“O objectivo é a aprendizagem dos gestos técnicos fundamentais e a sua interligação nas situações de jogo, tendo em vista a melhoria do próprio jogo. O comportamento motor e a evolução técnico-desportiva é fundamental para a liberdade de escolha dos alunos nos desportos em que deseja fazer o seu aperfeiçoamento desportivo.”
A conquista da Autonomia Regional permitiu aos Açores criarem as suas próprias instituições da administração pública, nas diversas áreas de intervenção consideradas fundamentais na governação regional. O Dr. José Reis Leite, prestigiado professor do ensino secundário, foi indigitado para assumir a liderança da Secretaria da Educação de forma a dar resposta às necessidades educativas das crianças e dos jovens açorianos. Uma tarefa difícil numa região insular constituída por nove ilhas, com diferenças substanciais umas das outras. A regionalização foi o grande problema político do 1º Governo Regional.
Quando se iniciou o estudo da Lei Orgânica da Secretaria Regional da Educação e Cultura foram postas à consideração duas opções quanto ao Desporto. A primeira apontava para a criação de uma Direção Regional responsável pela educação física e pelo desporto escolar, pelas actividades das ex-Delegações da Direção Geral dos Desportos (Angra do Heroísmo, Horta e Ponta Delgada) inseridas no âmbito do Plano Nacional de Desenvolvimento Desportivo, assim como, pelo apoio à organização das estruturas associativas regionais. A segunda opção, separava a educação física e desporto escolar e localizava-as na Direção Regional da Orientação Pedagógica. Ponderadas as duas opções e depois de profundamente analisadas chegou-se à conclusão que seria mais rentável a criação da Direção Regional da Educação Física e Desportos (DREFD), abrangendo todas as actividades desportivas desde o ensino (educação física) à competição (desporto escolar, associativo e federado). Nesta opção aparece um sinal de autonomia, pois esta opção não existe a nível nacional. Por outro lado, sabemos que a base de sustentação de qualquer sistema desportivo, seja em que país fôr, está assente no ensino-aprendizagem do desporto e nas respectivas competições ao nível escolar.
As Etapas da Formação Desportiva
A criação da Direção Regional de Educação Física e Desportos foi uma pedrada no charco a nível nacional. Nunca existiu nada semelhante no país. O ensino desportivo na escola começou a ser entendido como uma etapa fundamental no percurso da valorização humana através da actividade desportiva. A separação entre a disciplina de educação física, o desporto escolar e o associativismo desportivo desapareceu. Passou a ser um processo contínuo na formação desportiva com início na Escola Primária (1º ciclo do Ensino Básico), orientado na Escola Preparatória (2º ciclo do Ensino Básico) e aperfeiçoado na Escola Secundária, em sintonia com o Clube Desportivo Escolar, o associativismo desportivo local e o apoio das autarquias. Nesta perspectiva, a 1ª Etapa da Formação Desportiva deve ser realizada nas Escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico e ter como principal objectivo o desenvolvimento motor das crianças através da aquisição de habilidades motoras, do domínio das corridas, saltos e lançamentos, da aprendizagem da natação, jogos tradicionais, danças regionais e da iniciação aos jogos pré-desportivos. As actividades curriculares e extracurriculares são efectuadas na própria escola e os pontos altos concretizados com a participação das diferentes escolas a nível concelhio com a colaboração das respectivas autarquias. A 2ª Etapa da Formação Desportiva será desenvolvida no 2º Ciclo do Ensino Básico através do ensino desportivo de diferentes modalidades (individuais e colectivas) por ciclos de actividade e de acordo com os espaços desportivos existentes. O objectivo é a aprendizagem dos gestos técnicos fundamentais e a sua interligação nas situações de jogo, tendo em vista a melhoria do próprio jogo. O comportamento motor e a evolução técnico-desportiva é fundamental para a liberdade de escolha dos alunos nos desportos em que deseja fazer o seu aperfeiçoamento desportivo. Os Jogos Desportivos Escolares são o ponto alto das actividades curriculares a nível local, ilha e regional e, como tal, devem ser as actividades previstas no âmbito do desporto escolar. A 3ª Etapa da Formação Desportiva está direcionada para o aperfeiçoamento desportivo. Deve ser organizada e desenvolvida no 3º ciclo ciclo do ensino secundário e deve contribuir, de forma decisiva, para a formação do Clube Desportivo Escolar. Por sua vez, o CDE pode e deve colaborar na organização das actividades internas da escola e participar nas competições regulares das associações de modalidade existentes em cada ilha.
O Clube Desportivo Escolar
Numa região como os Açores, com uma acentuada descontinuidade territorial, verifica-se que existem imensas escolas que vivem num isolamento contagiante, que condiciona o desenvolvimento dos jovens em diversas áreas, com enorme realce no desporto, por não existirem agremiações vocacionados para a prática desportiva. Contudo, acreditamos que as Escolas, desde que devidamente motivadas e apoiadas, sãoas entidades que melhor podem ultrapassar estes constrangimentos de maneira a transformarem-se no motor de desenvolvimento da comunidade circundante. Neste contexto, a criação do Clube Desportivo Escolar, integrado na estrutura das Escolas Secundárias e das Escolas Profissionais, pode ser uma resposta adequada e portadora de futuro para o desenvolvimento desportivo da respectiva comunidade. O CDE deve ter uma estrutura orgânica simples e funcional composta por professores, funcionários, alunos e eventualmente encarregados de educação que se voluntariem para colaborar. É uma opção educativa de cada escola, de preparação para a vida associativa em cada comunidade, quer se trate duma freguesia, concelho, vila, cidade ou ilha. Não é uma associação criada para substituir os clubes, mas sim um organismo vocacionado para semear desporto junto da população escolar com natural reflexo nas estruturas comunitárias, em benefício de futuros clubes ou outras agremiações que possam nascer a partir do associativismo local. É uma primeira forma de associativismo dos adolescentes, através do desporto, na organização do seu futuro. Uma nova fornada de dirigentes desportivos, e não só, que irão progressivamente conquistando espaço de actuação nas diferentes instituições desportivas, culturais, educativas, científicas ou da própria comunicação social. Organizar o futuro da nossa juventude através do desporto, aproveitando a atração que ele exerce sobre as crianças e adolescentes tirando partido da sua popularidade à escala mundial. O desporto é actualmente uma das actividades humanas de enorme prestígio na sociedade contemporânea e aquela que congrega maior número de pessoas à sua volta. Tem a capacidade de organizar grandes eventos regionais, nacionais, continentais e internacionais com transmissões directas pela televisão. Nenhuma outra actividade humana possui tanta cobertura mediática. A herança de Reis Leite deu um passo gigantesco ao regressar à Secretaria da Educação, desde que seja recuperada a Direção Regional de Educação Física e Desporto. Caso contrário estamos a cometer um erro de palmatória porque não foi esse o caminho que Reis Leite nos ensinou.
Eduardo Monteiro