Há muito que trabalho o conceito de Complexidade, tendo como Referência o Pensamento e Obra de Edgar Morin, que foi um dos autores cujas conceções estão, em parte, na base do Documento “Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória”, cujas ideias foram explicitadas pelo Doutor Guilherme D’Oliveira Martins, uma Pessoa da Educação e da Cultura, que, aliás, sempre põe em relação e interligação Educação e Cultura.
Para trabalhar em Educação é preciso ter muita Paciência e Saber, sempre, Recomeçar, pese embora a pressão dos resultados e os vários processos e tipos de avaliação. A Educação não é uma atividade que se renda a qualquer positivismo ou ideologias de resultados. A Educação é como a Raiz, alimenta, mas, na sua essência, o melhor não é visível, por mais que se queira trabalhar por metas, objetivos e resultados. Os melhores resultados em Educação não se medem como resultados, mas como efeitos de profundidade nas pessoas dos alunos, nas pessoas dos professores, nas escolas e demais instituições educativas. O Currículo nasceu nas Letras a falar Latim, Curriculum Vitae. Há vários estilos e modos de ser professor e de estar na educação e, também, na investigação e modos plurais, igualmente rigorosos, de pensar e escrever em Educação. Dou como excelente exemplo o Professor Doutor António Nóvoa que nos seus escritos e intervenções recorre a várias aportações como a História, em que também é Doutorado, mas também aportações, de fundo, na Poesia, na Literatura, na Filosofia, na Pedagogia, entre outras fontes, em textos, contextos e intertextualidades. Quanto Saber e Métodos não são necessários para Educar, Investigar e Formar. Poucos como o Professor Doutor Manuel Ferreira Patrício pensaram e praticaram a Educação, Filósofo de Saudosa Memória, que tem uma Obra Notável, em muito ainda por descobrir neste Portugal que também em Educação e Formação anda ao sabor dos modismos e da espuma dos dias que não ficam como Tempo. Este é um Tempo para sermos mais e melhores. Manuel Ferreira Patrício ousou pensar a Fundo a Educação, sem neutralismos, muito menos positivismos, assumindo, à maneira da Fenomenologia, que não há objetividade sem subjetividade. Tem das Obras mais profundas e sapientes que já li em Educação, e tenho lido muito e temos muitos e muito bons professores/as e investigadores/as em Educação e Ciências da Educação e da Formação em Portugal. Pensou a fundo a Educação, a Cultura e a Escola. Pensou a Escola, que tem, deve ter, como matriz, a Cultura.
Temos, de facto, uma vasta plêiade de Educadores/as e Professores(as)/Investigadores, ao longo do tempo, que nos vão ajudando a pensar e a fazer a Educação e Formação. E nunca é de mais investir na Educação e na Valorização dos Professores. Com todos/as aprendo, mas sem cedências a fações ideológicas que fazem degenerar o Pensamento e a Ação, genuínos, em Educação. Assumir a Educação na sua Complexidade exige muita humildade e profundidade.
Pouco se aprende com definições, muito menos redutoras. Mas quando se avança para o ser da educação, entramos no campo imenso da Ontologia Educacional –, entre outros ramos, procurando buscar e entender o Núcleos Axiais da Educação em Valores.
Falando do ser da Educação, Daniel Hameline afirma que “a educação” é uma “irresolução essencial”. (1986, p. 206). Na realidade, parece que estamos sempre a recomeçar. Quem acompanhou, como eu, a então Reforma Educativa e Curricular, paralela (de certa forma), e posterior, à Lei de Bases do Sistemas Educativo/86, tem sempre presente questões fundamentais do Currículo e da Avaliação. Recordo-me que se tinha em conta cinco dimensões, que ainda guardam sentido, apesar das reformas e contra-reformas, ou talvez por elas. Para além dos vários conceitos – e conceções -, de educação e de currículo, que no tempo se foram redefinindo, e reconfigurando, tenho presente cinco dimensões na avaliação: atitudes, valores, conhecimentos, capacidades, competências. Esta última que tanto marcou as últimas décadas, com tantos equívocos, mas também dilucidações. Até que se veio a encontrar os meios termos e vimos como o Conselho Nacional de Educação (CNE) tem enfatizado os Valores na proporção em que os conhecimentos se apresentam como descartáveis. Temos de laborar em mudanças, permanências e incertezas. Mas é preciso não esquecer, que no seu sentido axiológico o Conhecimento é, em si mesmo, um Valor. Só à Luz da Complexidade (Edgar Morin e outros), podemos fazer, praticar e realizar a Educação. A Educação é, por natureza, complexidade. Mas essa complexidade há-de entender-se à luz de muitas dimensões, sendo os Valores nucleares e essenciais, sem essencialismo. É de extrema importância que o Conselho Nacional de Educação (CNE) dê ênfase aos Valores. No seu Parecer/Recomendações, nº 4/2017, podemos ler: “(…)” “Tal como indicado no Perfil, seja reforçada a importância dos princípios e valores, como fundamento para a construção de linhas orientadoras. Esta importância é por demais crucial num mundo em rápida e constante mudança. Nestas condições, os valores funcionam como âncoras que se pretendem mais resilientes que o próprio conhecimento ou as competências adquiridas:” (…)”.
Pensar e Fazer Educação exige uma Filosofia da Educação. Só a esta luz podemos buscar e indagar os Sentidos da Educação e desbravar os caminhos numa interligação percetiva entre passado, presente e futuro. As proposições são sempre interrogadas e testadas pelas interrogações no Campo complexo da Educação. Em Verdade, só o perguntar nos faz caminhar com Sentido.
Nota: Artigo publicado originariamente na Revista A Página da Educação, dezembro de 2024, pp:80-81, de expansão nacional, da qual sou Colaborador Permanente.Emanuel Oliveira Medeiros*Professor Universitário Universidade dos Açores
- Doutorado e Agregado em Educação e na Especialidade de Filosofia da Educação Centro de Estudos Humanísticos da Universidade dos Açores
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas