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Peixe do meu quintal – Hipocrisias Olímpicas

“Por outro lado, no entanto, temos a presença do Estado de Israel que pelas mesmas razões não deveriam participar nestes Jogos Olímpicos, pela chacina já provocada pela guerra desencadeada na Faixa de Gaza.”

Acontecem agora os Jogos Olímpicos em Paris.
De fora, estarão a Rússia e a Bielorrússia, por não estarem à altura do espírito daqueles jogos e assim serem boicotados de participarem nos mesmos, o que se compreende.
Por outro lado, no entanto, temos a presença do Estado de Israel que pelas mesmas razões não deveriam participar nestes Jogos Olímpicos, pela chacina já provocada pela guerra desencadeada na Faixa de Gaza.
Um estudo da revista “The Lancet”, publicado na passada sexta-feira, faz uma estimativa quase cinco vezes superior ao número divulgado por Gaza, tendo em conta o número de mortes indiretas, nomeadamente pessoas soterradas sob os escombros ou que morreram devido à falta de acesso a alimentos e a cuidados de saúde.
“Em conflitos recentes, essas mortes indiretas variam entre três a 15 vezes o número de mortes diretas”, explica o estudo.
Após aplicar uma “estimativa conservadora” de quatro mortes indiretas por uma morte direta, “não é implausível estimar que até 186.000 ou mais mortes poderiam ser atribuídas ao conflito em Gaza”, concluiu o estudo. O número representa 8% da população de Gaza.
Para chegar a esta estimativa, a revista científica usou dados da ONU que estima que, até 29 de fevereiro deste ano, 35% dos edifícios na Faixa de Gaza foram destruídos. A partir deste dado, a revista conclui que o número de corpos ainda soterrados nos escombros pode superar os 10.000. Para além disso, o estudo contabilizou também as mortes por ferimentos provocados pelo conflito e pela escassez de alimentos.
O estudo observa ainda que os conflitos armados “têm implicações indiretas na saúde para além dos danos diretos da violência” e alerta, por isso, que mesmo que a guerra em Gaza termine de imediato, o número de mortos continuará a aumentar nos próximos meses e anos.
“Espera-se que o número total de mortos seja elevado, dada a intensidade deste conflito; a infraestrutura de assistência médica destruída; a escassez severa de alimentos, água e abrigo; a incapacidade da população de fugir para lugares seguros e a perda de financiamento para a UNRWA, uma das poucas organizações humanitárias ainda ativas na Faixa de Gaza”, diz o estudo.
O relatório salienta que um “cessar-fogo imediato e urgente na Faixa de Gaza é essencial, acompanhado de medidas para permitir a distribuição de materiais médicos, alimentos, água e outros recursos para as necessidades humanas básicas”.
“Ao mesmo tempo, há uma necessidade de registar a escala e a natureza do sofrimento neste conflito. Documentar a verdadeira escala é crucial para garantir a responsabilização histórica e reconhecer o custo total da guerra”, salienta o estudo, acrescentando que este é também “um requisito legal”.
Outra vergonha olímpica chega-nos da parte da Igreja Católica Portuguesa, que vem agora decidir ouvir os 42 casos apurados e provados e que teriam direito a indemnizações.
Os responsáveis pela igreja católica portuguesa, querem com esta medida, dissuadir as vítimas a comparecer perante eles, passando pelas mesmas sevícias de recordar tudo de novo, ao ter que repescar as mesmas histórias já averiguadas, apuradas e provadas pelos comissários, que lhes entregaram o relatório completo.
O jogo é claro e vergonhoso por parte da Igreja Católica: Evitar de pagar ao máximo as devidas e justas indemnizações às 42 vítimas, cujos ficheiros estão nas mãos da Conferência Episcopal Portuguesa, apresentados pela Comissão Especial Independente.
“É uma ferida aberta que nos dói e envergonha”, declarou o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. José Ornelas, em fevereiro de 2023, sobre as quase cinco mil crianças que foram vítimas de abuso sexual no seio da Igreja Católica em Portugal, desde 1950 até à atualidade, segundo a estimativa feita pela comissão independente, a partir dos 512 testemunhos validados.
Hipocrisia que faria com que o inspirador desta doutrina, Jesus, os expulsasse da redoma dourada onde se fecham.

José Soares*

*[email protected]

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