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O PS e a degradaçãoda política

Os últimos episódios envolvendo o PS-Açores fizeram-me atirar a memória para um outro tempo em que a política e os políticos não tinham nada a ver com aquilo a que assistimos hoje.
Os valores democráticos e éticos de então diluíram-se com o tempo político e com a entrada, em doses maciças, de militantes impreparados à procura de sinecuras públicas, desconhecendo a história do próprio partido e dos seus protagonistas.
Jaime Gama, Angelino Páscoa, Martins Goulart, João Luís de Medeiros, Francisco Macedo, Conceição Bettencourt e muitos outros nomes que honraram a história do PS-Açores fazem hoje parte de uma galeria de senadores socialistas que deixaram um legado histórico recheado de valores éticos e republicanos, como então era timbre dos grandes políticos.
Não me esqueço de um episódio ocorrido nos anos 80, quando Jorge Nascimento Cabral e eu juntamos Jaime Gama e Mota Amaral no saudoso restaurante Boavista, nos Bairros Novos, numa sala prontamente preparada pelo sempre prestável Sr. Serafim, para um almoço-debate entre os dois líderes históricos, publicado no Correio dos Açores daquela altura.
Debatemos sobre os assuntos políticos de então, mas o mais proveitoso foi a lição humilde e pedagógica de ambos, ao discorrerem sobre os valores éticos e o carácter político de cada um deles. Apesar de adversários políticos, trocavam elogios sobre o trabalho de cada um.
É um filme improvável nos dias de hoje, em que todos se insultam e se atacam, sem procurar consensos, mesmo com as divergências programáticas e ideológicas que possam existir.
Um bom líder não é o que ataca melhor o outro; pelo contrário, é aquele que procura os pontos comuns mais positivos, com vista a fazer pontes em prol do interesse dos cidadãos.
Não é isto que temos visto no PS-Açores de hoje, que se apresenta – surpreendentemente – mais radical do que Pedro Nuno Santos, que até já admite viabilizar um governo minoritário de Luís Montenegro.
Vasco Cordeiro abraçou uma estratégia precipitada e quando recorda que o PSD errou em 2020, ao não viabilizar um governo minoritário do PS, o que está a dizer é que comete o mesmo erro em 2024, numa espécie de vingança política que não fica bem a nenhum partido.
Os tempos de hoje são diferentes, é verdade, mas os valores e o carácter irrepreensível da seriedade política deviam prevalecer sem hesitações.
É, por isso, verdadeiramente surpreendente ver hoje o PS-Açores a assumir estratégias políticas suicidas, autodestruindo-se e alimentando uma disputa política muito longe dos interesses da Região e do seu povo.
O PS-Açores escolheu uma narrativa errada em termos eleitorais e até promoveu a candidatura de autarcas como isco eleitoral nas regionais, traindo os eleitores de forma descarada e descredibilizada.
A atitude dos presidentes de Câmara da Lagoa e da Povoação é o grau mais medíocre da política e da tal ética histórica que este PS não soube herdar.
Enganar os eleitores por duas vezes é descredibilizarem-se a si próprios e ao próprio partido.
Se algum deles tinha ambições políticas, o melhor que fazem é terminar o mandato, regressarem às suas vidas profissionais e nem se atreverem a ocupar o lugar no parlamento, para não ficarem ainda mais descredibilizados.
Este episódio degradante só revela a urgência em alterar a podridão do sistema eleitoral que os partidos impingiram aos cidadãos, criando privilégios aos profissionais da política e gozando com os eleitores.
O PS está a atravessar uma crise profunda de reencontro com a sua história e mete pena ver o Dr. Vasco Cordeiro terminar a sua carreira política envolvido nestas estratégias de terra queimada.
Em vez de sair pela porta grande, com a dignidade que deveria merecer, corre o risco escusado de sair pela porta pequena sem honra e sem glória.
O PS-Açores é um dos pilares políticos da nossa região que não se pode dar ao luxo de afundar os seus valores em nome de oportunismos de circunstância e de se deixar amarrar pelo ditame dos que, em Lisboa, congeminam a melhor forma de se aproveitarem da fraqueza regional em benefício das suas estratégias pessoais e políticas.
Acreditamos que a história prevalecerá e o PS-Açores saberá reerguer-se desta confrangedora travessia estratégia tão mal aconselhada.

O regresso do bom senso?

Dos responsáveis do Chega-Açores já ouvimos tudo e o seu contrário.
Nota-se uma certa imaturidade e inexperiência política nas suas posições pós-eleitorais.
Da euforia da eleição de cinco deputados – dois dos quais pelo círculo de compensação -, até à saída da audiência com o Representante da República, o Chega transfigurou-se como do dia para a noite.
Entrou a exigir a sua presença no governo e a saída do CDS e PPM da coligação, e saiu do Solar da Madre de Deus a falar de “estabilidade governativa”!
José Pacheco devia explicar como conseguiria passar um governo formado pelo PSD e pelo Chega, quando a soma dos dois (28 deputados) não atinge a maioria absoluta. Precisaria sempre dos três votos do CDS e do PPM, tão simples como isso.
Muita água vai correr até 10 de Março e todos já percebemos que as eleições nacionais estão a condicionar todos os partidos nos Açores.
Não fosse este ‘ruído nacional’ e o problema já estaria resolvido, provavelmente até com a própria coligação a tomar a iniciativa, como fez há três anos, de procurar consensos parlamentares, em vez de se isolar no Palácio de Santana.
A estratégia da coligação de ‘esticar a corda’ é arriscada, mas não deixa de ter algum sentido político, porquanto o PSD é o único partido que poderá tirar vantagens de novas eleições.
Muita gente ainda não deu por isso, mas se esta legislatura terminar abruptamente, a coligação desfaz-se, porque terminam as duas legislaturas previstas no acordo de coligação.
Para alívio de muitos sociais-democratas, o PSD ficaria livre para se apresentar sozinho às próximas eleições.
Resta saber se Bolieiro iria na cantiga, deixando mal os seus parceiros de coligação, ele que deixou bem vincado à saída da audiência na Terceira que é “um político leal”.
Mas há, ainda, uma outra curiosidade interessante a ter em conta e que ninguém ainda falou dela: é que os Presidentes do Governo regional só se podem candidatar por três mandatos.
Ora, Bolieiro já governou um mandato (mesmo que não tenha terminado), vai entrar agora no segundo e, se não for viabilizado, conta como o segundo, podendo depois acontecer o mesmo numa terceira tentativa. Teríamos, então, este absurdo legal, que é um Presidente do Governo ter governado três anos e uns meses cumprindo os três mandatos. Mais um disparate, entre tantos outros, que precisa de ser corrigido no nosso sistema.
O pó vai assentar depois de 10 de Março e o mais certo é que regresse o bom senso político, em nome da Região e dos seus cidadãos, que vão enfrentar um ano duro com o abrandamento da economia (descida da actividade económica, aumento da inflação, aumento do desemprego, descida do turismo) que, aliás, já se começa a sentir.
É bom que as forças políticas se foquem menos na política, a partir de 10 de Março, e apontem baterias ao desempenho do PRR e dos fundos comunitários, que vão ser fundamentais para contrariar o cenário pouco favorável da economia regional, nacional e internacional.
Tudo uma questão de bom senso.

Osvaldo Cabral
[email protected]

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