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Graciosa

Os deuses acordaram com o sol nas faces
a chama no corpo
e vaporizadas sensações na pele
fez-se o vinho e cresceu o trigo
ondulante e loiro
os pássaros voaram
roubando à chuva todas as cores
em mesclas luminosas misturando-as
tudo se moveu e pulsou
ao ritmo do grande coração
e foi então o nosso encontro curvo
o grande abraço horizontal
no límpido reflexo do espelho lunar
as bocas aceitaram os néctares
aos perfumes os corpos cederam
e com brilhantes luzes claras e azuis
florimos em perpétuas sementes
(Manuel Jorge Lobão, maio de 2024)

Após a entrada em vigor do novo regime dos preços das passagens de residente entre ilhas (das poucas medidas tomadas pelos governos da direita coligada nos Açores que sempre considerei merecer nota positiva, diria até muito positiva), as 9 ilhas do arquipélago ficaram bem mais próximas umas das outras sobre múltiplos aspetos, não só do ponto de vista da grande melhoria da mobilidade dos açorianos como, e na sequência disso, do alargamento além-mar do mercado das atividades produtivas e comerciais de cada uma das ilhas, em resumo, da melhoria significativa da coesão social e económica da Região.
Na sequência de tais facilidades para a nossa mobilidade, visitei a Graciosa (quem sabe “o grande abraço horizontal” de Manuel Jorge Lobão) no passado fim-de-semana.
Desde as festividades em volta do Bodo do Rebentão, à conversa com gente conhecida da AMIB (Associação dos Músicos da Ilha Branca), lá para os lados do Barro Branco, por ventura devido ao isolamento ancestral a que teve e de alguma forma ainda está sujeita (nem tudo se ultrapassa só com a melhoria do custo das passagens), sente-se na ilha um elevado espírito comunitário e associativo, mesmo fora da época do seu afamado Carnaval. Destaque, indubitável e sem idade privilegiada, para a simpatia, afabilidade, comunicação fácil, interessada e interessante, sem quaisquer laivos de servilismo ou superioridade, dos seus habitantes, perante quem os visita. Destaque também para a “educação das pessoas”, como me dizia uma parente do poeta atrás citado, amiga de muitos anos, que para lá foi viver…
A internet felizmente faz ampla cobertura do indubitável e recomendado interesse turístico e dos principais atrativos que procurei conhecer aproveitando ao máximo o tempo. Destaco, apenas como exemplos, as mágicas paisagens da circunvalação da caldeira, o conhecimento com as duas fábricas das queijadas, as adegas particulares espalhadas pela ilha, a praia e as piscinas naturais, a Furna do Enxofre, as termas do Carapacho, as grutas naturais para abrigo das embarcações no Porto Afonso, ou a Praça de Santa Cruz.
Com exceções pontuais e algumas (poucas) obras em curso, nota negativa para os poderes públicos (Governo e Câmara) responsáveis pela generalizada falta de manutenção ou estado degradado das estradas…

Mário Abrantes

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