A Play é uma companhia aérea islandesa low-cost com uma frota de 10 aviões da família Airbus A320, que se especializou em ligar passageiros entre a América do Norte e a Europa, trocando de avião na Islândia, onde propõe voos de conexão imediata ou um stopover para conhecer a ilha. Este modelo de “hub” e stopover no meio do oceano soa familiar, certo? A Islândia, um país isolado, ultraperiférico, com uma população pequena e sujeita à força da natureza — desde a fúria dos vulcões à severidade dos seus invernos — depende muito do transporte aéreo, até mesmo para as ligações entre as cidades costeiras do país que contam apenas com uma longa estrada circular. Porém, ao contrário do que é feito noutros países, na Islândia o setor das companhias aéreas não é tratado como um tema de Estado, nem está dependente dos contribuintes islandeses. Estas empresas existem e operam de forma totalmente privada, com o Estado a atuar apenas como facilitador de políticas públicas: incentiva a pluralidade no setor, cria campanhas para atrair o turismo no Inverno, ajudando a combater a sazonalidade de toda uma rede de negócio, na qual se inclui o transporte aéreo. Ao perceber que Rei que já vi que, até então o único aeroporto internacional, se estava a tornar um funil, o governo islandês investiu na conversão de dois aeroportos domésticos para internacionais, um no norte e outro no leste, e lançou um programa para atrair novas companhias aéreas para estas regiões que está agora a colher os frutos dessa descentralização. No caso particular da companhia Play, nem tudo lhe terá corrido bem. O sonho de se tornar uma “ponte” entre os continentes não resultou como esperado. Embora a companhia tenha batido recordes de passageiros, de destinos e de receita, no final das contas o balanço financeiro é o que importa. E quando o resultado final é negativo, quem paga o prejuízo? Felizmente para os contribuintes islandeses, o fracasso da Play não lhes afeta diretamente o bolso e o setor aéreo está hoje suficientemente diversificado para seguir com uma autonomia saudável. A Play, por seu lado, está agora a rever a sua estratégia. A ideia de manter um “hub” para conectar dezenas de destinos americanos e europeus revelou-se insustentável e a nova abordagem será focar-se nos destinos mais populares para os próprios islandeses e nos principais mercados emissores de turistas para a Islândia. O destino final e ponto de partida será, naturalmente, a própria Islândia, em vez de tentar competir em 39 destinos entre os dois continentes com preços que não cobrem os custos operacionais e que dificilmente podem ser aumentados porque a concorrência neste eixo do Atlântico Norte é feroz e implacável.
Esta dose de realismo é precisamente o que falta à Azores Airlines. Não só o realismo, mas também a vergonha e a responsabilização da sua administração em relação ao uso de dinheiros públicos sob o pretexto de “ligar os Açores ao mundo e o mundo aos Açores”. A prática atual desta intenção poética resume-se a um ciclo caótico de prejuízos pagos pelos contribuintes e que pouco ou nada lhes beneficia. Basta experimentar viajar do Faial ou da Graciosa para Milão ou Barcelona via Ponta Delgada no mesmo dia. É impossível! Já fazê-lo de Boston ou de Toronto… é mais rápido, e por vezes, mais barato!
Enquanto a Islândia aprendeu a deixar as suas companhias aéreas evoluírem sem a intervenção direta do Estado, os Açores continuam a optar pela rota do desperdicio ineficaz dos recursos públicos. O que era para ser uma estratégia de conexão com o mundo tornou-se, na prática, num monopólio estatal centralizante, impenetrável, pouco eficiente e um fardo financeiro pago por todos os Portugueses. É tempo de uma nova abordagem, mais sustentável e menos dependente do contribuinte, para que a Azores Airlines possa, tal como a Play, focar-se em servir melhor quem realmente importa: os açorianos e todos os que desejam visitar o arquipélago. E já agora fazê-lo de forma lucrativa – yes, we can!
Pedro Castro*
- Consultor em Aviação Comercial e Turismo