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Uma nuvem negra

O Grupo SATA é, desde há muito, um sarilho monumental: uma grande nuvem negra que paira sobre a nossa economia. Não sendo a única é, certamente, o líder incontestável dos problemas do sector empresarial do estado regional.
Para quem tivesse dúvidas, o grupo SATA apresentou resultados negativos de 45 milhões de euros no primeiro semestre de 2024, apesar de ter aumentado as receitas e o número de passageiros transportados! Desses 45 milhões apenas 9 milhões correspondem à SATA Air Azores, sendo o resto imputável à Azores Airlines.
Os números não mentem.
Um jornalista da nossa praça perguntava, referindo-se à Sata, se estamos perante má gestão ou loucura? Alguém, com bom sentido de humor, retorquia que o verdadeiro problema é a não gestão. Mas será imperioso juntar-lhe uma boa pitada de loucura e muita interferência política.
A Azores Airlines fez todo o sentido quando foi criada. O cenário de então não tem nada a ver com o actual, quer nas rotas para o continente quer para o mercado internacional, nomeadamente para os Estados Unidos. Foi uma verdadeira pedrada no charco e teve momentos de bom desempenho económico. Ajudou muito a pôr os Açores no mapa e a satisfazer as nossas necessidades de transporte.
Mas os tempos mudaram e muito, sobretudo com a vinda da companhias de baixo custo e do interesse de companhias aéreas americanas. Nos dias de hoje, aquela companhia não é imprescindível e terá, dada a sua pequena escala, pouca viabilidade num mercado tão competitivo como é transporte aéreo.
Fazendo, por tudo isso, todo o sentido, a sua privatização.
Tendo em atenção o que aconteceu na passada tentativa de privatização, será, contudo, um verdadeiro caminho das pedras que deveria, a nosso ver, ser percorrido com base num consenso entre partidos e de forma muito profissional. Tendo em conta as recomendações da Comunidade Europeia, mas, principalmente, tendo em conta que a sua venda será um passo imprescindível para a viabilização da SATA Air Azores.
Que se vão os anéis, mas fiquem os dedos.
A verdadeira joia da coroa é a SATA AIR Açores que, a bem dos Açores e dos açorianos, tem de ser salva e robustecida, a todo o custo. Um verdadeiro desiderato regional que não deveria ser missão exclusiva de quem está no poder e que, sobretudo, deverá ser objecto de uma gestão de excelência, pura e dura. Estancando as torrentes de incompetência, ineficácia e ingerência política que se tornaram a sua imagem de marca.
Não é o tempo de encontrar culpados, que são muitos, mas de ter uma visão clara para o futuro. O essencial, esperando-se que ainda seja possível, é assegurar ligações inter-ilhas de excelência que sirvam, em primeiro lugar, as nossas populações e que se tornem numa verdadeira ferramenta para o desenvolvimento da economia regional.
A compra da Azores Airlines poderá ser algo apetecível tendo em conta a nossa posição estratégica em relação ao Estados Unidos e ao Canada. Esses mercados são um grande trunfo (e talvez o único) com que poderemos vir a jogar. Mas isso implicará cortar as gorduras demasiadas que afectam a viabilidade da companhia e que tornam a sua venda muito problemática, como está provado.
Para tudo isto, terá de haver coragem para tirar a pequena política do dia-a-dia da equação. Seria desastroso que a SATA Air Azores “se viesse a afundar à boleia da Azores Airlines”. E não se vislumbra como evitar tal desastre a menos que haja, finalmente, uma epifania política que nos desvie do abismo.

Antonio Simas Santos

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