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Sábado do Divino Espírito Santo

NA FESTA do PENTECOSTES
LOUVAI
O
DIVINO ESPÍRITO SANTO

O Espírito do Senhor encheu a terra inteira, Aleluia, Aleluia, Aleluia.
Vinde Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor.
A celebração do último domingo do tempo Pascal, é especial em diversos sentidos. Depois do Senhor ter voltado para o Pai, os Apóstolos, e algumas mulheres, entre as quais, Maria, Mãe de Jesus, e outros seus parentes, permaneceram juntos numa casa de Jerusalém, orando assiduamente na espera do dom do Espírito Santo, prometido pelo Senhor.
Em toda a liturgia, Cristo é presente actuante, porque Ele é o sumo sacerdote que, pelo ministério da Igreja, convoca e preside à assembleia. Ele, é o primeiro orante no meio de nós através do Seu Espírito Santo, que derramou em nossos corações, como refere a antífona de entrada do domingo do Paráclito.
As leituras pascais, apresentam-nos três quadros de sentido litúrgico, e o olhar cristão, observa cada um deles para se fixar e compreender o único mistério que constitui o tema comum, celebrado em todo o arquipélago açoriano.
No primeiro quadro, Cristo de pé, e de olhos dirigidos ao céu, ora ao Pai pelos discípulos que já reuniu em seu redor, e ora por todos aqueles que, ao longo dos séculos receberam a Sua Palavra e acreditaram n’Ele, dizendo: ” Que todos sejam um, como Tu, Pai, és em Mim e Eu em Ti. Os que me deste, estejam comigo onde, Eu estou, para que vejam a minha glória, a glória que Me deste, por me teres amado, antes da criação do mundo.
O segundo quadro, é um tríptico em que no centro, está Cristo resplandecente de luz, e na direita, Estevão, rodeado de gente hostil. “Cheio do Espírito Santo”, com o olhar fixo no céu aberto, vê “o Filho do Homem de pé, à direita de Deus”, como que, preparado para voltar.
Na esquerda, está o mesmo Estevão, de joelhos, orando pelos seus verdugos/carrascos.
O terceiro quadro, mostra S. João em êxtase, que ouve a voz do “rebento descendente de David, “o primeiro e o último” “o alfa e ómega”, que proclama: “Sim!… Eu venho em breve.”
O acto de louvar o Divino Espírito Santo, permanece uno e idêntico no Antigo e Novo Testamento.
Debaixo das mais variadas formulações, manteve sempre a sua característica tonal teocêntrica, que faz, com que o homem pense em Deus e o enalteça não pelos seus dons ou carismas, mas sim, pelo que Ele é, e pelo que se dá a conhecer, por ser Deus, digno de todo o louvor e glória para sempre.
A contemplação da divina glória e o reconhecimento de seus dons, não são mais do que as duas faces, visível e invisível, aparente e misteriosa, da mesma e surpreendente realidade que arrebata o coração da humanidade crente.
O louvor tem sempre por objeto o Senhor, exaltado em sua grandeza ou em suas acções, e invariavelmente supõe uma reunião, a que, o fiel comparece para proclamar os benefícios divinos.
Festejar oculto do Divino Espírito Santo, na família açoriana, não é tarefa fácil numa temática carregada de simbolismo religioso, onde a teologia faz perceber, distinguir e entender o panorama da fé inserida numa tradição secular, como a festa das primícias, e da caridade.
A cultura popular, dá ao rito da liturgia do Pentecostes a riqueza espiritual no quadro dos carismas / dogmas, em que a devoção se enraizou em profunda latitude, acompanhando no tempo e no espaço a diáspora eterna do homem ilhéu nas comunidades, que levaram consigo o acto da fé no Divino, e as suas tradições como expansão e expressão prática da vida, a alegria humana na partilha dos dons e doação.
O culto do Espírito Santo que o povo açoriano vive com forte dimensão e expressão, é também uma manifestação do sagrado, que ao longo do tempo por circunstâncias e razões diversas, supriu as dificuldades com a cautelar previdência e proteção da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade.
O fenómeno do sagrado, surgiu envolto num manto de fé vivida, e com frequência, o imaginário e o vivido, caminham lado a lado, porque o sagrado para o povo ilhéu, representa uma espécie de energia activa e invisível, que, por vezes, parece incompreensível, mas tornado eficaz.
O poder do Divino Espírito Santo, e o fator Sagrado, são fenómenos interligados pelo cunho da fé espiritual, que conduz os fiéis crentes no sentido do bem comum, da partilha aos mais necessitados ou não, e esta atitude no humano, quase não se identificam, porque não há distinções sociais na partilha da festa da caridade de Deus, e a participação no bodo, acolhe todos, por igual.
O poder, quando exercido sobre as coisas e sobre as pessoas, há manifesto sentido nos mais variados aspetos, pois representa a realização da vontade, onde nasce uma espécie função social envolvida pelo respeito, e por vezes com o medo, porque o poder sagrado, implica uma dádiva humana aliada ao sacrifício pessoal de cada um e em sentido comunitário.
O sacrifício, é uma ação sagrada que se reveste de variadas formas e esgota-se entre a oferta e o martírio.
Se o sacrifício é suprimido, o culto perde a sua função essencial, e a teologia, abandona o seu dinamismo ascético/ espiritual.
No sacrifício, o local do culto mais venerável é o altar, mesa central do mundo religioso, onde se apresentam oferendas a uma divindade, e por isso, necessita da vivência do rito, que consiste em assegurar no tempo, a criação divina, e torna-se objeto dos diversos sinais de veneração no desenrolar da liturgia da celebração e acção.
O sacrifício e o rito estão interligados, e por isso, a teologia do sacrifício, liga-se à antropologia numa atitude de dependências, sendo a sua eficácia tanto maior, quanto a maior disponibilidade do homem perante o sagrado, onde o sacrifício, aparece como meio mais perfeito de ligação do humano ao divino, os homens entre si, e o homem consigo próprio.
O sacrifício pressupõe um medianeiro intermediário entre a divindade e a humanidade, porque o sacrifício, está na tradição unido à religião, mas as suas formas exteriores, e seu conteúdo material e espiritual, variam a tal ponto, que se torna impossível defini-lo de maneira unívoca.
Um de seus elementos fundamentais, é a ação simbólica, pela qual o homem instaura uma relação com o divino na sua esfera diária, e comporta dois sentidos: a oferta à divindade de produtos da terra e animais, e a oferta pessoal ou coletiva à divindade de uma vítima imolada, por tratar-se de uma realidade importante e universal na religião e no rito cultural da humanidade.
As bodas de Caná, eram como hoje são nas nossas sociedades e comunidades, a preocupação primeira de participação / adesão da partilha material da caridade do divino, momento de manifesta alegria que à época acompanhava a mudança da esposa para casa do marido, e durava quase sempre sete dias (Gn 27, 29, Jz 14,12; Tob 10.7).
Jesus, foi convidado em Caná, pequena povoação da galileia para uma boda.
No decorrer do banquete, sua mãe notou que os criados não tinham vinho para servir os convidados. Maria, pede a seu filho para intervir.
Discretamente, Jesus manda encher de água seis talhas: o mestre-sala maravilha-se com a excelência do vinho que lhe dão a provar (Jo2,1-12). Este milagre, bem como a multiplicação dos pães, não tardou a ser interpretado como um símbolo da Eucaristia, alimento físico e espiritual em sinal de partilha da função da caridade de Deus. O pouco recolhido, tornou-se abundante e muito sobrou depois da partilha alimentar.
Os tempos messiânicos são vistos sob a forma de uma boda nupcial, onde há de tudo, profusão/ abundância. Jesus Cristo, é identificado de esposo, e inaugura os esponsais de Deus com o seu povo, a alegria da vida.
As seis talhas de águas nas bodas de Caná transformadas em vinho, é um sinal de purificação no ritual, em que o vinho é de excelente qualidade, líquido que transforma a alegria nupcial numa festa, onde a alegria transborda com o canto e com a folia.
Esta ação de Deus, tem por curiosidade, os cinco pães que foram recolhidos para alimentar tão grande multidão, e isto identifica o sentido do homem preocupado, em como alimentar tão grande multidão com o presente quantitativo adquirido no momento.
A narrativa cultural das origens e do fim dos tempos, descreve o que precedeu a história vivida pelo homem, conferindo de certo modo uma certa forma de destino e de rumo, em que a sociedade não pode separar a elaboração do espiritual de quaisquer cerimónias, nem tão pouco de uma organização social, sempre necessária à tradição.
A simbologia do Espírito Santo, é por essência o elemento forte e formal da tradição, e funciona como testemunho de um sistema de referência, virtualmente presente nas relações humanas.

O culto do Divino Espírito Santo nos Açores, existe muito vincado numa fé milenária vivida, enriquecida, transmitida, ininterrupta, como elemento aglutinador no tempo e no espaço de uma forma bem específica de qualquer açoriano estar no mundo, quer no perto quer no longe, porque ser ilhéu, é comunicar e comungar com alma crente e fervorosa no seu semelhante.
O açoriano, apaixona-se pelo dinamismo religioso que brota do microcosmo das ilhas para o microcosmo de outras gentes e outras áreas numa vivência religiosa, enriquecida de tradições, de ritos, de sacrifícios, e de símbolos.
A diáspora açoriana, é o locutor indestrutível de cultura que nem o tempo nem os homens conseguem extinguir. O açoriano, é possuído de uma fé vivida, que, fica para além do tempo e não marca limites a espaços onde todos têm um lugar em momento participativo, tornando os lugares e o tempo inoportunos.
O povo açoriano, vive com devoção exterior e interior a festa do Espírito Santo, vivendo-a no seu expoente máximo com um sorriso aberto e acolhedor.
O Divino Espírito Santo, é o Deus da promessa, que plantou nas raízes do campo as sementes de esperança, flor vermelha para o tempo da ternura e da tempestade.
Divino pneuma, (Sopro) criador que distribui a fala, a força de partir, e fazes correr como um rio de fogo largo.
Tu, que vives escondido como o ferro no meio da fogueira, que impulsionas a coragem que rearma a vida em nós como fermento, a semente de fogo em terra lavrada e orientada.
Tu, és a nossa vontade de viver intensamente a vida até ao fim como presente e futuro da nossa esperança, que anima a Tua festa no coração do homem.
Tu, que voltas os nossos olhos para a missão do trabalho no mundo, que na paz dos templos nos sacodes e convocas para a urgência da justiça.
Tu que revelas a presença do Deus vivo no coração do mundo e da vida. Tu que és a atmosfera perfeita onde se respira e expande a alegria do Teu amor em nós.

José Gaipo

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