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SATA: O Plano do Plano?

A administração da SATA anunciou recentemente um plano de curto prazo para reestruturar a empresa, com o objetivo de enfrentar as suas graves dificuldades financeiras. O plano propõe uma série de medidas que, em muitos casos, aparentemente, se baseiam no mais elementar bom senso. Segundo foi noticiado, estas medidas permitirão poupar 65,3 milhões de euros já em 2025.
No entanto, esta revelação levanta mais perguntas do que respostas. A primeira questão é inevitável: se este plano é exequível, porque se esperaram quatro anos para o implementar? Porque se perdeu todo este tempo? As dificuldades da SATA não são novidade. A SATA tem acumulado enormes prejuízos revelando fragilidades estruturais que exigiam uma intervenção urgente e decidida há muito tempo. Por que razão este plano, aparentemente tão claro e direto, não foi implementado antes? De quem é a responsabilidade política por este atraso? Está na altura de a assumir sem pudores. O tempo perdido é irrecuperável.
Em segundo lugar, a execução do plano suscita sérias dúvidas. Nunca antes foi realizado algo similar, não havendo precedentes na indústria que sustentem tal abordagem. Estamos no final de janeiro, e as prometidas mudanças estruturais ainda não se materializaram. Pelo contrário, há relatos de percalços operacionais e atrasos, normais no sector, mas que apenas reforçam a ideia de que é muito difícil acreditar na exequibilidade do plano nos prazos anunciados.
A terceira questão é financeira e fulcral: como vai a SATA financiar-se durante este processo? Como em qualquer plano do género, algumas das medidas propostas podem gerar poupanças, mas estas não têm impacto imediato. Pelo contrário, várias exigem um investimento inicial significativo, enquanto outras vão demorar meses, ou mesmo anos, a produzir resultados concretos. Durante este intervalo, é inevitável que a empresa continue a acumular prejuízos, possivelmente durante anos. Sabemos que o Governo Regional está impedido de financiar diretamente a SATA devido a imposições da União Europeia. Assim, a pergunta é: Estará a banca disposta a assumir este risco? A que custo? Ou haverá outros mecanismos de financiamento em vista? Se a via será o aumento da dívida, e o correspondente aumento de custos financeiros, que já sufocam os resultados, de que forma se prevê superar esse óbice?
O Governo Regional já admitiu que toda a dívida da SATA será assumida pela região, leia-se: por todos nós. O que faltou dizer foi se a dívida futura também será suportada pelos cofres da região, como faltou explicar de que modo será feita tal assunção de dívida, dado que a região está impedida de o fazer. Como tal, o financiamento futuro é o ponto fundamental de todo este processo, porém sobre isso nada foi dito até agora.
Outra questão prende-se com os timings. A urgência das medidas necessárias à sobrevivência da SATA não está em consonância com os prazos deste processo. O atual Conselho de Administração tomou posse em julho de 2024, mas demorou mais de cinco meses para apresentar este plano. Esta demora é injustificável para uma empresa que claramente precisa de um plano de emergência imediato, mesmo sabendo que algumas medidas já foram implementadas ou estão em implementação. Era necessário agir com urgência há quatro anos, era necessário em junho, e é ainda mais necessário agora. Cada dia perdido aumenta a fragilidade da empresa e reduz as suas hipóteses de sobrevivência.
Por fim, a ausência de notícias concretas sobre o processo de privatização é um mau sinal. A perceção generalizada é de que a privatização não está a ser conduzida pelo Conselho de Administração, mas sim pelos decisores políticos. Nem poderia ser feita de outra foram. O problema é que o histórico não abona a favor do sucesso de processo em tempo útil e em condições que os Açores não saiam demasiado prejudicados. A responsabilidade pelo acumular de fracassos é, em última instância, política. O Governo Regional tem a obrigação de esclarecer qual é a sua estratégia para a SATA e de assumir a responsabilidade pelas decisões tomadas (ou não tomadas).
A SATA é uma peça fundamental para a mobilidade dos Açorianos e para a economia regional. No entanto, é também um dos maiores desafios financeiros e políticos dos últimos anos. Este “Plano do Plano” pode ser a última oportunidade para salvar a empresa, mas exige transparência, liderança e ação imediata. O tempo das promessas e dos planos já passou, agora é tempo de resultados.

André Silveira

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