se sair – não volto mais
e amordaço a memória para não haver saudade
de regressar ao mesmo lugar
onde se julgou ser feliz
as rotas delineadas pelo destino
conduzem-nos a sítios desconhecidos
a encruzilhadas
e subimos encostas descemos montanhas
e encontramos pelo caminho
amigos que mais tarde nos são estranhos
e um roseiral ondulando rosas
sibilando no vento a voz dos mortos
a família que amamos se desagrega
e desaparece na contagem dos anos
que fazem envelhecer e levar todos
aqueles que connosco na vida caminharam
desfazem-se os nós da malha tecida
desse alvorar de quando éramos novos
e ao olharmos para trás – esse caminho trilhado –
se houve amor – houve mais enganos
e perto do fim
uma luz vem quebrar-se
entre o silêncio e a nudez em que nos transformamos
fantasmas a repousar em astros iluminados
e que deixaram de brilhar
e vogam à volta de cometas adormecidos e gelados
- enquanto outros se ajoelham nas lajes de uma igreja
e rezam neste tempo de incerteza
onde se celebra com fé o domingo de páscoa - Victor de Lima Meireles