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Traição aos emigrantes açorianos na Bermuda

Há um aspecto que não compreendo na relação dos Açores com a Bermuda, onde uma larga margem da população é de origem portuguesa, principalmente açoriana.
Em Novembro de 2024, o presidente do Governo Regional dos Açores, dr. José Manuel Bolieiro, acompanhado de uma comitiva, fez uma visita oficial à Bermuda, aproveitando – e muito bem! – a celebração dos 175 anos da emigração açoriana para aquele território, iniciada em 1849. O governante açoriano foi recebido pelas mais altas autoridades da Bermuda e contactou com muitos emigrantes açorianos e com diversas das suas estruturas associativas.
O presidente do Governo Regional a todos expressou o desejo de uma maior aproximação e de uma maior cooperação entre os dois arquipélagos. E pediu aos emigrantes açorianos para investirem na terra de origem, realçando que há muitas e novas oportunidades para o efeito, em diversos sectores.
Passados nem três meses, veio a companhia aérea açoriana SATA anunciar que deixará de voar para a Bermuda, justificando que é uma “rota deficitária”. Deixará também de servir outros destinos, com o mesmo argumento, mas a Bermuda é uma situação especial, por todos os motivos.
Poderão dizer que o Governo Regional é uma coisa e que a SATA é outra coisa. Mas isso é conversa para incautos ou distraídos. Tudo o que se faz e decide na SATA é com o conhecimento e a autorização do Governo Regional, porque a SATA é uma empresa pública regional, de resto muito politizada, como todos sabem, o que tem sido um dos seus grandes males. Já no tempo dos Governos Regionais liderados pelo PS a suposta autonomia funcional da SATA era mesmo só suposta e assim continua com a coligação governamental PSD-CDS-PPM. Não nos atirem areia para os olhos.
Portanto, o que fizeram, em bom português, foi uma traição à grande comunidade açoriana que vive e trabalha na Bermuda, uma comunidade muito laboriosa e prestigiada, como todos sabem também. Em resposta ao pedido do presidente do Governo Regional, os nossos estimados emigrantes certamente que agora dirão que investimentos nos Açores também serão “deficitários” e, nessa medida, não estão interessados… Os açorianos que vivem e trabalham na Bermuda poderão chegar aos Açores sem a SATA, mas, obviamente, com mais dificuldade e maior transtorno.
O presidente do Conselho de Administração da SATA, dr. Rui Coutinho, disse recentemente que a companhia aérea açoriana “tem uma estrutura muito pesada”, com “diretores para muita coisa”. São palavras dele, sem pôr nem tirar. Mas há quantos anos se ouve falar nisso e em outras “gorduras” na SATA? Parece-me que mais uma vez é conversa para incautos ou distraídos. É por essas e por outras que agora a SATA – ou a SATA Azores Airlines, o que vai dar ao mesmo – enfrenta dificuldades financeiras e vê-se obrigada a contradizer os propósitos anunciados com pompa e circunstância pelo presidente do Governo Regional de maior aproximação e maior cooperação entre os Açores e a Bermuda. Meus senhores: organizem-se, que já é mais do que tempo para isso.
Entretanto, o vice-presidente do Governo Regional, dr. Artur Lima, visitou recentemente São Tomé e Príncipe e admitiu a possibilidade de a SATA voar para aquela antiga colónia portuguesa, como se voar para São Tomé possa ser menos “deficitário” do que para a Bermuda. Mais palavras para quê? Repito: organizem-se, porque a confusão é muita.

Tomás Quental Mota Vieira

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