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Há cem anos: “Missão de Continentais”

De tempos a tempos, quando surgem dificuldades financeiras ou circunstâncias políticas adversas, reacende-se o espetro do atávico centralismo lisboeta, sempre acompanhado de um longo rosário de reivindicações e de promessas não cumpridas.
A História repete-se, ciclicamente. A prová-lo está o discurso do Presidente dos Açores no Dia da Autonomia.
O acontecimento mais recente foi a recuperação e abertura do Hospital de Ponta Delgada que apanhou de surpresa, como era de esperar, o Plano e Orçamento para o corrente ano. Felizmente, o Governo da República comprometeu-se a apoiar as obras em 85% das despesas totais ainda não estimadas.
Oxalá o compromisso seja Palavra de Honra.

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Há cem anos, precisamente a 27 de Maio de 1924, uma missão de nove intelectuais, cientistas, escritores e jornalistas continentais desembarcava em Ponta Delgada no navio LIMA.
A visita foi organizada pelo Diretor do “Correio dos Açores”, Dr José Bruno Carreiro, auxiliado em São Miguel pelo Dr. Aristides Moreira da Mota e teve em vista dar a conhecer à opinião pública continental as nove ilhas, a sua cultura, etnografia, economia e potencialidades turísticas.
A missão era constituída pelo Diretor do “Diário de Lisboa”, Joaquim Manso, pelos escritores Trindade Coelho e Antero de Figueiredo, pelo Etnólogo e Académico José Leite de Vasconcelos, pelo economista Armindo Monteiro, cronista do “Diário de Notícias”, pelos engenheiros agrónomos D. Manuel Ribeiro S.Bragança e D.Luis de Castro (Conde de Nova Goa), pelo Conselheiro Luís de Magalhães e pelo estatuário António Teixeira Lopes – personalidades consideradas “dos homens mais notáveis do nosso país nas suas especialidades”.1
A visita estendeu-se a todas as ilhas dos Açores a bordo do navio Lima. Durante a permanência as comissões locais de receção organizaram receções e eventos de ordem cultural, económica e religiosa tendo em vista dar a conhecer o modo de vida dos açorianos e a diversidade das suas potencialidades e dificuldades.
Tudo isso foi sendo reportado pelos jornalistas e correspondentes da imprensa nacional. E mesmo depois da partida da missão, muitas foram as referências “na imprensa, na cátedra, nas Academias. Os Açores subiram a uma situação que nunca tinham atingido, estudados e celebrados por vozes de homens dos mais ilustres e respeitados do nosso país.”- afirma a revista OS AÇORES que publica uma extensa reportagem fotográfica, assinada, entre outros, por Vitor Cruz e pelo Coronel Afonso Chaves. Uma das imagens refere a visita ao Corvo, onde José Leite de Vasconcelos recolhe cantigas antigas, junto de idosos.
Interessante é também a foto de Victor Cruz tirada no domingo da Trindade, em Rabo de Peixe, junto à escadaria da Paroquial, com o Mordomo, Pe Manuel Moniz Machado, ladeado pelos escritores Antero de Figueiredo e Trindade Coelho.
Esta coincidência de datas não pode ser esquecida até porque a Vila de Rabo de Peixe mantém a mesma Fé no Espírito Santo, embora adornada de melhores e modernas estruturas de apoio a tão importantes celebrações religiosas, onde a solidariedade, a partilha fraterna e a alegria são características dominantes que o tempo não apaga. Há cem anos como agora.

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Passado um século da estadia da “missão continental” e de toda a informação então divulgada, os Açores passaram por tempos de dificuldades imensas, apesar da autonomia distrital que mal tinha verbas para atender às necessidades mais básicas e urgentes das populações. Essa foi uma das causas do enorme fluxo migratório cujas consequências se fazem sentir agora.
Abril trouxe a Autonomia há muito desejada, que já existia na mente dos promotores da missão dos Continentais, José Bruno Carreiro e Aristides Moreira da Mota.
Para atingir os objetivos de bem-estar dos açorianos, o sistema autonómico tem de ser apoiado pelo Estado, entidade a quem cabe zelar e promover o bem-comum de todos os portugueses.
Se para tal for necessário, organize-se uma nova Missão de Personalidades Nacionais aos Açores para que eles se apercebam das nossas potencialidades que ultrapassam em muito as belezas naturais e avaliem o quanto custa aos portugueses daqui viverem nestas ilhas, com as mesmas vantagens dos seus irmãos do continente europeu.
Valerá sempre a pena reclamar os nossos direitos.
Portugal só tem dimensão maior por ter a fronteira do arquipélago dos Açores no Atlântico Norte.

1 Revista OS AÇORES, Agosto de 1924,nº10 ps 18-29

José Gabriel Ávila*

*Jornalista c.p.239 A
http://escritemdia.blogspot.com

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