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Homens que odeiam o público (III): José Bolieiro

A força forja-se na luta. Assim o terá afirmado Francisco Sá Carneiro, numa declaração amplamente citada por todos os líderes sociais-democratas das últimas décadas, com a eventual exceção de um ou outro, mais preocupados com a cor da laranja do que com o seu conteúdo. A força forja-se nas ações, nas medidas e nas convicções com que se faz política, seja ela partidária ou governamental.
Os Açores vivem tempos que requerem força, e obrigam à luta. Talvez mais do que nunca, desde a autonomia desta Região. Afirmo-o por constatar factualmente que o arquipélago está dividido, extremado e a caminho de uma crise de ideias e de finanças, que já cá está, mas irá piorar.
Exemplo claro disso é a rebaldaria com que tratam os trabalhos parlamentares, com palavrões, gritos e choradeiras infantilizadas. Quem conhece aquela Casa, que é primeiramente do povo, não pode ficar feliz com o que se assiste.
Há quem se esforce por meter água na fervura, mas a panela há muito que entornou.
Dizem as línguas mais acutilantes que foi por isso que o Parlamento instalou recentemente um desfibrilador automático externo. A coisa está cada vez mais imprópria para cardíacos.
José Manuel Bolieiro, no mesmo cumprimento de onda dos seus colegas e amigos na Madeira e em Lisboa, é um homem que granjeou equipas, oportunidades e lugares de poder para os que lhe são mais próximos. Fê-lo num equilíbrio teatral, com a vice-presidência a morder calcanhares, mas conseguiu cimentar a sua posição, publicamente consagrado com a vitória em 2024. Pelo caminho, tal como Albuquerque, foi saneando oposições internas, e promovendo uma cultura persecutória na administração pública. Bolieiro, na mais pura tradição neoliberal da sua escola alaranjada, não é particularmente fã dos serviços do Estado. Por ele, e pelos mais próximos, já tudo estaria privatizado, e o governo serviria apenas para ocupar técnicos especialistas nomeados e viagens ao Havai.
Assim se tem visto com as questões da saúde, que já vinha bastante fragilizada, depois de uma pandemia, e na onda de um arquipélago com muitas dificuldades de abrangência dos seus serviços. Pior ficou com a entrada de um hospital privado, e com o incêndio nas cadeiras dos gabinetes da secretaria e da direção regional, entretanto tornado literal com as chamas que lamberam o prédio público em Ponta Delgada. Clélio Meneses e Tato Borges que o digam.
A lenda da SATA continua a ser escrita, com nomeações políticas sem comprovada experiência profissional, e com uma narrativa de despesismo que ignora o precioso serviço que a companhia pública deveria continuar a prestar. Para o PSD e os colegas neoliberais, importa criar uma campanha de descredibilização que faça com que sejam as pessoas a pedir para privatizar a SATA. Depois havemos de nos queixar todos, dos atrasos, das refeições caras, das malas perdidas. Depois, será tarde. Como já o foi com tantos serviços. O aeroporto de Lisboa que o diga. E quando foi a última vez que uma encomenda dos CTT vos chegou a casa a tempo e horas?
Haveria muito mais para descrever sobre o processo de privatização da administração pública em curso nos Açores, mas o espaço é curto, e quanto falamos nas comparações entre Bolieiro, Montenegro e Albuquerque, não podemos esquecer as purgas, dentro e fora do partido, para o bem de uma realidade alternativa que eles querem construir, e onde serão reis e senhores, sem oposição.
Não podemos deixar de recordar os ciclos de despedimentos, afastamentos e processos legais que se sucederam na Direção Regional da Cultura, em anos recentes. Saíram profissionais de currículos comprovados para entrarem pessoas que poderão ser humanas, muito simpáticas, mas percebem tanto de cultura como Bolieiro perceberá de mandarim.
As purgas, por motivos políticos ou pessoais, não foram exclusivas da Cultura. Na saúde, na educação, nas finanças, e em tantos outros gabinetes, contam-se às dezenas os casos de pessoas que, tal como na Madeira, ou mais recentemente em Lisboa, foram sendo colocadas em prateleiras e armários, para ali ficarem esquecidas, por não concordarem com a linha partidária. No ambiente, a razia foi de tal forma que não sobrou um único diretor para contar a história. Na agricultura, o trabalho foi alegadamente feito em família. Nas pescas, nem um anzol decente restou naquela secretaria.
Há relatos – e não são poucos -, de reuniões onde foram discutidas estratégias para os Açores, com base em linhas ideológicas de continuidade com a anterior governação, e onde secretárias e diretoras regionais afirmaram que não podia ser assim, porque o partido tinha que se mostrar discordante com a anterior legislatura. O PSD, e o próprio CDS, consideram mais importante defender os seus do que defenderas açorianas e os açorianos.
Sabemos que Bolieiro, tal como os amigos na Madeira e em Lisboa, gostava de acabar com isto tudo. Para o atual PSD, numa linha não muito diferente dos colegas na Iniciativa Liberal e no partido do senhor Ventura, o importante seria criar o maior número de oportunidades privadas, para lá colocar os militantes e simpatizantes.
Depois, pouco interessa se uma consulta passar a custar trezentos euros. Eles entram de graça, porque são amigos.
Tal como denunciado no Funchal e na capital, importa também denunciar aqui. José Manuel Bolieiro e o seu executivo, odeiam o setor público. E por isso, não será difícil compreender o facto de odiarem também uma boa parte do arquipélago dos Açores.

Alexandra Manes

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