No Astérix lia-se muito “Ils sont fous ces Gaulois…” que me apetece parafrasear, substituindo os Gauleses por Açorianos.
Com efeito, desde 2008 em que publiquei um artigo em todos os jornais micaelenses do arquipélago que venho propondo, e ficou relatado nos vários livros (6) da série ChrónicAçores (2009, 2012, 2018, 2022) que a solução para o problema do aquecimento global que se avizinhava (2008) era o de evitar o desperdício da água de todas as ribeiras e a construção de reservatórios (sobretudo para a pecuária e agricultura) de retenção desse bem, antes que se tornasse exíguo.
Agora, com a população a aumentar (duplicar) todos os anos com o influxo de turistas, com o verão mais quente da história (a que outros, decerto, se seguirão) surgem o presidente da Associação Agrícola micaelense, o presidente da Câmara da Calheta de S Jorge, o de São Roque do Pico (e outros surgirão) a alertar para a falta de água que se avizinha, apesar das melhorias dos últimos anos (e da construção de alguns reservatórios, poucos, muitos poucos), mas nem as lagoas disponível terão muito mais para fornecer em ilhas como o Pico e São Jorge.
Vem isto à colação por eu não perceber nada de sistemas hídricos, nem de riquezas artesianas e outras a nível freático, nem de agricultura ou de pecuária, mas aquilo que me parecia lógico (no século passado chamávamos a isso, normal senso comum) em 2008 quando lia os sintomas do aquecimento global, alterações climáticas, e outros eventos acontecidos ou previstos, ao ver as enormes cascatas e quedas de água aqui na costa norte da ilha de S Miguel sempre que chovia, era doloroso observar esse desperdício e pensava que o que era preciso (e nem era demasiado caro) seria a construção de tanques, reservatórios, barragens de retenção das águas pluviais para depois serem aproveitadas em diferentes fins…
Não o fizeram, mas ainda podem atalhar e começar agora …usem o PRR ou outros fundos e multipliquem esses reservatórios antes que as secas passem a ser a norma.
Extraio um excerto do que escrevi em 2008:
“HÁ UM CIDADÃO QUE NÃO SE CALA NA LOMBA DA MAIA, crónica 60, 22 novº 2008
Artigo subsequentemente publicado nos jornais:
http://www.correiodosacores.net/view.php?id=15668
15 novembro 2008 [Opinião]
http://www.correiodosacores.net Diga Leitor / Carta ao Diretor | 2008-11-18 12:34
http://www.acorianooriental.pt/noticias/view/176948
Falta de chuva origina cortes de água na Ribeira Grande
Regional 13/11/2008 08:11:8
A falta de chuva na ilha de S. Miguel está a obrigar a Câmara Municipal da Ribeira Grande a efetuar cortes noturnos no abastecimento de água em algumas zonas, segundo o vereador Jaime Rita, a pouca pluviosidade registada está a diminuir a pressão de água nas zonas altas do concelho, o que implica cortes noturnos para que os depósitos possam recuperar a capacidade…
O RESTO DA ILHA NEM SE APERCEBEU. Continuam felizes, sem darem conta da falta de água na costa norte, a esvaziarem o autoclismo em vez de o encherem de garrafas de água ou tijolos para preservar a água que temos. Esta ilha não para de me espantar. Desde que cheguei, biliões de litros vieram diretamente das nuvens para as ribeiras que os despejam no mar. Um equilíbrio perfeito com a natureza, que esqueceu a presença humana. Espero que alguém tenha lido sobre as mudanças climatéricas que se avizinham e comece a construir reservatórios maiores antes da ilha se começar a parecer com a metade seca de Santa Maria ou com a aridez de Cabo Verde. Nessa altura será tarde demais, a menos que nas terras altas, como na Lomba da Maia, tenhamos reservatórios suficientes para as necessidades e deixemos de depender dos que não cuidam de nós como prometeram antes de eleitos.”
Eu sei que os políticos têm desculpa e antecipo-me às suas escusas, não têm tempo de ler escribas como eu e o título ChrónicAçores não é muito apelativo para quem anda à caça de votos…
Chrys Chrystello*
*Jornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713