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Leite ao preço da chuva: fim da monocultura da vaca?

“Para um leigo como eu, o que me assusta é que os governantes não demonstram preocupações de maior. À opinião pública garantem que tudo está controlado, como se as dívidas do estado não fossem para saldar à custa dos contribuintes…”

  1. Nos últimos dias, ouve-se falar muito do aumento de reformas e pensões, do défice orçamental, da necessidade de utilizar as dotações financeiras da União Europeia (UE) no âmbito do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR) e no necessário aumento das verbas dos estados membros para a defesa comum, das pesquisas da marinha russa em águas profundas para detetar cabos submarinos e também dos bilionários que farão parte da Administração Trump, sem competência para o exercício da função.
    Por cá, fala-se das dívidas das Empresas e Instituto públicos regionais, no montante de 766 M€ e da dívida da Região que subiu para 3,6M€, valor que nenhum cidadão algum dia sonhou poder amealhar ao longo da vida.
    Para um leigo como eu, o que me assusta é que os governantes não demonstram preocupações de maior. À opinião pública garantem que tudo está controlado, como se as dívidas do estado não fossem para saldar à custa dos contribuintes…
    O dinheiro não dá para tudo. Por isso tem de haver decisões competentes, equitativas e justas sobre as prioridades, para que não se gere desintegração social e as instituições autonómicas não sejam desacredibilizadas.
  2. Longe vão os tempos em que os organismos representativas da Lavoura açoriana reivindicavam o aumento das quotas leiteiras para rentabilizar investimentos em equipamentos, na melhoria do efectivo bovino e das pastagens.
    Dessa luta de anos resultou uma série de apoios comunitários que beneficiaram o sector leiteiro e contribuíram para a designação de região verde, despoluída, produtora de leite de qualidade comprovada na União Europeia.
    Essa classificação, porém, não trouxe mais-valias aos pequenos agricultores. A maioria deles não atingiu um patamar social digno. Muitos tiveram mesmo de desfazer-se das suas manadas e virar-se para a produção de carne.
    A monocultura da vaca, criticada por vários analistas económicos, foi sendo substituída, paulatinamente, pela produção de gado de carne. Muitos agricultores cessaram a actividade e os jovens que pensavam dedicar-se à agricultura não seguiram a tradição familiar.
    O melhor exemplo da crise que se instalou na produção leiteira vem agora da Ilha Terceira e tem a ver com o baixo preço do leite em clamorosa diferença com o pago à lavoura micaelense.
    Porque os factores de produção de uma e outra ilha são praticamente idênticos, não compreendo que, ao abrigo da lei da oferta e da procura, o monopólio industrial se aproveite dessa situação, pagando preços irrisórios sem que uma entidade reguladora intervenha Nem a própria Federação Agrícola dos Açores que, em tempos, assumiu posições reivindicativas para o desenvolvimento da lavoura regional, toma agora posição em defesa dos produtores de leite terceirense… Algo vai mal nesta actividade económica e no associativismo agrícola para que não estejam todos do lado da justa retribuição do preço do leite.
    Será que foi a desunião que gerou o encerramento de cooperativas e de pequenas indústrias todas elas remodeladas ou construídas com verbas comunitárias, sem que daí se retirasse ensinamentos para os futuros investimentos e para o sector leiteiro no seu todo?
  3. É verdade que a economia açoriana, desde que me recordo, tem balanceado entre actividades diversas que envolveram todas as ilhas e atingiram elevadas produções industriais e um significativo volume de exportações.
    A indústria da caça à baleia existente em todas as ilhas desenvolveu uma série de indústrias afins, nomeadamente: a construção naval, a pesca propriamente dita, a extracção de farinhas e de óleo exportado para a Europa.
    Seguiu-se a indústria de conservas de atum que, ainda hoje, se mantém, embora de reduzida dimensão nas ilhas do Pico, de São Jorge e de São Miguel.
    Aquela atividade pesqueira teve, a jusante, uma importante indústria de construção naval, cujos estaleiros souberam acompanharam a evolução das capturas, a arte e os equipamentos náuticos, a dimensão e o conforto das traineiras preparadas para deslocações prolongadas.
    Desse saber fazer que a actividade marítima nos ensinou, o que nos resta para dar testemunho da uma actividade exportadora tão importante? Onde guardamos o cervo dessas memórias? Da caça à baleia, sim, existe. Mas da arte da pesca de salto e vara do atum, da actividade dos estaleiros navais e de alguma embarcação modelo, pouco ou nada resta, porque a maioria das traineiras foram abatidas.
    O mesmo devia acontecer com a História da actividade agrícola e a produção leiteira. Não é destes sectores económicos que se constrói a nossa identidade? A nova indústria do turismo, certamente agradeceria. E antes que seja tarde.
    O leite e o queijo que consumimos têm cada vez mais etiquetas de “produzido na UE”, enquanto os nossos ou são desvalorizados ou só constam do cardápio dos visitantes.

José Gabriel Ávila*

*Jornalista c.p.239 A

http://escritemdia.blogspot.com

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