Notícias vindas recentemente a público revelam a discórdia que crassa para os lados do Bloco de Esquerda depois de serem conhecidas (algumas) circunstâncias duvidosas nos processos de contratação e despedimento dos funcionários e auxiliares operacionais daquela força política. Ora, no dia em que o bloco se desfaça em dois, não será um dia de festa para a democracia. Mas no dia em que os líderes do bloco se justificam, gaguejando, dos seus atos pouco transparentes, esse sim, será um dia de celebração, porque acaba a arrogância e a hipocrisia de um discurso centrado na retórica do bota-abaixo.
Hoje está visto que o Bloco nunca quis ser um partido. Quis ser Bloco, um bloco de ideias, de princípios e de práticas. E mesmo com toda a moral e ética deste e do outro mundo, despediram, em bloco, mães a recibo verde que amamentavam, como ainda foram descer a avenida na luta contra a precariedade.
Santo imperialismo intelectual!
De modo que o bloco já não é o bloco. É partido, um banal partido de extrema-esquerda, cuja memória recente é um rasto de falência intelectual e política, e por conseguinte, cheio de propostas enviesadas para muitas das nossas instituições públicas e privadas. O bloco virou partido por iniciativa própria, e, como todas as alianças que só servem para destruir e botar abaixo, acabam em lençóis pouco asseados. Temos pena, contudo. De bloco granítico, experimentalista, progressista, focado nos problemas reais dos cidadãos (dos camaradas), acabam como personagens de Gil Vicente, condenados a embarcar para um rumo sem destino. São bons a encenar, mas péssimos a atuar.
Hoje, uma legião de militantes e de simpatizantes, chora, em bloco, partidos por dentro, um tempo que não volta mais. Tiveram o Olimpo, e deixaram-se ficar pelo Purgatório.
Luís Soares Almeida*
- Professor de Português
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