fui ver o mar
meu pai num barco
minha mãe em terra
e eu fui ver o mar
três silhuetas desenhadas num fundo
de papel quadriculado
todas elas caminhando
vindos de antanho para o presente
vislumbrando entre os raios do sol
as linhas sinuosas do futuro
colorido da luz da tarde
ou escuro como breu que cobre o asfalto
no peito o grito contido
para esconder todas as dores
que o mundo oferta sem piedade
sem escolher o coração que fere
minha mãe foi recolher-se
entre uma gota de água e um véu de silêncio
meu pai ficou à deriva a boiar no mar
mais tarde engolido pela geografia de uma onda
rendilhada de branca espuma
e eu fiquei com uma cana para pescar sonhos
com as linhas que se cruzam nas palmas das minhas mãos
nuas de esperança
e frias como a água do mais frio e fundo oceano
Victor de Lima Meireles