O Santa Clara disputa hoje o último jogo do Campeonato da II Liga e tem ao seu alcance o título da época.
No meio de tanta desgraça que, de vez em quando, assola estas ilhas, é um orgulho ter uma equipa açoriana a conquistar sucesso nacional e a disputar, na próxima época, o campeonato entre as melhores equipas de Portugal.
Mas, como é quase fatal nos Açores, porque não sabemos manter os nossos próprios sucessos, o Santa Clara corre o risco de não ter estádio em S. Miguel para disputar a I Liga.
O actual Estádio de S. Miguel é, ele próprio, um outro símbolo do desleixo em que os sucessivos governos regionais deixam chegar as estruturas públicas desta região. Queixam-se dos serviços do Estado, abandonados pela República, mas fazem o mesmo com as grandes estruturas físicas à responsabilidade da Região, como é o caso do Hospital de Ponta Delgada e do Estádio.
Não se percebe como os governos anteriores deixaram chegar o Estádio de S. Miguel a tanta degradação, nem se percebe como é que o actual governo, há praticamente quatro anos no poder, prossegue o desleixo a este ponto.
Nem é só o Santa Clara que está em causa, é o próprio desporto micaelense e o povo desta ilha , que merecem um estádio com dignidade.
É preciso pressionar o governo dos Açores para intervir urgentemente naquela estrutura. E o primeiro partido que deveria exigir essa urgência é exactamente o PSD.
Porquê? Porque em Junho de 2020, ainda não era governo, insurgiu-se contra a degradação do estádio, defendendo que o investimento nas instalações tinha de ser uma “prioridade” na política desportiva regional, de forma a que o recinto pudesse receber jogos oficiais.
O PSD lamentou, naquela altura, que a “falta de um projeto de requalificação do estádio micaelense acabe por prejudicar o Clube Desportivo Santa Clara, tanto no plano desportivo como financeiro, com repercussões também na área da indústria do turismo”.
Diziam os sociais democratas que tal situação “manchava a imagem da região” e falavam na “urgência em dotar o estádio das mais elementares condições”.
Cinco meses depois o PSD tomou posse como governo e, passados estes quatro anos, continua tudo na mesma.
Aguarda-se novo comunicado dos sociais-democratas.
A solidariedade nacional
O Bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, disse esta semana que o país, inexplicavelmente, ainda não se deu conta dos trágicos prejuízos do incêndio no HDES e alertou para a importância da devida solidariedade nacional, até agora sem sinais de concretização.
Era bom que o Governo de Luís Montenegro ouvisse o Bastonário e agisse tão rápido e certeiro como agiu, há uma semana, com o Metro do Porto.
É que o Estado converteu a pesada dívida de mais de 4 mil milhões de euros da Metro do Porto em capital, numa operação de limpeza do passivo, que embora só tenha sido concluída agora, terá já efeitos a dezembro de 2023, e permite passar de uma dívida de 4,2 mil milhões em 2022 para 200 mil euros no final de 2023.
Nada contra.
Os autarcas do Porto devem-se sentir bastante aliviados com esta solidariedade nacional.
A invocação desta notícia é apenas para lembrar o Governo da República de que não queremos tanto para recuperar o Hospital de Ponta Delgada, até porque 4 mil milhões de euros dava para pagar toda a dívida bruta dos Açores!
Convém que Bolieiro leve esta notícia na sua pasta quando se encontrar com Montenegro.
Osvaldo Cabral
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