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Um marco de informação dos açorianos há 154 anos

Hoje o Diário do Açores comemora o seu 154º aniversário e desde o início deteve como objectivo levar a todos os açorianos o verdadeiro cenário do arquipélago. Objectivo este que persiste até à actualidade.
O jornal mais antigo e diário dos açorianos foi o responsável por informar e descrever alguns dos eventos que engrandeceram a região, muitos dos quais, pela essência particular dos mesmos.

Visita Régia 1901

Um dos acontecimentos mais importantes para a Região incide na visita régia em 1901 de D. Carlos e D. Amélia aos arquipélagos da Madeira e dos Açores.
Com passagem pelas ilhas do Faial, Terceira e por fim São Miguel, este foi, sem dúvida, um dos eventos, cuja notabilidade prevalece na história da Região até aos dias de hoje, dada à singularidade do mesmo, pois estes foram os primeiros e únicos monarcas a visitar os Açores.
Inicialmente pairava a dúvida relativamente à concretização desta visita. Foi na edição de 29 de Outubro de 1900, que o Diários dos Açores, na secção “Serviço Telegraphico”, mencionava a possível visita dos monarcas às ilhas: “O sr. conselheiro Hintze Ribeiro apresentará ás câmaras o projecto de installação de serviços meteorológicos nos Açores, constando que a inauguração será feira por el-rei”. Sendo a mesma confirmada oficialmente na edição de 17 de Novembro: “ Nenhuma duvida existe já a respeito d´esta visita. (…) Para a excursão de suas magestades está já traçado o itinerário. O rei e a rainha, acompanhados de comitiva em que incorporarão, alem de damas de honor, o sr. Ministro dos obras públicas, a cujo mistério de prende a inauguração do posto meteorológico, e o sr. presidente de ministros conselheiro Hintze Ribiro, virão da Madeira, directamente ao Fayal.”
O mote à visita por parte dos reis de Portugal ao arquipélago recaiu na tentativa de recuperar a popularidade da casa real, que com o passar do tempo foi começado a esfumar-se, em grande parte pela falta de entusiasmo de súbitos e do próprio desgaste do regime. Apesar da contestação que aflorava, dado aos elevados custos envolvidos na organização deste acontecimento, a verdade é que a importância que detinha um evento desta envergadura trouxe uma grande divulgação e reconhecimento para o arquipélago.
A antecipação volvida com a chega dos reis a São Miguel foi sentida pelas informações que o periódico fazia nos dias que antecediam a mesma, com menções aos festejos que acorriam das passagens de suas majestades pela ilha da Madeira e posteriormente pelas ilhas do Faial e Terceira.
A chegada dos monarcas e respectiva comitiva a São Miguel foi destaque da edição de 6 de Julho: “Pisaram terra michaelense os soberanos portuguezes. Estamos em festas, que manifestam os nossos júbilos pela honra de uma visita há muito desejada. O facto é excepcional, e a Historia regista-o agora pela primeira vez, decorridos mais de 4 seculos depois da descoberta do archipelago.”
O momento único foi repleto de simbolismo não apenas pela presença do rei ao pisar solo açoriano bem como o ostentar do orgulho que tal acontecimento acomodava no coração dos açorianos: “Os açoreanos collaboraram na historia de Portugal em tudo que n´ella há de grande e luminoso, sulcando mares nunca d´antes navegados, descobrindo terras, avassallando povos, engrandecendo a pátria. Sabem viver resignados na humildade do seu trabalho rude, mas também sabem morrer com altivez em defesa da bandeira bicolor, que é o symbolo sagrado da nação. E´D. Carlos o primeiro rei portuguez que se abalançou a visitar os territórios insulares na legitima posse do solio real e em plena paz octaviana, no intuito único de conhecer os seus domínios e os seu súbditos.”
A contextualização dos factos pelo periódico era feita com extrema precisão, sendo as mesmas perceptíveis nas descrições dos pormenores: “A chegada dos navios era aguardada por dezenas de milhares de pessoas de todas as hierarchias, que se agglomeravam em todos os pontos, na doca, avenida Anthero do Quental, pontes, janellas, varandas, balcões, cães, largos do conselheiro João Franco, matriz e outras immediações. Em toda a extensão do muro de abrigo do porto, embarcações que se encontravam no fundeadouro, pontes, avenida, caes, edifícios particulares e públicos, fluctuavam um sem numero de galhardetes e bandeiras multicores, pendendo tambem muitas colgaduras, n´uma vivíssima nota festiva. (…) “Quando suas magestades se aproximaram atroavam os ares, alem das salvas de artilheria, innumeros foguetes que desde o terjacto de bordo se ouviram ininterruptamente estrugir e vibrantes acclamações, reunindo-se a tudo isto repiques dos tempos d´esta cidade.”
A narração minuciosa dos eventos perduraram nas edições dos dias seguintes, cujos detalhes permitiam ao leitor idealizar a sua própria presença no local.
É na edição de 18 de Julho, que vemos descritos o sentimento de gratidão dos monarcas, na despedida destes à ilha de São Miguel: “O povo michaelense já tinha muitos direitos á nossa graditão e ao nosso reconhecimento, mas o modo enthusiastico e affectuoso como temos sido recebidos desde o desembarque até este momento triste da partida, mais nos captica ainda. O povo michaelense póde estar certo de que não tem mais dedicados amigos do que eu e sua magestade a rainha.”

A despedida dos reis demonstrava o entusiasmo com esta visita, há tantas décadas idealizada, foi encarada: “Todas as multidões da cidade e dos campos, que desejaram assistir á despedida, tinham-se reunido n´ uma só massa no local e immediações do embarque. (…) Desde a apparecimento de suas magestades sobre o caes da cidade ergueram-se vibrantemente as acclamações. A rainha não pôde reprimir as lágrimas e era também visível a commoção no semblante de sua magestade el-rei. Esse mesmo sentimento traduzia-se em numerosas pessoas, que saudavam os monarchas com os lenços, quando já o escaler os conduzia a bordo do cruzador D. Carlos, correspondendo a rainha pela mesma forma e el-rei tirando o sei bonet.”
Findado este marco, encontravam-se também finalizadas as extensas partilhas dos eventos deste momento histórico para o arquipélago e para os micaelenses, que puderam vislumbrar a presença do último rei de Portugal.

Visita Papa João Paulo II 1991

Em 1991, as ilhas da Terceira e São Miguel receberam a ilustre visita do Papa João Paulo II, sendo até à presente data o único Santo Pontífice a visitar a Região.
Foi a 11 de Maio de 1991, na sua segunda visita realizada a Portugal ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima, que o Papa João Paulo II deslocou-se ao arquipélago dos Açores.
Apesar de ter sido uma passagem curta, a mesma não deixou de ser excepcional pela sua minuciosidade.
A solenidade da chegada de Karol Józef Wojtyła à Região acarretou uma comoção de exaltação e júbilo, afecções expressadas pelas chamadas de capa e noticias sobre a mesma: “A visita de Sua Santidade o Papa João Paulo II à Diocese de Angra e lhas dos Açores, no próximo sábado, representa para o povo açoriano um acontecimento sem precedentes nos cinco século da nossa história insular e, sobretudo, um valoroso momento de profundo significativo espiritual, que devemos celebrar. É a primeira vez, em tosa a história dos Açores, que o Santo Padre se desloca às nossas ilhas. Trata-se, portanto, de um acontecimento de grande importância histórica, a que o povo açoriano saberá certamente corresponder, associando-se à honrosa passagem do sucessor de Pedro por São Miguel e Terceira, com o generalizado sentimento de profunda realidade e espírito cívico que o caracterizam.”, lia-se na edição de 9 de Maio do Diário dos Açores.
Foi neste sentido que a 10 de Maio, o Diário dos Açores lançava o periódico, todo este praticamente dedicado ao Santo Pontífice. Com a manchete intitulada “Bem-Vindo o que vem em nome do Senhor!”, no mesmo formam incluídas noticias, curiosidades, testemunhos e a mensagem, do então Presidente Regional dos Açores, o Dr. João Bosco Mota Amaral: “A visita de sua santidade João Paulo II aos Açores constitui acontecimento de alta significação. Esta é a primeira vez que o Papa vem ao arquipélago. (…) O encontro dos açorianos com o Pontífice de Roma é, pois, naturalmente cordial. Para os que professam a religião católica, o Papa é simplesmente o representante de Cristo na Terra. E está tudo dito! (…) O papa é por isso credor do nosso apreço e do nosso apoio entusiástico, que certamente não regatearemos demonstrar. Seja bem-vindo aos Açores, sua santidade o Papa João Paulo II.”
A 11 de Maio a cidade de Ponta Delgada regozijava-se com um dos momentos mais efusivos e importantes da história da região, a chegada do Papa João Paulo II: “Com um notável rigor do horário estabelecido, o avião aterrou às 17.05 horas, no aeroporto de Ponta Delgada, onde o eminente visitante ao tocar terra micaelense (…) o papa cumprimentou, as quais o vieram aguardar no recinto especialmente reservado no jardim do Forte de S. Brás, onde já se encontrava a venerada imagem do Senhor Santo Cristo, cuja transferência do Mosteiro para ali encheu o Campo de S. Francisco com os acordes do hino próprio, enquanto os sinos das igrejas de S. José e da Esperança repicavam festivamente.”
Desta visita nasce o momento histórico que ficou imortalizado para os açorianos, o encontro entre o Santo Papa e a imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres: “Um frémito de emoção dominou os milhares de pessoas ali presentes quando o Papa se dirigiu para a venerada imagem do Senhor Santo Cristo – oferta do sei antecessor Paulo III – e ali se conservou em piedosa oração.”
Este encontro foi engrandecido pela singularidade de esta ter sido a segunda vez que, o andor do Ecce Hommo saiu do Coro Alto do Santuário da Esperança para a rua, sem ser durante as festas em sua honra, feito este, digno de menção: “Foi exactamente há 90 anos, aquando da visita de D. Carlos e D. Amélia, e agora na vinda do Papa, que a sagrada imagem do «Ecce Homem» saiu do Mosteiro fora do dia estabelecido pela Madre Teresa da Anunciada, data que neste cerca de três séculos tem sido rigorosamente seguida. Quer na ida quer no regresso, o andor foi rodeado pelo respeitoso interesse da população que se aglomerou em número de muitos milhares no Campo de S. Francisco.”
A verdade é que esta visita permanece e perdurará na memória dos que autora vislumbraram pessoal ou televisivamente o momento, cuja representatividade religiosa amplificou o Campo de São Francisco e todo o ensejo envolta da comoção que a visita do Papa João Paulo II trouxe à cidade de Ponta Delgada.

Bibliografia:
SILVA, Susana Serpa. “Em torno da Visita Régia de 1901 aos arquipélagos da Madeira e dos Açores”. Arquipélago-História XIII (2009): 157-176

Ana Catarina Rosa

*[email protected]

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