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O processo internacional dos memes na difusão cultural

O meme é uma unidade de informação cultural que se espalha na sociedade através da imitação. É constituído por uma ideia, comportamento, estilo ou tendência. O conceito de meme, introduzido pelo biólogo evolucionário Richard Dawkins no seu livro seminal O Gene Egoísta (1976), permite examinar o pulso social, político, e económico da sociedade, por vezes de modo dissimulado. Com componentes verbais e visuais, o meme é hoje um meio eficiente de comunicação.
A linguagem e os memes estão interligados com a dinâmica cultural. À medida que a cultura se altera, o estilo, o tom e o conteúdo dos memes também mudam, revelando novas tendências linguísticas e visões do mundo. Evoluindo como forma de expressão cultural, os memes moldam e são moldados pelas formas de comunicação usadas na perceção da realidade. Com as mudanças, os memes também popularizam gírias e jargões para captar a atenção.
O aumento da interação na internet impulsionou os memes, estabelecendo-os firmemente nesta tecnologia. Antes da globalização, os memes tinham uma origem mais remota, mostrando como a linguagem se adapta em tempo real durante a sua formação.
Há expressões açorianas, memes autênticos e divertidos, conhecidos há muitas décadas, talvez séculos, como o refrão «mais perdido que ceguinho em dia de procissão». Na componente verbal é dirigido a alguém desorientado ou confuso. Neste caso, o elemento visual, era o desenho de um homem de olhos vendados no meio de uma procissão com a legenda «estou tentando entender a fatura da luz». Nos Açores, este meme protestava nos anos 50 do século XX contra o estado da central elétrica, dada a frequentes apagões que deixavam a Horta — como a viu Manuel Ávila Coelho, gazetilhista exímio do vespertino O Telégrafo — envolta em «luz preta».
Naquela época, o povo denominava o hospital de saúde mental na ilha Terceira «a casa amarela». Ali se publicava um boletim com o título O irresponsável. Embora não fosse um meme no sentido atual baseado em imagens e compartilhado na internet, encapsulava a essência do humor e talvez até uma autodepreciação caricaturizante da própria instituição inadequada, subserviente à ditadura responsável.
A atual preferência por brevidade e humor, inseparável da comercialização do espaço publicitário quase subliminal na comunicação audiovisual, levou à minimização textual do meme de maneira a simplificá-lo para se apoiar em «bocas». A mensagem é exposta de modo verbal, oral e escrito, e com maneirismos e gestos por vezes chistosos e irónicos.
Na ótica popular dos comediantes, o meme assume relevo artístico e perspicaz. Amiúde, é um espelho das atitudes culturais e sociais. Insere humor em comentários maledicentes sobre eventos atuais, tendências geracionais e a rejeição, como o desespero coletivo sublinhando a absurdidade de situações específicas. Nas sociedades modernas, como nos Estados Unidos, apenas alguns segundos de exposição publicitária na pantalha da TV por vezes custam milhões de dólares.
A psicóloga Susan Blackmore concorda que os memes espalham informação cultural por meio da imitação, assim como os genes na reprodução biológica. Ela propõe que os memes desempenham um papel significativo na evolução. Alteram as conexões no cérebro humano através da neuroplasticidade, a capacidade do sistema nervoso central de se adaptar e modificar em resposta a novas situações ou mudanças no ambiente. Isso se reflete nos comportamentos humanos e no desenvolvimento do conhecimento e da aprendizagem.
Novas frases e expressões idiomáticas tiveram origem ou foram amplificadas pela cultura do meme antes de entrar no uso geral. Todavia, transportado pelos meios de expansão da globalização tecnológica, o meme transcende as fronteiras nacionais, misturando referências culturais numa linguagem digital partilhada pelo planeta através da banda desenhada, internet e redes sociais. Assim desafia muitas vezes as narrativas dominantes, o poder estatal e a autoridade autocrática.
O meme deu vida-a uma disciplina académica, a memética, dedicada ao estudo sistemático das memórias culturais e suas formas de transmissão e evolução, na qual colaboram várias disciplinas, incluindo a antropologia, a ciência da comunicação, a psicologia e a sociologia. A memética analisa como as ideias, comportamentos e informações são replicados e modificados na sociedade, explorando temas como a propagação de mitos, memes, narrativas populares e a influência da memória na cultura e na sociedade.
O meme oferece um interessante vislumbre da psique coletiva, mostrando como o humor, a criatividade e a comunicação se adaptam à sociedade em constante mudança cultural.

Manuel Leal

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