Faleceu domingo, dia em que a liturgia proclama as Bem Aventuranças, Monsenhor Weber Machado, 93 anos de idade, 66 de sacerdócio.
O velório decorreu na Capela do Imaculado Coração de Maria, Paróquia de São Pedro, onde o mesmo residia, na Ouvidoria de Ponta Delgada, e ontem, pelas 9h00 da manhã, houve celebração eucarística exequial, presidida pelo Ouvidor de Ponta Delgada, em representação do bispo de Angra.
O cortejo fúnebre seguiu para a Igreja Paroquial de Água Retorta onde, pelas 12h00, houve nova celebração eucarística, presidida pelo pároco e ouvidor local. O sepultamento foi feito no cemitério da localidade.
O padre Weber Machado Pereira era natural da Freguesia de Água Retorta, onde nasceu a 6 de Outubro de 1931, estudou no Seminário Episcopal de Angra, tendo sido ordenado em 29 de Junho de 1958, em São João de Latrão, em Roma.
Licenciou-se em Teologia Sistemática na Pontifícia Universidade Gregoriana. Mais tarde, licenciou-se em matemática na Universidade de Lisboa, em 1964. Foi professor do Seminário Episcopal de Angra e do Seminário Colégio Santo Cristo em Ponta Delgada.
Foi nomeado Monsenhor em Janeiro de 2006.
Após deixar a lecionação dedicou-se ao serviço da Cáritas de São Miguel, da qual foi o rosto mais visível, tendo-se empenhado na sua organização e correspondendo aos mais gritantes apoios dos pobres da ilha de São Miguel.
Toda a sua vida foi pautada por uma sensibilidade e compromisso especial pelos pobres, a quem socorreu através da ação social, mostrando as suas incidências concretas da fé na promoção de cada ser humano.
A denúncia foi sempre desde sempre companheira do Padre Weber, que se sujeitou aos cortes da censura que existia antes do 25 de Abril de 1974, passando depois a usar a liberdade que o 25 de Abril trouxe pautando sempre a sua intervenção pública com três verbos: Denunciar, Formar e Amar, procurando desse modo garantir direitos e ao mesmo tempo deveres que devem fazer parte do agir de um cristão.
A Diocese e a ouvidoria de Ponta Delgada endereçam a toda a família os “mais sinceros sentimentos de pesar”.
Bispo diz que é uma profunda perda para a Diocese
O bispo de Angra diz que o sentimento da Igreja açoriana diante da morte de Monsenhor Machado Weber é ” de uma profunda perda” de um homem “que envergou as vestes das bem-aventuranças”.
D. Armando Esteves Domingues, que está a realizar uma visita pastoral à Graciosa e que soube da morte do sacerdote micaelense depois da missa a que presidiu na Igreja de Santo António da Vitória diz que a primeira impressão que teve foi de “profunda perda, de um homem que deixou um profundo rasto de misericórdia na Igreja, para com os pobres e os mais desfavorecidos; um homem que envergou as vestes das bem- aventuranças”.
Para o prelado açoriano, o sacerdote nascido em Água Retorta, que foi ordenado em 1958 na Basílica de São João de Latrão, deixou um enorme legado.
“Alguém que era capaz de se sentar ao lado de quem chora e chorar com ele, que se sentava ao lado de quem sofria e sofria com ele, um homem que ao longo de mais de 50 anos fez com a vida esta opção fundamental com os pobres e pelos pobres; denunciou e confrontou a sociedade que não olhava para esta realidade e, sobretudo, encarnou na própria vida expressões concretas do que deve ser a atitude da Igreja que é sempre o olhar preferencial pelos mais pobres”, disse ainda D. Armando Esteves Domingues.
O prelado diocesano lembrou, ainda, o percurso de Monsenhor Weber Machado na Cáritas, mas sobretudo “na rua, quase um homem de rua com os sem abrigo, os sem pão, os sem roupa, que investiu tempo, bens e saber para a promoção destes últimos”.
“É uma sensação de perda de perda muito grande e por isso só posso pedir a sua intercessão, agora que parte para a vida eterna, que nos incuta este amor preferencial, que não deixe que a Igreja não olhe e se disperse por outras coisas secundárias e desvie o olhar do pobre, do irmão”, afirmou ainda o bispo de Angra que aproveitou a oportunidade para endereçar “a família e aos amigos, e sobretudo àqueles que com ele colaboraram nesta luta” as condolências em nome pessoal e em nome da diocese.
Bolieiro elogia justiça social
do Padre Weber
Também o Presidente do Governo dos Açores, José Manuel Bolieiro, reagiu à morte do Padre Weber, emitindo a seguinte nota:
“Foi com profundo pesar que recebi a notícia do falecimento de Monsenhor Weber Machado, um homem cuja vida foi pautada pelo compromisso com a fé, a fraternidade, a educação e a solidariedade.
Natural da Freguesia de Água Retorta, Monsenhor Weber Machado dedicou 66 anos da sua vida ao sacerdócio, tendo sido ordenado em Roma, na Basílica de São João de Latrão, em 1958. A sua formação académica, com licenciaturas em Teologia Sistemática e Matemática, foi colocada ao serviço da educação e da formação de gerações de jovens seminaristas e estudantes, tendo lecionado no Seminário Episcopal de Angra e no Seminário Colégio Santo Cristo, em Ponta Delgada.
Para além do seu contributo na área académica e religiosa, Monsenhor Weber Machado destacou-se pela sua incansável dedicação à ação social, sendo um dos principais rostos da Cáritas de São Miguel. A sua missão era clara: ajudar os mais necessitados, ser a voz dos pobres e dos marginalizados, colocando em prática os princípios fundamentais da caridade cristã e da fraternidade entre os homens.
Monsenhor Weber Machado foi também uma voz ativa na defesa dos direitos humanos e sociais, tendo enfrentado a censura antes do 25 de Abril de 1974 e, posteriormente, usado a liberdade conquistada para continuar a sua missão com coragem e convicção.
A sua vida, marcada por um profundo amor ao próximo e pela defesa intransigente da dignidade humana, é um exemplo inspirador para todos. A sua obra e o seu legado serão perpetuados na memória coletiva da nossa região e servirão de inspiração para que, no nosso dia a dia, possamos construir um mundo melhor, mais justo e solidário.
Os Açores têm sido terra de grandes figuras que, com o seu exemplo, marcam gerações. Uma dessas figuras foi Antero de Quental, poeta e pensador açoriano, que, tal como Monsenhor Weber Machado, defendeu a justiça social e o progresso da humanidade, sempre com um olhar crítico e uma preocupação genuína pelo bem comum. Que o seu espírito de luta e entrega sirvam de guia para todos nós.
Nesta hora de dor, expresso as minhas sentidas condolências à família, aos amigos, à comunidade religiosa e a todos aqueles que tiveram o privilégio de conhecer e conviver com Monsenhor Weber Machado.
José Manuel Bolieiro
Presidente do Governo dos Açores”