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Um novo Hospital

Em Dezembro de 2020, a propósito do descalabro em que os governos da última década nos deixaram no sector da saúde, escrevi o seguinte:
“(…) não houve dinheiro para ampliar o Hospital, não houve dinheiro para montar uma boa rede de Cuidados Continuados, mas houve para pagar a pesada factura da Saudaçor, com uma dívida de mais de 750 milhões de euros, com uma estrutura que gastava, só em salários, quase ou tanto como se fossem Directores Clínicos. Esta ruinosa entidade da nossa Saúde pagou no ano passado, só em juros, a módica quantia de 27 milhões de euros!
Dava para mais um Hospital”.
Esta semana ficamos a saber que a herança ainda é pior, pois as dívidas do sector já vão em mais de 960 milhões de euros!
O que aconteceu sábado no Hospital de Ponta Delgada até pode não ser consequência da profunda degradação a que votaram esta infraestrutura estratégica para o sector na região, mas há que desconfiar do estado de abandono em que os sucessivos governos deixaram o HDES em pouco mais de vinte anos.
Alguma coisa falhou no sistema de segurança de incêndios, de que se há-de ouvir falar após as respectivas averiguações, mas o que importa, agora, apara além das lições a retirar, é pensar sobre o que se pode fazer para o futuro do HDES.
E o futuro não pode ser, novamente, uma série de remendos, como tem sido promovido pelos governos anteriores e pelo actual.
Já é tempo de se pensar num novo hospital, no mesmo local ou noutro, mais moderno, mais funcional, melhor equipado e bem gerido, em vez de se estar com obras de requalificação espalhadas por todo o edifício, no valor de vários milhões de euros, que são apenas remendos, alguns dos quais dificultando ainda mais o aspecto organizacional da estrutura.
Foi assim na vigência dos governos anteriores, nomeadamente com a remodelação anunciada em 2016 do Serviço de Urgência, que custou 4 milhões de euros, e tem sido assim com o actual governo, que em Setembro do ano passado anunciou obras para aumentar a capacidade nas cirurgias e consultas, aproveitando a transferência para o 5º piso de serviços administrativos, contabilidade, gestão e informática, no valor de meio milhão de euros.
Meses depois, novos remendos, desta vez para obras de ampliação do recobro cirúrgico, no valor de 3,2 milhões de euros.
Perante as reivindicações de um edifício de raiz para a unidade de hemodiálise, surge o anúncio de nova intervenção no edifício degradado para criação de mais 12 postos de atendimento para a hemodiálise, ampliando a capacidade instalada para mais de 30%.
Perante este cenário é mais do que óbvia a necessidade de um novo hospital.
A ministra da Saúde deu o pontapé de saída ao disponibilizar o apoio da República para o novo investimento.
Ao Governo dos Açores compete colocar em marcha o desígnio que, em boa verdade, já tinha sido equacionado anteriormente.
Sabemos de fonte segura que o anterior Secretário Regional da Saúde, Clélio Meneses, chegou a apresentar um projecto com várias fases para a construção de um novo hospital em Ponta Delgada, que passava por três hipóteses de financiamento: parceria público-privada (à semelhança do hospital de Angra), apoio do Governo da República, como projecto de investimento de interesse nacional (PIR), ou apoio comunitário especial para região ultraperiférica, através do POSEI.
A hipótese mais equacionada, porque mais rápida, seria a parceria público-privada.
O projecto parece ter esmorecido, pelo que é preciso acordar, de novo, o actual governo, que não pode continuar a andar a passo de caracol num assunto crítico como este, sobretudo agora com o que aconteceu no HDES.
Esta é uma excelente oportunidade para repensar a estratégia no sector e termos uma visão mais larga sobre uma infraestrutura que é fundamental para as nossas vidas.
Continuar com uma solução de remendos é um desrespeito para com todos os açorianos e para com os enormes profissionais do HDES, que deram mostras, no rescaldo do incêndio, de serem uma equipa notável em termos profissionais e humanos.
O mesmo se digas dos bombeiros e de toda a rede de apoio no combate ao incêndio, de que nos devemos orgulhar.
A própria intervenção política foi rápida e eficaz, especialmente a presença tranquilizadora de Mónica Seidi, assim como a articulação com todas as estruturas de saúde na ilha e fora dela.
A rápida vinda da ministra é outro sinal animador e as suas declarações são motivo, mais do que suficiente, para aproveitarmos esta disponibilidade da República para se avançar com um novo projecto hospitalar.
Só falta, agora, meter mãos à obra.

Osvaldo Cabral
[email protected]

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