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“Entrevista (Parte II) ao Professor Luís Miguel Almeida, que afirma que a Escola

“É um espaço-tempo onde o despertar para os mistérios e os segredos do mundo deve ser estimulado e potenciado.”

(Entrevista, Parte II)
Esta é a Parte II da Entrevista, estruturada, e realizada ao Professor Luís Miguel Almeida, cuja Parte I foi publicada na Edição do dia 12 deste mês de abril de 2024, na página 9, com chamada à primeira Página.
Nesta edição publicamos uma Parte II.
Visando recuperar a leitura e contribuir para assegurar a continuidade e unidade da Entrevista, no seu todo, retomamos, aqui o que escrevemos na edição anterior, mas com uma Introdução ampliada.
No conjunto, interessou-nos formular questões que se prendem, entre outros, com aspetos do Curriculum Vitae do nosso Entrevistado, o Discurso na Primeira Pessoa. Neste fluxo coloca-se a relação que a própria investigação científica demonstra na relação, que há, entre a Pessoa e o Profissional que somos. Ninguém é bom Professor fora da Pessoa que é. E essa realidade devia estar, aliás, mais presente na Formação Inicial e Contínua de Professores, que não deviam entrar no exercício profissional – profissionalizados, ou não -. sem prestarem uma Prova Pública, teórica e prática, – com perguntas da plateia, à semelhança do que devia acontecer noutras provas (com noutros países) – e também nas Regiões o deveria ser – uma Prova, eliminatória, sobre deontologia educacional e profissional. Estudos sobre Deontologia Educacional e Profissional estão bem patentes em Investigação de Alta qualidade Humano-Científica, em profunda Reflexão, produzida por Professores e Filósofos da Educação, do melhor que tivemos – e temos –, desde logo em Língua Portuguesa. Prova essa que se devia estender-se aos Responsáveis Políticos. Numa Entrevista de Educação a Filosofia da Educação deve estar presente, de modo explícito, ou implícito. Urge viver e estudar em Educação sob o Signo da procura da verdade e da liberdade, em Responsabilidade. Entrevistar é afirmar e perguntar. Com uma entrevista estruturada, (citável, com rigor), ganha-se em sistematicidade o que se pode (depende) perder em espontaneidade, que flui numa entrevista aberta, não estruturada (mas que deve, sempre, ser devolvida, para validação). Heidegger afirma que “o perguntar é a devoção do pensar”. Mas temos uma escola proposicionalista (de meras respostas, nocionais, para debitar e deitar fora) ou, também, e principalmente, uma escola questionadora, para, também, ajudar a desvelar “os mistérios e os segredos do mundo”, nas palavras do nosso entrevistado.
Edgar Morin tem defendido que é preciso educar os educadores, mas, digo, de todos os níveis de ensino. Quem forma quem forma, se, até, pode deformar!, seja em que instituição educativa for? Só no perguntar, em dialética dialógica, – sem prescindir das respostas, em dinâmicas – se forma e ensina com Sabedoria, mais, com Sageza. Outras questões foram colocadas: o (in)sucesso escolar, tema recorrente, numa altura em que o próprio termo deve, talvez, ser questionado. Sucesso ou realização? O aluno ou a pessoa do aluno? O ProSucesso. A educação como cultura. A Escola forma para os valores?, para a Alegria? O que dizer dos vários projetos educativos e das reformas educativas e curriculares? A “educação inclusiva”, que, em rigor é exclusiva!, é, ou não é, para daquele aluno e não para mais ninguém, no seu sentido singular, embora partilhando do universal. A Direção de Turma, o Ensino do Português, da Língua Portuguesa. Língua e Literatura: que relação? O que é Ser Professor? O que é a Escola?
Eis, aqui, uma bateria de questões, que estão presentes no todo da Entrevista, (Parte I e Parte II), que temos todo o gosto em partilhar com os leitores, agentes, também, ativos no próprio ato de ler, até porque em e sobre Educação não há discursos neutros, apesar da busca da objetividade, também como valor.

                    Emanuel Oliveira Medeiros 

9- Considera que a escola é mais uma organização com projetos formais e burocráticos ou uma comunidade para aprender e para que cada agente educativo se desenvolver nas suas várias dimensões?
A escola é a soma das duas vertentes que aponta. Entendo, no sentido lato e no contexto da sua questão, a formalidade e a burocracia como determinantes na organização da escola, um conjunto de orientações e procedimentos que deve ser cumprido com o principal objetivo de facilitar a vida dos membros da comunidade. E sublinho o verbo “facilitar” e o substantivo “organização”. Mas tem de ser, acima de tudo, um espaço-tempo de aprendizagem e de exploração das várias componentes da vida. É esse, na minha perspetiva, a verdadeira e central finalidade da escola.

10- Como vê a colaboração, ou não, dos pais e encarregados de educação com a Escola, desde logo através do/a Diretor/a de Turma?
Os encarregados de educação que estão mais em contacto com o diretor de turma são pais, em geral, cujos filhos são empenhados e que não causam problemas na escola. E serão alunos empenhados, que não causam problemas na escola, talvez porque os pais os acompanham… E isto é muito bom – deveria ser um modelo para todos os encarregados de educação! Mas infelizmente os pais que a escola precisa que fossem mais interventivos são a esmagadora maioria que desconsidera a instituição. E acredite-se que o trabalho que os diretores de turma têm em chamar os pais à escola é intenso e persistente! Por exemplo, não raras vezes, os telefonemas da escola não são atendidos – os destinatários, vendo que o número é daí, simplesmente não atendem nem retribuem a chamada. O Sistema de Gestão Escola (SGE) permite que se troquem mensagens entre os pais e os diretores de turma. É um facto, e de acordo com o que vou ouvindo por parte dos meus colegas, que há mais encarregados de educação a interagir através desse meio – e isso é, indubitavelmente, uma boa notícia! -, no entanto, os encarregados de educação que mais interessam à escola ignoram (conscientemente ou porque não dominam as novas tecnologias) também esta ponte.

11- Temos verificado sucessivas reformas e reorganizações curriculares e/ou programáticas. Como avalia esse facto, em geral, e, de modo específico, na Língua Portuguesa e/ou Português?
Vou centrar-me na disciplina que leciono, que é a que conheço melhor. Acho que, no 3.º Ciclo, as alterações têm sido feitas introduzindo facilitismo na abordagem dos conteúdos e das competências de tal forma que o programa do Ensino Secundário, por estar adequado ao desenvolvimento dos alunos, se transforma num caminho dificílimo de trilhar, uma vez que a etapa anterior não preparou convenientemente os alunos.

12- Do seu ponto de vista, ensina-se mais a língua ou a literatura? Não é desejável ensinar as duas em conjunto? Por exemplo, como despertar para a beleza da poesia, dissecando os poemas?
Os programas quer do 3.º ciclo quer do Ensino Secundário, muito em especial este último, focam-se na Literatura (mas também em diferentes tipologias textuais) e é, a partir dela, que se pode também ensinar a Língua. A Língua não existe no vazio, ela é que permite a nossa comunicação e dá corpo ao nosso pensamento. Por isso, as palavras (a sua grafia, os seus sentidos), as frases (a sua construção, a sua pontuação), os textos (o seu sentido geral e as suas especificidades, a sua intencionalidade) existem impressas em papel ou em suporte áudio.

13- É possível a escola ser “inclusiva”? Esse é o melhor adjetivo para qualificar essa finalidade? O que pensa também da Educação e ensino especial?
A escola inclusiva é uma realidade na Região, que está consagrada no Decreto Legislativo Regional n.º 5/2023/A, de 17 de fevereiro, e, no seu preâmbulo, fica claro o alcance desta nova visão: «Este enquadramento legislativo pretende prosseguir o desenvolvimento de uma estratégia educativa que, abandonando sistemas de categorização de alunos, incluindo a categoria necessidades educativas especiais, e do modelo de legislação especial para alunos especiais, reconheça a diversidade dos seus alunos, de forma a adequar o processo de ensino às caraterísticas e condições individuais de cada um, e de todos, […]». Acaba-se com categorias que existiram até aqui, como, por exemplo, Educação Especial, para que se garanta igualdade de oportunidades a cada um dos alunos, sem olhar a capacidades cognitivas e perfis pessoais. Por isso, creio que foi uma designação feliz! Espero, contudo, que a sua implementação e aplicação não abra a porta a imposições fanáticas de determinados valores puramente ideológicos…

14- Para si, o que Ser Professor?
É alguém que tem um curso na área da Educação, que gosta de ensinar, mas também de aprender com os vários jovens que vai tendo como alunos. Alguém muito determinante na vida de cada uma desses jovens, porque os motivou para a aprendizagem, porque lhes despertou a curiosidade sobre o mundo, porque reconheceram o professor como uma referência, como um amigo que nunca vão esquecer e a quem vão sempre cumprimentar, passem os anos que passarem!

  1. Para si, o que é uma Escola?
    É um espaço-tempo onde o despertar para os mistérios e os segredos do mundo deve ser estimulado e potenciado.
  2. Fica um espaço para referir algo que queira e que, de um modo ou de outro, não tenho sido referido nas questões e/ou respostas.
    Muito Obrigado *Doutorado e Agregado em Educação e na Especialidade de Filosofia da Educação

Emanuel Oliveira Medeiros
Professor Universitário*

*Doutorado e Agregado em Educação e na Especialidade de Filosofia da Educação

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