Se a anterior legislatura foi abruptamente interrompida com o chumbo do plano e orçamento da região para 2024, deitando por terra a estabilidade construída ao longo de três anos de governação complexa, herdando um conjunto de problemas estruturais e “de regime” e procurando – nem sempre da melhor forma, reconheça-se… – dialogar e encontrar consensos para a implementação das diversas políticas sectoriais, as eleições regionais antecipadas tiveram o condão de clarificar.
Desde logo, esse era o principal objetivo: sufragar os três anos de governação da coligação PSD/CDS/PPM, legitimar (ou não) as soluções apresentadas e perceber, junto do decisor único – o eleitor – o que efetivamente pretendem os açorianos para a próxima legislatura.
As conclusões, simples e claras, apontam para a perceção de que os três partidos que, já em 2020, tinham assinado acordo para duas legislaturas, as cumpram. E cumpram com a possível tranquilidade, com a gestão de momentos e de silêncio, da comunicação ativa e passiva, de boa e eficaz comunicação interna entre todos os responsáveis e departamentos governamentais, evitando assim momentos menos conseguidos como os sucedidos em várias circunstâncias da anterior legislatura.
A gestão interna e a direção estratégica da comunicação são dois aspetos essenciais que, se não devida e atempadamente acautelados, poderão voltar-se, qual efeito de “boomerang”, contra boas políticas, boas práticas e bons protagonistas.
As eleições de 4 de fevereiro apontaram um caminho claro. Mostraram ao Partido Socialista e ao seu líder nos Açores que a “lição” da perda de maioria absoluta, em 2020, tinha continuidade, e que era necessário que Vasco Cordeiro e o PS tirassem ilações políticas evidentes e consequentes.
Mas deixam à coligação, para lá da óbvia responsabilidade da continuação do trabalho iniciado há quase três anos e meio, a necessidade de uma disponibilidade absoluta para o diálogo, a concertação e o profundo respeito por todos, em todos os momentos e em todos os locais.
Deixam também aos seus deputados a acrescida missão de um trabalho íntegro e integrado, em todas as matérias e sobre todas as soluções. Importa que esqueçam a retórica fácil do contraditório, e que passem uma imagem de entrega, conhecimento e dedicação que ultrapasse as querelas das bancadas partidárias e se concentre na efetiva procura de soluções duradoiras, estruturantes e de regime para uma legislatura que se prevê desafiante.
O cidadão estará ainda mais atento a todos e a todas. Um mandato na ALRA, longe de ser uma carreira (para alguns, infelizmente, ainda é…), é uma missão que a honra e o respeito pelo eleitor tornam única e indissociável do verdadeiro espírito de autonomia democrática que os Açores devem continuar a trilhar.
O novo Governo é, claramente, uma continuação do anterior, com cirúrgicas alterações de titulares e mudanças de orgânica.
Se não há surpresas quanto aos Secretários Regionais e respetivas pastas (mesmo com Paulo Estêvão nos Assuntos Parlamentares quando, em novembro de 2020, o líder do PPM Açores recusava a possibilidade de integrar o GRA, jurando fidelidade ao seu “habitat” natural no hemiciclo da Horta…), a nomeação dos Diretores Regionais – que se sucederá e que é sempre alvo de acordos previamente estabelecidos entre os três parceiros da coligação – é determinante para a boa execução das políticas governamentais.
Na Cultura, por exemplo, e durante quase ano e meio, esteve, no anterior governo, o pior DR da história autonómica (curiosamente por imposição de Paulo Estêvão, que nunca soube ou quis escutar todas as queixas, de todos os quadrantes…). E um Governo que não reconhece a área cultural como prioritária, limitando-se a um casual pacote de opções, está à partida a desbaratar um dos seus maiores trunfos, de respeito e com respeito a todos os agentes culturais que em muito valorizam os Açores aquém e além-fronteiras da região e do país.
No Desporto é essencial alguém que corporize uma verdadeira revolução nos sistemas de apoio e intervenção pública em relação ao alto rendimento, ao rendimento regional, ao desporto de formação e à sua interligação com a comunidade escolar e educativa. Apostar em resultados de topo, sim, mas com a devida correspondência e sustentação na base de toda a prática.
Na Ciência, nunca ficaram exatamente claras as relações entre a região e a Portugal Space, dando a sensação que as intervenções a propósito do Porto Espacial de Santa Maria foram quase sempre ditadas por necessidades de ocasião, “soundbites” diplomáticos e pouca capacidade efetiva de ação. E a capacidade internacional dos Açores no setor aeroespacial, com um forte alicerce na localização geográfica de excelência do arquipélago, requerem medidas mais concretas, mais específicas e mais estruturantes.
É da conjugação de todo o edifício governativo, alicerçado numa gestão coerente de imagem exterior, comunicação institucional, comunicação interna e relação com os “media”, passando pela articulação e responsabilização da ação dos deputados à Assembleia Legislativa Regional, e pela definição de políticas sectoriais efetivas, coerentes, racionais e verdadeiramente impactantes na vida dos seus destinatários, que resultará a qualidade da ação política dos próximos quatro anos.
A pensar nas pessoas, nos cidadãos, nos Açorianos nativos e residentes.
A pensar e a resolver problemas todos os dias.
Só assim valerá a pena.
Rui Almeida*
*Jornalista