As Festas do Senhor Santo Cristo, em Ponta Delgada, decorreram com grande sucesso no passado fim de semana, cumprindo-se assim mais um ano de enorme tradição de fé do povo dos Açores.
O Domingo do Senhor foi o Dia Maior e aquele em que estava destinado um belo dia de sol e uma noite amena, convidando milhares de fiéis a deslocarem-se a Ponta Delgada, notando-se muitos emigrantes da diáspora açoriana e também alguns estrangeiros, espantados com a grandeza da devoção ao Senhor Santo Cristo dos Milagres.
A procissão decorreu num ambiente de grande fé e foi notória a grande participação de promessas.
Destaque para a actuação dos alunos e professores do conservatório, com o grupo coral de S. José, na escadaria do Largo de Camões, numa bela jornada de cânticos e oração.
Muitos dos que seguiam pela RTP-Açores e RTP-Internacional devem ter-se maravilhado com a profissionalíssima transmissão da televisão açoriana, que cobriu todo o percurso com imagens magníficas dos vários aspectos da procissão e excelentes comentários da jornalista Carmo Rodeia.
Segunda-feira
da festa
Anteontem, Segunda-feira da festa e feriado municipal em Ponta Delgada, o Bispo de Angra pediu a todos os peregrinos, e em especial à Irmandade do Senhor Santo Cristo, que saiam para o mundo e não fiquem apenas a contemplar e a admirar o divino.
“Precisamos de nos sentar nestes lugares do mundo, às vezes contaminados por águas sujas. Não fiquemos a admirar o divino mas levemo-Lo ao mundo, aos outros, testemunhando não só os valores humanos mas também o evangelho que professamos. Aqui há remédios para todos. Que o senhor Santo Cristo vos ajude na missão”, afirmou D. Armando Esteves Domingues na homilia da concelebração a que presidiu na Igreja de Nossa Senhora da Esperança e que teve em especial atenção os irmãos falecidos e os benfeitores da Irmandade do Senhor Santo Cristo dos Milagres, que organiza estas festas maiores da Igreja nos Açores, juntamente com o Santuário do Senhor Santo Cristo, segundo relato e fotos do sítio Igreja Açores.
D. Armando faz sugestão
“As multidões são importantes, mas a conversão é pessoal” disse ainda o prelado depois de ter elogiado e agradecido o trabalho da Irmandade nestas festas marcadas “pela serenidade”, como frisou de novo o bispo de Angra.
“Vós sois o garante da tradição, mas sois também promotores da comunhão e por serdes uma das Irmandades mais numerosas e também com maior visibilidade mediática no país, tendes responsabilidades acrescidas”, afirmou o Bispo de Angra.
“E esta responsabilidade não é só para com Ponta Delgada é para com toda a região. É uma responsabilidade que o Senhor Santo Cristo coloca nas vossas costas” frisou deixando, ainda, outros agradecimentos ao Reitor do Santuário, cónego Manuel Carlos Alves e a todos “os que trabalharam para que as festas tivessem corrido bem”.
“Na memória destas festas fica tragédia do incêndio no Hospital do Divino Espírito Santo e todo o sofrimento que ainda está a provocar, mas o que eu gostaria de destacar é a onda de solidariedade gerada por detrás desta tragédia”, disse D. Armando Esteves Domingues.
“Sejamos sempre esta Igreja de porta aberta, presente e disponível para beijar”, afirmou alertando para a dificuldade que temos de dizer obrigado.
“Por vezes somos forretas em dizer obrigado, mas o amor não é forreta e quando vemos as coisas feitas com amor e por amor, temos mesmo de dizer Obrigado!”, disse.
“Que todos saiam desta festa com Cristo sempre presente, não só na Imagem, mas de olhos postos no sacrário”, disse ainda.
Aos agradecimentos à organização da festa, o Bispo D. Armando Esteves Domingues acrescentou uma sugestão: que se aproveite a vigília de domingo para acções de carácter vocacional.
“Era uma maneira de dar visibilidade à questão vocacional que diz respeito à igreja, porque falamos sempre de vocações para a vida consagrada, religiosa e sacerdotal, mas também para outras vocações, como a família”.
HDES sempre presente
Esta missa, que ocorre habitualmente na manhã de segunda-feira e que é conhecida como a Missa da Irmandade, ainda contou com a participação do bispo de Stockton e do padre Larry Machado, pároco da paróquia portuguesa de Nossa Senhora da Assunção em Turlock.
“Participar nesta festa foi a experiência mais alta que tive como padre” afirmou o bispo Myron Cotta, muito emocionado.
“Quando faço uma visita aos Açores o meu coração fica sempre por cá. Depois desta visita julgo que as nossas duas dioceses vão ficar mais unidas numa irmandade muito bonita”, ressalvou o prelado.
Depois desta missa, as forças de segurança, protecção civil e motards, bem como os taxistas, prestaram uma vez mais a sua homenagem ao Senhor Santo Cristo, dando uma volta bem ruidosa ao Campo de São Francisco. Há menos de uma década esta homenagem era feita no sábado de manhã mas por causa das promessas e do barulho foi adiada para a segunda-feira. Não integra o programa oficial das festas mas é sempre um momento muito apreciado pelos peregrinos. Esta manhã foi especialmente saudada a presença dos bombeiros devido à missão que tiveram no combate ao incêndio no Hospital do Divino Espírito Santo.
De tarde, a festa do Senhor Santo Cristo prosseguiu com as habituais arrematações no adro da Igreja e à noite com música no Campo de São Francisco.
A festa termina amanhã, dia 9 de Maio. Às 18h00 haverá a celebração eucarística que encerrará a festa, que será presidida pelo Reitor do Santuário.
Bispo de Stockton
apela à oração
O Bispo de Stockton desafiou as famílias açorianas a serem “mestres e peregrinas” da oração, durante o sermão da Procissão da Mudança da Imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres, que se realizou no Sábado, juntando milhares de peregrinos em promessa.
“Jesus aprendeu a rezar na sua casa de Nazaré tal como os nossos avós e pais nos ensinaram a rezar” afirmou D. Myron Cotta.
“Os pais de hoje precisam de compreender que a oração começa na igreja doméstica, no lar” disse ainda sublinhando que “a família que reza unida permanece unida”.
“A família é fundamental na preparação para a caminhada com o Senhor; pois, caminhar com ele é a nossa peregrinação da vida. E a oração, o diálogo com Deus, são necessários para o caminho” afirmou ainda o prelado luso descendente aos milhares de peregrinos que participaram na primeira grande manifestação religiosa desta festa, que mobiliza milhares de açorianos residentes nas nove ilhas ou na diáspora.
A partir do exemplo pessoal da sua oração em família, sobretudo com os avós – “eles sabiam a importância, e a responsabilidade, de nos dar um exemplo do valor e necessidade da oração”- o prelado sugeriu um itinerário que começa com “uma simples oração do coração, uma conversa franca com Nosso Senhor Santo Cristo, com Jesus”.
Na primeira vez que se dirigiu como presidente desta grande peregrinação ao santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres, D. Myron Cotta confessou a sua emoção por estar nos Açores sobretudo neste ano em que o tema do Santuário é a oração em absoluta sintonia com o tema proposto pelo Papa para o ano que precede o Jubileu da Esperança.
Antes de terminar a Procissão da Mudança, D.Armando Esteves Domingues pediu um momento de oração para lembrar todos aqueles que hoje estão a sofrer com o incêndio no Hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta Delgada.
“Junto ao Senhor Santo Cristo está um pequeno cesto de rosas oferecido pelos bombeiros por causa das extraordinárias ocorrências. Peço uma salva de palmas para todos aqueles que acudiram a esta situação extraordinária e uma oração por todos aqueles que no terreno estão a tentar ultrapassar esta situação” pediu o Bispo de Angra, provocando um enorme coro a partir do Campo de São Francisco.
O bispo de Angra agradeceu ainda ao Bispo de Stockton apresentando-o como “um dos nossos”.
D.Myron Cotta fez ainda o sermão da missa solene de domingo, onde afirmou que a esperança não pode ficar dentro de uma Igreja ou de um Santuário mas deve ser levada ao mundo “quebrado” e “ferido”.
“A esperança não deve estar encerrada numa capela, nem numa igreja, nem num santuário, mas deve ser oferecida gratuitamente, especialmente, àqueles que não têm esperança. Este Jesus, que te ama, apresentado aqui nesta imagem solene, sai deste santuário para encontrar-se contigo, quer seja onde estejas na tua vida” , afirmou o Bispo de Stockton na homilia proferida na concelebração que decorreu de manhã no Campo de São Francisco em Ponta Delgada, para celebrar a festa do Senhor Santo Cristo dos Milagres.
Ele está presente
no meio das
nossas imperfeições
“Ele está presente no meio das nossas imperfeições, da nossa tentação ao pecado, para oferecer-nos a Sua graça e misericórdia, para nos dar esperança no nosso caminho peregrino nesta vida, tornando-nos, assim, ´peregrinos da esperança´ “.
“Esta imagem do Santo Cristo, lindamente adornada e decorada, transporta-nos para o mistério do que está por baixo dos adornos do ouro, pérolas e pedras preciosas.
O que está por baixo são os sinais da sua paixão e do seu sacrifício que ele ofereceu por nós, renunciando a vontade própria, isto é, a sua Misericórdia. Esta imagem solene do seu rosto transmite uma sensação de serenidade, de paciência”, disse ainda o prelado descendente de açorianos da ilha Terceira, ao referir que “somos evangelizados pelas chagas gloriosas”.
“O nosso Deus é um, connosco, no nosso sofrimento” disse ainda sublinhando a confiança no amor e na misericórdia de Deus.
Emigrantes dos EUA
e Canadá presentes
Diante de centenas de fiéis, muitos deles emigrantes nos Estados Unidos e Canadá, o prelado, cujos avós nasceram na Ilha Terceira, elogiou as manifestações populares religiosas “fundamentais” na sua educação e na dos irmãos, como as festas em honra do Divino Espírito Santo, grande devoção à Bem-Aventurada Virgem Maria, especialmente, sob o título de Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora da Assunção e Nossa Senhora dos Milagres, celebradas em Gustine, na Califórnia.
“Estas festas, encorajam a Igreja, nós, o Corpo de Cristo, a continuar a cumprir a missão de evangelizar e de convidar as pessoas a encontrar Jesus, o Cristo, o Senhor. O Senhor deseja que todos tenham um relacionamento pessoal e transformador com Ele. É um convite para uma vida centrada em Cristo”, afirmou.
Esta Festa, em particular, “é para afirmar e testemunhar que Jesus é Senhor das nossas vidas, assim como tão bem exemplificou a Madre Teresa da Anunciada, ao fundar e cultivar esta devoção (como tão bem exemplifica a irmandade do Senhor Santo Cristo) ao seu e nosso Senhor Santo Cristo” disse ainda, destacando que esta devoção pode “encorajar e forjar” mais esperança.
O bispo de Angra agradeceu, uma vez mais a todos os envolvidos que “proporcionaram que toda a festa ocorresse com tanta paz e serenidade”, em especial às forças de segurança “que têm sido postas à prova nestes dias”.
“É tão bom colocarmo-nos a caminho e sabermos que Ele está ao nosso lado, que faz caminho connosco mas que nos envia a todos para a vida”, disse ainda o prelado.
A Missa de Domingo é um dos momentos altos desta festa, que rezou “pela paz na Ucrânia, em Israel e em todos os lugares do terra onde as discórdias parecem mais fortes que o amor e o ódio se paga com mais ódio, para que brotem sementes de perdão e concórdia, capazes de lhes pôr fim e levar esperança a todas as vítimas.”
Também as famílias, as mães, os jovens e todos os ” homens e mulheres que vagueiam na desesperança, amarrados a vícios ou mergulhados nas dificuldades materiais” foram lembrados nesta eucaristia para que consigam “encontrar uma luz junto das comunidades cristãs e renascer para uma vida nova”.
As preces foram lidas por várias pessoas entre elas um jovem da Irmandade do Senhor Santo Cristo dos Milagres, um funcionário, um elemento da pastoral social, uma religiosa, uma professora ucraniana e um sem-abrigo, que está em processo de recuperação, conclui o sítio Igreja Açores, de quem também são a autoria as fotos.