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Presépio com 300 bonecos de panos do Pico da Pedra é tradição com meia centena de anos

Há um presépio de bonecos de panos na freguesia do Pico da Pedra com mais de meia centena de anos e que pode ser visitado por estes dias.
Com efeito, o tradicional presépio de bonecos de pano está exposto na casa do Povo do Pico da Pedra de 2ª a 6ª feiras, das 09h00 às 12h30 e das 13h00 às 17H30.
Este presépio foi todo confeccionado pela senhora Maria da Estrela Sousa, já falecida, que nasceu a 27 de Março de 1925, na freguesia de Rabo de Peixe, tendo falecido no Pico da Pedra, onde residia há já algumas dezenas de anos, no dia 14 de Maio de 2009.
Dona Estrela começou a fazer o seu presépio em pano depois de casada, quando já tinha dois filhos pequenos.
Vivia então no Pinhal da Paz, que o seu marido, João Pedro de Sousa, ajudou a preservar e a proteger durante vinte e dois anos.
Segundo contam os picopedrenses Gilberto Bernardo e Paulo Rosa Cabral, foi aí que, à luz do candeeiro de petróleo, nas longas noites do Advento, D. Estrela confeccionou os primeiros bonecos para o seu presépio. Quando veio morar para o Pico da Pedra, já possuía uma colecção considerável, o que lhe dava para construir um presépio que ocupava metade do seu quarto.
De ano para ano foi aumentando as cenas do seu apreciado presépio que passou a ser instalado no quarto maior da sua casa no número 15 da Avenida da Paz.

352 bonecos
feitos à mão

Desta sua inestimável obra, fazem parte 352 bonecos, moldados e minuciosamente vestidos de pano, feitos pacientemente à mão, que figuram num presépio que contempla algumas das principais cenas da Bíblia: desde o nascimento de Cristo, à sua fuga para o Egipto, à matança das crianças de Belém, até à última Ceia e Crucificação de Cristo, passando ainda pela Ressurreição de Lázaro, sentença de Salomão e Bodas de Canaã. Para além destes quadros Bíblicos, podem ser ainda apreciadas cenas que ilustram tradições, costumes e aspectos da vida quotidiana do nosso povo: matança do porco, uma procissão, os romeiros, os foliões, um grupo folclórico, pescadores, lavadeiras…
Foi assim que, durante muitos anos, pelo Natal, D. Estrela abria as suas portas para todos quantos quisessem apreciar o seu presépio que mantinha até ao dia 2 de Fevereiro, Dia das Estrelas.
Durante esse tempo, ganhou vários concursos de presépios a nível de Concelho e de Freguesia.
Teve a admiração de muitos forasteiros e dos picopedrenses que a 16 de Junho de 1993, em Sessão Solene na Sede da Junta de Freguesia, elegeram-na Cidadã Honorária em homenagem à sua arte e reconhecendo o seu contributo para o bom nome da freguesia.
Mas, o tempo não perdoa e a avançada idade desta virtuosa artesã aliada à doença e ao infortúnio de ter perdido o seu dedicado marido no decorrer do ano de 1995, que pacientemente a ajudava a armar o presépio, fizeram-na incapaz de continuar a sua laboriosa tarefa.
Empenhou-se muito para que o presépio se mantivesse nesta que considera a sua freguesia, e a partir de agora exposto na Casa do Povo do Pico da Pedra.
E é assim que nestes amontoados de farelo – povoados de figuras de trapos, excrescências recolhidas ao longo de uma modesta vida, nascidas de entre mãos resignadas de silêncio – vai todo o mundo de forças secretamente vividas.
Aqui repousa o colorido da sua inquietude, a impetuosidade da sua profunda religiosidade, o pitoresco da sua torrente ingenuidade, inocência do seu incontido ímpeto criador, o pulsar das suas emoções figuradas na admirável variedade da sua obra.
Testemunho de fé de quem, no seu mundo, criou a forma mais original de homenagear aquele que é o Senhor de todas as estrelas e de toda a Criação, concluem os investigadores picopedrenses Paula Rosa Cabral e Gilberto Bernardo.

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