria, no entanto, uma coligação “anti-natura” que não lembra a ninguém. Da campanha eleitoral os açorianos esperam da parte dos candidatos esclarecimento sobre as propostas para a governação dos Açores, sem esquecer a questão da centralidade e o cabo submarino, sempre ausente da discussão pública. Tempo perdido foi a pré-campanha, que primou por constantes acusações da oposição à governação, e da coligação no poder a uma permanente revivência histórica negativista dos tempos em que a oposição governou. Basta de lavar roupa suja.
Teresa Nóbrega*
*Jornalista