Os Estados Unidos têm desempenhado um papel dominante em conflitos globais, por vezes intervindo em disputas regionais com a confiança exagerada de que o seu poderio militar e económico lhes garante resultados favoráveis. A história regista, todavia, o erro deste pressuposto consistente. Do Vietname ao Afeganistão e ao Iraque, o envolvimento americano em conflitos estrangeiros revelou o malogro das intervenções militares.
Só por si as vidas perdidas têm um custo inimaginável e pungente, afetando, pais e mães, filhos, famílias e comunidades em luto doloroso. Não obstante os recursos astronómicos usados ao dispor dos EUA, saíram vencedores os povos defendendo as suas pátrias. Neste momento, à medida que os EUA definem o seu papel em Gaza e em outros pontos críticos do globo, há que reconhecer que a verdadeira liderança da maior potência mundial estaria em promover a paz e a cooperação, em vez de imitar as políticas agressivas de regimes autoritários.
A Guerra do Vietname (1955-1975) é um dos exemplos mais convincentes do excesso americano. Os EUA entraram no conflito acreditando que o seu poder de fogo e recursos superiores esmagaria os norte-vietnamitas e impediria a propagação do comunismo no sudeste Asiático. No entanto, a guerra tornou-se num fiasco embaraçoso, com as forças americanas incapazes de eliminarem a resistência guerrilheira inexorável dos vietcongues. A determinação do povo vietnamita em recuperar as suas terras superou as vantagens militares americanas, levando a uma retirada humilhante em 1975. Perderam a vida mais de 58.000 americanos.
Em 2001, os EUA lançaram uma intervenção militar no Afeganistão de represália contra os ataques terroristas de 9 de novembro. O objetivo era a destruição da Al-Qaeda e retirar os talibãs do poder. Bem-sucedidas no início em termos políticos e táticos, as armas americanas logo se encontraram enredadas numa renhida insurgência. Após 20 anos de guerra, triliões de dólares despendidos e mais de 2.400 vidas americanas perdidas, os invasores abandonaram o Afeganistão apressadamente. A vitória dos talibãs ilustrou de novo que o domínio militar não garante o sucesso a longo prazo.
A invasão do Iraque em 2003, baseada em falsas alegações de armas de destruição maciça, mostrou de novo os limites do poder dos EUA. Apesar de remover Saddam Hussein, a invasão causou o caos, conflitos sectários e a ascensão de grupos extremistas como o Estado Islâmico. A ocupação do Iraque esbarrou com a forte resistência dos insurgentes, levando a conflitos prolongados, instabilidade e muitas baixas americanas. Ao custo de milhares de vidas e mais de 2 triliões de dólares, a guerra mostrou que a intervenção militar frequentemente cria mais problemas do que resolve.
Em Gaza, o apoio inabalável a Israel, incluindo ajuda militar e diplomática, posicionou agora os EUA como interveniente fundamental no conflito. O envolvimento militar direto ou indireto acarreta grandes riscos. Tal como no Vietname, no Afeganistão e no Iraque, a história demonstra que as pessoas não entregam facilmente a sua terra ou identidade, independentemente da superioridade militar. A luta palestiniana pela autodeterminação sugere que nenhuma força militar poderá suprimir esta realidade.
O papel dos Estados Unidos em Gaza corre o risco de atiçar a tensão com as potências regionais, com consequências imprevisíveis, incluindo uma onda de ataques terroristas como já antes se verificou. Uma alternativa seria um esforço para facilitar démarches diplomáticas viradas no sentido de promover uma paz justa e duradoura. Isto significa a cessação das hostilidades e prosseguir com o cessar-fogo em vigência, mantendo a ajuda humanitária e uma solução política que reconheça os direitos e as aspirações tanto dos israelitas como dos palestinianos.
Resumindo, os fracassos das intervenções passadas indicam a necessidade de uma mudança na política externa americana. Em vez de confiar no poder militar, os EUA deveriam priorizar a diplomacia, o desenvolvimento económico e a cooperação internacional. A ideia de que a América pode ditar os resultados de conflitos regionais pela força é irrealista e contraproducente. Para realmente liderar no areópago político mundial como exemplo de interacionista confiável, os EUA precisam defender valores de paz e cooperação. A liderança genuína vem de um compromisso com a paz, a justiça e a cooperação assentes no direito internacional. Abandonando estratégias ruinosas do passado, os EUA podem ajudar a moldar um mundo mais estável e justo sem descurar na defesa dos seus interesses vitais e reagir de modo apropriado contra quaisquer agressões ou ameaças à sua integridade territorial e os meios militares e recursos económicos projetando no exterior a sua soberania e o seu potencial bélico incontestável.
Manuel Leal