Circo teocrático é um conceito bastante intrigante e não comum. No entanto, se considerarmos o significado literal dessas palavras, poderemos explorar a ideia de uma maneira criativa e simbólica.
O termo circo geralmente refere-se a um tipo de entretenimento que envolve artistas realizando atos de acrobacia, malabarismo, mágica, entre outros, frequentemente numa grande tenda ou arena. Já teocrático refere-se a um sistema de governo ou sociedade onde os líderes são guiados por princípios religiosos ou espirituais, ou onde a religião desempenha um papel central na governança e na vida quotidiana.
Combinando esses elementos, um circo teocrático poderia ser imaginado como um tipo de espetáculo ou evento onde as performances e os atos sejam inspirados ou fundamentados em temas religiosos ou espirituais. Por exemplo, poderia haver acrobatas representando anjos, malabaristas cujos atos simbolizam milagres, ou narrativas teatrais baseadas em histórias religiosas. Este tipo de circo poderia ser usado tanto para entretenimento como para disseminar mensagens e ensinamentos de uma fé específica.
A palavra circo também pode ser usada de forma metafórica para descrever uma situação caótica ou desorganizada, onde muitas coisas acontecem simultaneamente, muitas vezes de maneira confusa ou sem sentido. Por exemplo, pode-se dizer-se que isto ou aquilo está se tornando num circo para descrever uma situação caótica e/ou, simultaneamente, burlesca.
Teocracia, por outro lado, é um sistema de governo onde as políticas e as leis são baseadas em princípios religiosos e são usualmente interpretadas ou aplicadas por líderes religiosos. Numa teocracia, a autoridade política e a autoridade religiosa são frequentemente interligadas, e as leis do país são baseadas em textos sagrados ou doutrinas religiosas.
Sendo o Irão (antiga Pérsia) o exemplo mais ilustrativo de uma teocracia, seguido de perto pelo Afeganistão. Países aonde a religião muçulmana se tornou na verdadeira constituição baseada no Corão, o livro sagrado do Islão, considerado pelos muçulmanos como a palavra de Deus (Allah) revelada ao Profeta Maomé. O texto central na religião islâmica tem um profundo impacto na vida, na cultura e na política dos países islâmicos e com interpretações que se afastam, muitas vezes, da sua mensagem central e original.
Sendo o Alcorão um livro de fé merece, como todos os outros, respeito mas deveria ser, também como todos os outros, destinado a práticas religiosas e confessionais. Nunca como um modelo de práticas políticas que, por definição e em termos democráticos, devem ser de caráter laico.
O que leva a que os estados teocráticos ou de forte pendor muçulmano sejam, inevitavelmente, autoritários. Sendo essa uma realidade de forte e crescente implantação e que se transformou numa aliada dos movimentos populistas e autoritários. Basta olhar a situação preocupante de vários países europeus com especial destaque para a França e a Grã-Bretanha.
Do mesmo modo, as igrejas evangélicas nos Estados Unidos (e de países como Brasil) são uma parte significativa do panorama religioso americano, com inegável pendor ditatorial e populista. O evangelicalismo é um movimento dentro do cristianismo protestante caracterizado por uma ênfase na necessidade do renascimento espiritual, crença na autoridade da Bíblia como palavra de Deus, com uma forte ênfase na pregação, no evangelismo e na intervenção autoritária na política e no negacionismo científico. Basta atentar nos apoios que dão a políticos como Trump ou Bolsonaro.
O evangelicalismo nos Estados Unidos da América abrange uma ampla gama de denominações, incluindo Batistas, Metodistas, Pentecostais, Presbiterianos, e muitas igrejas independentes ou não-denominacionais. Apesar de suas diferenças doutrinárias, essas denominações compartilham crenças centrais evangélicas e são, invariavelmente, negacionistas e autoritárias.
Tudo estaria bem se os templos se mantivessem dentro das suas paredes (sejam elas mesquitas, igrejas, sinagogas, templos evangélicos, etc.). Tudo passa a estar mal, em termos democráticos e de cidadania, quando se transformam em verdadeiros circos teocráticos impondo regras discricionárias e fundamentalistas e quando montam uma enorme tenda internacional de verdadeiros espetáculos circenses.
A Deus o que é de Deus e aos homens o que é dos homens.
Antonio Simas Santos