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Saúde Pública e a Saúde do público, semana a semana (55): Enigmas sem resposta, e outras coisas que se podem prevenir

“Uma grande catástrofe acarreta mudanças no padrão populacional ao longo dos anos seguintes, como consequência da mesma. Por exemplo, leva à aceleração do processo de diminuição populacional. Obviamente há que monitorizar, e estar atento, nestas circunstâncias, para que se possam perceber os sinais de alerta, e alterar (e impedir) rumos indesejáveis.”

A Ciência da semana: uma diarreia que é um Enigma

Em Dezembro de 1983, um residente em Brainerd, no Minnesota teve, com início repentino, uma diarreia aquosa, explosiva, que durou muitos meses, e que atingiria 120 dos seus vizinhos, e colocaria o nome desta comunidade rural no mapa dos “Enigmas Epidemiológicos”. Nos 20 anos seguintes foram notificados 8 surtos adicionais de “diarreia de Brainerd”, todos eles caracterizados por diarreia aquosa de duração impressionantemente longa, com início agudo e a mesma constelação de sintomas, incluindo extrema urgência fecal e incontinência fecal. As investigações dos vários surtos estabeleceram o período de incubação (10 a 30 dias) e a duração média da doença (15 a 16,5 meses). Várias investigações identificaram o veículo responsável pela transmissão da doença (leite cru de uma fábrica de laticínios local, em Brainerd; água potável em 4 outros surtos). No entanto, apesar dos exames laboratoriais, a causa da diarreia de Brainerd permanece desconhecida.

Os dados para análise da semana: a mortalidade materna (e infantil) aumenta nas catástrofes

A Medscape desta semana alerta que a “Mortalidade materna na pandemia atingiu números assustadores no Brasil”. Esta afirmação resulta de um estudo publicado, com dados alarmantes, sobre o impacto da pandemia covid-19 na saúde materna. Em 2020 houve um excesso de mortes maternas de aproximadamente 40%, em relação à média dos anos anteriores. Em 2021 houve uma explosão do número de casos, e a covid-19 foi responsável (directa ou indirectamente) por 60% das mortes maternas, nesse ano. Segundo os autores do estudo, estes dados sugerem que a pandemia penalizou mais as grávidas e puérperas do que a população em geral. A taxa de mortalidade materna em 2021 excedeu em muito a meta mundial dos “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável” para este indicador (70 mortes maternas por cada 100.000 nados-vivos), atingindo 110 mortes maternas por cada 100.000 nados-vivos – nível semelhante ao apresentado pelo Brasil nos anos 1980.
Outro estudo mostrou que o pior cenário ocorreu entre Março e Junho de 2021, em todo o Brasil, chegando a um excesso de 413% na mortalidade das mães entre 35 e 49 anos na região Sul.
No Chile a mortalidade materna aumentou de 19,2 para 28,1 por cada 100.000 nados-vivos. A Colômbia, que antes da pandemia já apresentava uma elevada taxa de mortalidade materna de 80 por cada 100.000 nados-vivos, teve um aumento para 87 por cada 100.000 nados-vivos.
Os dados dos EUA também são preocupantes. A taxa de mortalidade materna, de 20,1 por cada 100.000 nados-vivos em 2019, subiu para 23,8 em 2020 e para 32,9 em 2021.
Um estudo dos EUA mostrou que a mortalidade materna em mulheres COVID-19 positivas é mais de 10 vezes superior à mortalidade materna não relacionada com covid-19.
A mortalidade materna é influenciada pela qualidade da assistência médica, o que envolve questões como o acesso e disponibilidade de recursos. O Brasil viveu, durante a pandemia, uma enorme sobrecarga do seu sistema de saúde, com extrema dificuldade em promover o adequado acompanhamento pré-natal das grávidas, barreiras no acesso à assistência no parto, e baixa disponibilidade de camas de cuidados intensivos.
Em 2022, a mortalidade materna recuou para 57,7 mortes maternas por cada 100.000 nados-vivos.
O artigo da Medscape lembra que muitas mulheres que morreram na pandemia deixaram famílias e filhos: um estudo brasileiro de 2022 mostrou que, nos primeiros 2 anos da pandemia, mais de 40 mil crianças ficaram órfãs de mãe.
Uma grande catástrofe acarreta mudanças no padrão populacional ao longo dos anos seguintes, como consequência da mesma. Por exemplo, leva à aceleração do processo de diminuição populacional. Obviamente há que monitorizar, e estar atento, nestas circunstâncias, para que se possam perceber os sinais de alerta, e alterar (e impedir) rumos indesejáveis.

A Homenagem da semana: ao Presidente do Governo e aos Enfermeiros dos Açores

  1. A articulação do presidente do Governo dos Açores com o Ministro da Defesa Nacional, e com os responsáveis da Cruz Vermelha Portuguesa, demonstra a boa visão e o sentido de Estado necessários nesta fase, na defesa do povo açoriano.
    O presidente do Governo Regional dos Açores, Dr. José Manuel Bolieiro, reuniu com o ministro da Defesa Nacional, Dr. Nuno Melo, aproveitando a disponibilidade deste para o apoio, na Região Autónoma, do “Agrupamento Sanitário do Exército”, vulgo hospital de campanha, através de módulos considerados necessários. Ao Governo Regional dos Açores compete proceder a uma avaliação das respetivas necessidades para determinação do âmbito da extensão da ajuda a prestar pelas Forças Armadas.
    Por sua vez, a articulação do presidente do Governo dos Açores com a Cruz Vermelha Portuguesa permitiu já a montagem de um Posto Médico, instalado no Pavilhão Municipal Carlos Silveira, em Ponta Delgada.
  2. A greve, marcada para 10 de Maio, foi suspensa pelo Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP-Açores) na ilha de São Miguel.
    De acordo com o Enfermeiro Pedro Soares, “a nossa população está primeiro. Depois temos tempo para olhar para esta questão das lutas laborais”. Neste momento, a missão da Ordem é “fazer o melhor para cuidar das necessidades de todos”.
    Um extraordinário exemplo de respeito pela Ética e Deontologia destes profissionais de saúde, que fica retido na memória colectiva, pela nobreza do mesmo.

Mário Freitas*

*Médico consultor (graduado) em Saúde Pública,
competência médica de Gestão de Unidades de Saúde

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