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Visto deste lado do Rio Atlântico*: Será o Santa Clara de todos os Açorianos?…

“Começo por dizer que me choca muito quando vejo açorianos a aplaudirem outras equipas que não o Santa Clara. E eles são adeptos do Benfica, do Sporting e do Porto. Berram por estas três equipas como se elas estivessem ali, à porta deles.”

Enquanto futebolista, defrontei, na minha juventude, o Santa Clara. Nos juniores, joguei contra o Mariano, o José António, o Arménio, o Francisquinho… nos seniores bati-me contra o Augusto Moniz (já em fim de carreira), Fernando e José Costa Pedro, contra o Narciso (por sinal veio a ser meu cunhado), contra o Malaco, entre outros. Nessa altura e apesar de ser vermelho por dentro e por fora, o Santa Clara – visto então como o Benfica de São Miguel – era a equipa a abater. Porque era o clube mais poderoso da ilha e ganhava assim mais vezes; algumas vezes, na perspetiva dos lagoenses do Clube Operário Desportivo, com a mãozinha dos árbitros… Na minha época, os juízes eram quase todos oriundos de Ponta Delgada… E os poucos que eram da Lagoa, como o Guilherme Fragoso (antigo jogador fabril), não podiam dirigir um jogo em que estivesse em campo a formação da agora cidade dirigida pela presidente Cristina Calisto.
Arreigado como estava ao clube do meu concelho, escusado será dizer que os meus olhos (e coração) só viam as cores do Clube Operário Desportivo. Porém, como desportista, era capaz de admirar outros clubes por via das suas proezas, como aconteceu com o Marítimo Sport Clube, na sua época áurea – princípios dos anos 70 – quando ganhou tudo o que havia a ganhar nas provas micaelenses.
Mas com quem eu não podia mesmo, era com o Santa Clara. Por isso, nos jogos Operário x Santa Clara, eu, e creio que os meus companheiros também, jogava sempre de dentes cerrados, tal era a «fúria» de vencer o forte clube de Ponta Delgada.
Emigrei para o Canadá em março de 1975, graças à Revolução de Abril de 74 e a uma perna fraturada num Operário x Provimi, em jogo a contar para a Taça de São Miguel, ou Taça de Honra, já não me lembro bem, competições que permitiam juntar os clubes das Primeira e Segunda Divisões, como naquele caso.
Logo que cheguei ao Canadá, comecei por me implicar socialmente na comunidade portuguesa. Comecei pela Associação de Ste-Thérèse, por influência do Luís (Favela) Martins, lagoense como eu e elemento preponderante na comunidade daquela cidade, a 30 quilómetros de Montreal
Dali transitei rapidamente para várias organizações da comunidade portuguesa de Montreal, como o Centro de Referência, o Luso Stars, a Radio Centre-Ville, a Casa dos Açores, A Voz de Portugal… entre muitos outros.
Mas foi pelo meu engajamento com a Assocation de Soccer Concordia, e de seguida pela Fédération Québécoise de Soccer que cheguei ao contacto com o Grupo Desportivo Santa Clara, enamorando-me por acréscimo.
Determinadas em organizar um torneio de futebol internacional, as entidades futebolísticas quebequenses logo me propuseram para eu tratar da vinda de um clube português a Montreal.
Depois de muitas peripécias, – que só elas davam para outro artigo – fui até Ponta Delgada contratar o Santa Clara. O presidente na altura era o conhecidíssimo eng. Dionísio Leite.
Foi, no verão de 1980 que o Santa Clara participou, pela primeira vez, num torneio internacional de futebol, como se fosse uma equipa de primeiro plano. Nessa época, o Santa Clara tinha acabado de descer da Terceira Divisão Nacional, acabada que fora a sua primeira participação numa competição de cariz nacional.
Ainda me lembro de alguns dos seus jogadores, alguns tinham sido meus adversários nos Açores, como sejam o malogrado Laudalino (o da Lagoa e ex-Operário), o Pedro Paulo, Francisquinho, Fonseca, Xalim, Pedrinho, Melinho… O treinador era o João Flores, que por causa do torneio ficou nosso amigo até morrer.
Até 1980, o Santa Clara quando vinha ao continente norte-americano alojava os seus atletas em casa de famílias, de seus antigos jogadores ou de simpatizantes. Para o torneio de Montreal, formado por seis equipas internacionais, o Santa Clara teve direito a hotel, ginásio e campo para treinos, com autocarro à porta, isto sem falar noutras mordomias…
Não ganhou o torneio, que foi parar às mãos, aos pés, diria melhor, da Seleção Nacional de Haiti, mas o Santa Clara, com as suas excelentes exibições deixou cartel, com jogadores como o Xalim – esteve excecional! – , Pedro Paulo e Francisquinho a merecerem igualmente fartos aplausos.
Também aqui, a história está por fazer… Porventura um dia me porei a escrevê-la!
Finalmente, o emblema e o equipamento…
Tenho lido neste jornal, e noutros, que o Santa Clara é de todos os açorianos, incluindo os que vivem na diáspora.
Ora, do meu ponto de vista, isso não é verdade. Pois basta assistir a um jogo do Santa Clara, quando está na Primeira Divisão, pela visibilidade ser maior, para não dizer única, para confirmar essa triste realidade.
Começo por dizer que me choca muito quando vejo açorianos a aplaudirem outras equipas que não o Santa Clara. E eles são adeptos do Benfica, do Sporting e do Porto. Berram por estas três equipas como se elas estivessem ali, à porta deles. E quando se lhes coloca a questão da preferência, atenção que podemos ser mal tratados. Então, o melhor é estar calado.
Depois do que fica dito, não compreendo como é que santaclarenses de todos os instantes ainda hesitem quando há vestígios de mudanças na forma do Santa Clara passar a ter identidade própria. E isto não passa apenas pelo emblema, caros amigos. Tem de passar igualmente pela cor do equipamento, de maneira que aí sim, todos os açorianos se possam rever nele, sejam sportinguistas, portistas ou mesmo os benfiquistas, estes habituadíssimos a ver o vermelho da equipa que gostam e que tem sede em Lisboa.
Por experiência vivida, não raras vezes sou confrontado com o facto de «como posso ser do Santa Clara, eu que sou verde?» Os que gostam dos azuis do Norte alegam a mesma coisa.
Para que se mude esse estado de coisas, o emblema tem de ser mudado, como parece que vai agora acontecer.
Mas para que todos os açorianos, de S. Miguel ao Corvo, passando pelos ferrenhos adeptos terceirenses, que durante muitos anos dominaram o futebol da nossa terra, e acabando nos da diáspora, o Santa Clara tem de ter um equipamento diferente do atual, isto se quer entrar uma vez por todas no coração de toda a nossa gente.
A terminar, que o texto já vai longo, diria que o amarelo, azul e branco dariam uma camisola das mais bonitas de todo o panorama futebolístico nacional. Com esta tomada de decisão, TODOS!, sportinguistas e portistas, que é onde está o problema maior, veriam o Santa Clara como sua equipa. E que continuassem a ser adeptos dos seus «Grandes».
Falaciosa a nossa proposta? Olhem que não. Não é o próprio Benfica que usa equipamento alternativo a léguas da sua cor principal?

*Rio Atlântico, definição do Oceano Atlântico da autoria do Professor Onésimo Teotónio Almeida.

Norberto Aguiar

14/03/2024

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