Para que se eleve urgentemente, e enquanto é tempo, o nível de alerta sobre as potenciais consequências negativas para os Açores, e para quem reside nesta ilhas, da privatização da SATA Internacional (Azores Airlines), bastariam as experiências até à data tidas com os processos lançados para privatizar a TAP e a SATA, tanto da parte dos governos PS como do PSD, mas também o processo (finalizado) da privatização da ANA-EP a favor da francesa Vinci, que se veio a revelar altamente lesivo do Estado, dos interesses dos portugueses e dos seus cofres públicos, de acordo com a denúncia pública do Tribunal de Contas em janeiro deste ano.
De facto, o Tribunal de Contas demonstrou neste relatório como mais de vinte mil milhões foram desviados do erário público para os bolsos dos acionistas da Vinci. Sim, vinte mil milhões de euros. O suficiente para regularizar as contas da TAP e da SATA e ainda para construir pelo menos um aeroporto internacional. E, no entanto, quase não se falou do assunto. Ninguém foi preso. O Chega não veio dizer que “é uma vergonha!”. Montenegro não propôs criar um grupo de trabalho para evitar o desperdício de recursos públicos. A comunicação social mostrou o quão dominada está ao fingir não ver o elefante na sala. O PCP propôs na Assembleia da República uma Comissão Parlamentar de Inquérito. Aqueles que anteriormente propuseram e exigiram o mesmo, por causa de uma indemnização de 500 mil euros – PSD, CH, IL – ignoraram agora um roubo 40000 vezes maior (sim, quarenta mil vezes maior). O relatório do TC expôs mesmo, para além da denúncia do vultuoso roubo, a teia de cumplicidades necessária para que um roubo desta dimensão acontecesse. O conteúdo deste relatório deve ser lido. Está no site do Tribunal Constitucional…
É UMA DESCOMUNAL VERGONHA, SIM SENHORES!
Tornam-se evidentes assim, neste momento, factos e realidades nada desprezíveis que retiram atualidade e adequação útil a algumas premissas do plano de reestruturação da SATA que foi aprovado em junho de 2022 e que se encontra atualmente em execução. Estes factos e estas realidades legitimamente impõem aos responsáveis e às diversas forças políticas com intervenção na Região, no País e na União Europeia (uma excelente oportunidade para testar a capacidade de intervenção dos deputados ditos dos Açores no Parlamento Europeu) o empenho no estabelecimento de mudanças de rumo no processo de reestruturação da SATA, visando a salvaguarda do interesse dos Açores, dos açorianos, e também do interesse nacional.
Mas, com a expressão mais cândida deste mundo, parecendo que nada do que atrás foi relatado (e que o seu governo bem conhece) jamais tenha acontecido, importasse para o que quer que fosse, ou servisse de lição política para alguém, a sra. Secretária Regional do Turismo, Mobilidade e Infraestruturas, do governo de Bolieiro e das direitas coligadas, com apoio do Chega e IL, veio anunciar a composição do novo Conselho de Administração da SATA e a intenção de, com ele, manter inalterável a estratégia já definida de reestruturação da SATA (uma proposta descuidada dos Açores, com o acolhimento da União Europeia), que inclui a privatização da SATA Internacional.
Com essa disposição definida à partida, o anúncio simultâneo feito pela sra. Secretária da criação do chamado “Conselho Estratégico do Grupo SATA”, parece estar antecipadamente comprometido e desvirtuado, de pouco servindo para o futuro senão para criar mais uns lugares que venham reconfirmar que na nossa casa, afinal não mandamos (nem queremos mandar) nada …
Mário Abrantes