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Contar as estrelas

Há mais de um mês que ando ansiosa por escrever. Submeti esse desejo a um longo período de maturação porque, se é verdade que fui bastante inconsequente nos meus verdes anos, hoje em dia gosto de pensar antes de mandar ao ar uma reflexão eventualmente polémica.
Vai ser hoje. Não sou (se calhar, felizmente) influencer, nem a minha opinião tem grande importância mas decidi abrir o meu jogo com quem me lê, goste ou não goste daquilo que penso.
A política, no geral, é uma coisa complicada para mim. Já sonhei com um mundo melhor e cheguei a pensar que o poder político pudesse contribuir para isso. Hoje, tenho a certeza que não.
Neste momento, em todo o mundo, vivemos uma crise de valores, de ideais, de princípios e de visão de futuro. E a responsabilidade está claramente no poder e nas instituições que deveriam ser o garante da democracia. Temos uma pátria á deriva, um país sem rumo e sem ideal.
Vou pensar por escrito, de forma sucinta mas muito clara, sobre as coisas que me repugnam neste momento:
Cada partido político envolvido nesta campanha eleitoral está preso ao seu ideário partidário. O interesse pelos eleitores percebe-se que é circunstancial e falso. Pretende apenas o voto. Isso não se faz com crianças quanto mais com eleitores adultos.
Da extrema direita á extrema esquerda o discurso político esta desastroso: fala-se de coisas sem qualquer interesse, promete-se um mundo cor de rosa que não existe, vive-se no despeito pelos rivais, pela falta de clareza, pela incoerência. Um professor que falasse assim para os alunos, seria exonerado no mesmo dia. O discurso político está baseado na mentira na difamação e num total “ non sense”.
É esta gente que quer governar Portugal. É esta gente que nos está a pedir para votar.
Estive já muito certa de que queria votar e até sabia onde. Passei a indecisa e hoje estou totalmente descrente. Não vejo um único candidato com perfil para governar um país. Não acredito em entendimentos porque o egoísmo partidario nunca permitirá que dois partidos se entendam em tudo o que é essencial para o país neste momento. Há formas bonitas de fazer coisas, há entendimentos muito interessantes, há pessoas lindas neste mundo. Mas não são os políticos.
Já sabemos demasiado sobre este ato eleitoral: muitas sondagens, programas de televisão, comentadores em todas as esquinas, cenários diários do futuro de um país sem presente.
Ouvir rádio e ver televisão passou a ser um exercício de resistência. Toda a gente opina “como se já tivesse sido” afirmando que as projeções são a nova realidade.
Nos Açores há um governo que pode não resistir, uma vez que está dependente da boa vontade dos outros. E, a qualquer momento, podemos voltar a novas eleições. Em todo o país. Porque os políticos estão piores que as crianças. Para além de estarem a ser um péssimo exemplo para as gerações vindouras. Mas dos Açores ocupar-me-ei um dia destes com mais calma.
O mundo está em guerra, as pessoas comuns estão a ter dificuldade em fazer face às responsabilidades do dia a dia e os políticos estão entretidos a jogar uns com os outros o perigosíssimo jogo do “faz de conta”. Estou infinitamente triste. Não por mim, que já não terei muito tempo de vida, mas por aqueles que sucederem a esta gente sem vergonha, sem humildade e sem rumo que só perdoo porque assumo que não estão bem. Mas deviam ter-se tratado antes.
Não estou, creio eu, a dizer nada de novo mas nem toda a gente tem acesso às redes sociais. Mas há muita gente com ideias, triste como eu, perante tudo o que temos vindo a saber.
Ouço diariamente notícias, leio jornais, ouço podcasts e estou nas redes mas também falo com pessoas, escuto os seus anseios e lutas e percebo nelas uma descrença parecida com a minha. Não estaremos todos enganados, creio eu.
Pela minha parte vou passar o dia 10 de março a contar as estrelas.

Gabriela Silva

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