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As Furnas de ontem e hoje e outras coisas

“Conheci as Furnas muito antes do 25 de Abril da Liberdade e da Autonomia, e a partir de 76 passei a morar em S. Miguel, concordei com as Leis Nacionais dos Domínios Públicos Marítimo Fluvial e Hídrico e com o princípio de que o que é público deve ser gozado por todos nós sem “invenções” de proteções artificiais ou “Reservas públicas” inventadas para fins bem privados ou pior ainda.”

As Furnas são um local muito especial para os seus habitantes e todos os Açorianos, principalmente os de S. Miguel que têm um acesso mais fácil.
Não é de hoje, começando por séculos anteriores, e com licença da autora Maria das Mercês Pacheco, retiro do seu ótimo livro “Viajantes nos Açores” algumas ideias e maneiras antigas de viver as Furnas e nas Furnas.
“Constituem os banhos quentes o grande atractivo das Furnas, sendo moda tomá-los de manhã cedo e, depois de uns goles de água férrea, esperar pelo almoço com o melhor apetite possível. Seguimos este método dos habitantes e com ele nos demos muito bem” – Joseph e Henry Bullar 1841.
“Graças à extrema generosidade do proprietário o Exmo. Visconde da Praia , aos visitantes deste vale é permitido passear e relaxar na propriedade; são mesmo fornecidos, para os acomodar e conversarem à sombra de magníficas árvores, bancos e cadeiras confortáveis. No Domingo à tarde, enquanto a banda tocava, muitos dos habitantes passeavam prazenteiramente, parecendo gratos pelo privilégio e sem perturbar as flores ou as árvores.” Rupert Swindells 1877 .
“ Por baixo de nós corre a Ribeira Quente , cujas águas bem carregadas de ferro e enxofre brilham em tons de amarelo-dourado sob a luz do sol ; inunda os campos de inhames de folha larga”. “Os banhos foram construídos pelo governo há alguns anos e são totalmente gratuitos. Para além destes, há uma dúzia de banhos privados, mas o governo estipulou que, por cada privado que é construído, o proprietário também tem de construir outro ligado à mesma nascente para uso do público “Herman Canfield 1892, The Azores as a Health Resort.
Isto, estes exemplos de liberdades e garantias de fruição dos bens públicos, e até privados, passa-se no século 19, ainda na Monarquia a terminar, e poucos anos depois, no princípio já da República, morreu o meu Avô das Furnas; ainda tenho uma costela de lá.
Conheci as Furnas muito antes do 25 de Abril da Liberdade e da Autonomia, e a partir de 76 passei a morar em S. Miguel, concordei com as Leis Nacionais dos Domínios Públicos Marítimo Fluvial e Hídrico e com o princípio de que o que é público deve ser gozado por todos nós sem “invenções” de proteções artificiais ou “Reservas públicas” inventadas para fins bem privados ou pior ainda.
A Autonomia, principalmente os arautos do turismo de massas, com que tem sido conivente, tem promovido de várias formas a exclusão dos Açorianos de vários locais que eram tradicionalmente utilizados por todos, nem sequer reservando lugares de estacionamento – NO RENTACAR- como vi em muitos lugares de turismo de massas, Canárias incluídas e nenhum pagamento, a manada que pague, estão cá para isso.
Começando pelas Cascatas, que agora chamam Caldeira Velha, estive no grupo que fez o primeiro dique com pedras e troncos; ia-se de dia ou de noite, acho que ainda muitos se lembram. Depois de destruírem a cascata, com um furo geotérmico desastrado, fecharam e fizeram aquelas casinhas lindas e poças de cimento e entrada de campo de concentração, tudo, claro, para nos proteger, finalizando com um sistema de marcações que é a especialidade deles e ao gosto da manada turística.
Segue-se a entrega do Ilhéu da Vila Franca, com falsas declarações de reservas, só para o papel, e só no Verão da manada, 4 meses (no Inverno ninguém nem os “ investigadores”) e de que havia animais raros no ancoradouro, que é o que era “areia” e a montagem de mais um sistema de exploração, excluindo os habitantes que deviam ter prioridade numa coisa que é sua, mas também ficou para a manada, com o resultado lindo que vimos este ano passado, dos milhões de bactérias por todos os locais subtraídos e não eram nossas.
Na Dona Beija foi pior. Arranjou-se um daqueles pareceres “científicos de perigo imediato, “entulhou-se” selvaticamente um sítio lindo e único no mundo com calhaus, gastou-se mais de um milhão dos nossos euros a destruir a ribeira para fazer umas poças em betão, depois entregues ao “Património da Junta de Freguesia de Furnas”, de duvidosa Constitucionalidade, e na mesma placa “Explorado pela Empresa Privada ”Criações Naturais”, desde 2014/15, portanto sem concursos públicos? Mais de dez anos? E, claro, já nem há bilheteiras, os Açorianos que se lixem, deixem de trabalhar como a manada. Eu não os encontrei, bem como quaisquer contas prestadas ou dinheiros entrados na Junta ou na Câmara vindos dali, se sabem mandem-me por favor, adorava saber quanto dinheiro a manada deixa na pretensa Beija e em que “melhorias” tem sido utilizado nas Furnas ou na Povoação.
O Tribunal de Contas, que estranha e investiga tantas coisas muito menos esquisitas, podia esclarecer os cidadãos para onde vai o dinheiro da água quente de todos nós, sim porque a situação legal é essa mesmo; até a água quente do Parque Terra Nostra também é propriedade de todos nós, embora, neste caso, as contrapartidas, como o tanque, parque e jardim, de investimento e manutenção própria a mereçam, mas como em todos os locais que utilizam recursos dos Açorianos, estes talvez devessem pagar menos que os milhares da manada e ter uma reserva de acesso.
Comparemos isto tudo com os textos acima com mais de 120 anos, há ou não um retrocesso civilizacional enorme de conforto e preocupação de serviço aos cidadãos?
em nome do vil metal, ainda por cima muito desigualmente distribuído, e em muitos casos até por quem nem está nem vem cá, só recebe. E é pena porque também há bons exemplos na Lagoa do Fogo e na recusa do Sr. Secretário do Ambiente em entregar o Pico aos guias pagos, seriam aí a peso de ouro.
Na Ferraria tudo tem corrido bem, mesmo quando tem muita gente e os dois quadradinhos de fita-cola mantiveram as ilegais, tristes, estúpidas e caras barreiras abertas, retirando a tentação e intenção de alguém as atirar pela ribanceira abaixo, como da outra vez; a manada não gosta da zona de água muito quente, que não afasta os locais, mas as Termas e os balneários, depois daqueles 5 milhões deitados ao lixo, mereciam melhor, apesar do muito trabalho dos que lá estão, que conseguiram tornar a água quente da piscina transparente.
Este fim de semana, com os locais da manada fechados, tomamos nós e alguns estrangeiros civilizados, que também os há, e são muitos felizmente, dois belos banhos quentíssimos na Poça da “Tia Silvina“, construída pela Junta de Freguesia do Vale das Furnas 1999 como diz a placa.
Só faltariam mais 11, também gratuitos, para recuperarmos o nível civilizacional do século 19.
Mas hoje vi no jornal que, em vez de arranjarem aquele e fazerem mais, parece que o vão destruir fazendo um complexo grande com 4 piscinas termais de várias temperaturas. Mesmo assim, ficariam a faltar 8, mas o projeto parece bonito, desde que não seja como o desastre de milhões das Piscinas da Povoação e continue gratuito e garantido como a Tia Silvina, como deve ser apenas para os Açorianos e residentes permanentes? Ou escorrerá dinheiro público, mais uma vez na construção e depois para onde? Ou será desta que acaba tudo no Tribunal Constitucional, que tem aquele entendimento esquisito que a Autonomia e o Governo tem de partilhar e perguntar antes de mexer nas águas, rios e ribeiras e no mar, mesmo nas Reservas dos 30% que, com exemplos destes, de entrega total aos não–Açorianos ainda acabam afinal no mesmo tipo de utilizações “exteriores” apesar dos 10 milhões lá afundados; para já (espero que fossem deles sejam lá quem forem).

João Paim Vieira

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