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O significado do carnaval na história e tradição

O carnaval é mais do que uma simples festa. Representa uma tradição muito antiga, com um significado histórico, cultural e até psicológico. Em Portugal, assim como no Brasil e noutros países de língua portuguesa, o carnaval é uma explosão de alegria. As pessoas dão largas a liberdades que de outro modo seriam restritas. A folia permite uma pausa nas normas e hierarquias sociais, promovendo um sentido de igualdade, liberdade e coesão comunitária. Na teoria de Mikhail Bakhtin* o carnaval por vezes pode mesmo ser visto em termos de comunicação como um diálogo com as estruturas do poder. A crítica lúdica fortalece ao mesmo tempo os laços societais.
Desde as suas origens em antigos festivais romanos, como Saturnal e Lupercalia, o carnaval evoluiu para uma celebração vibrante que transcende as fronteiras culturais. A sociedade celebrava-o com banquetes, danças e inversões de papéis sociais. Com a expansão do cristianismo, estes ritos pagãos foram transformados num período de indulgência antes do jejum solene da Quaresma.
Em Portugal, o carnaval é uma explosão de alegria, permitindo que as pessoas escapem temporariamente às normas e hierarquias sociais. Isto promove um sentimento de igualdade, liberdade e coesão comunitária.
Portugal teve um papel importante na disseminação das tradições do carnaval pelo mundo. Na época dos Descobrimentos, marinheiros e colonos portugueses levaram esta celebração para o Brasil, influenciando o que mais tarde se tornaria um dos maiores carnavais do planeta. Além da influência das tradições portuguesas, com o tempo os ritmos africanos e indígenas fundiram-se com estes costumes, criando espetaculares desfiles de samba.
Portugal tem as suas próprias tradições ricas e diversas. Cidades como Torres Vedras e Loulé** organizam grandes desfiles com carros de alegoria mordaz, fantasias hilariantes e muita música. Ao contrário das festividades mais estruturadas de Nova Orleães, o carnaval português destaca-se pela mistura de expressões ricas em cores, organizadas e espontâneas.
Nos Açores, particularmente em São Miguel, o carnaval é marcado por bailes de máscaras e as populares «Danças do Entrudo», espetáculos de teatro da rua.
Na Terceira, o «Carnaval das Danças e Bailinhos» é outro grande evento cultural, com grupos amadores a fazerem censura a personagens e outros temas locais.
No Faial o carnaval tem sido celebrado de modo semelhante. Durante dias consecutivos, grupos de amadores ensaiam pequenas peças teatrais de censura social e temática insulares. Depois percorrem várias localidades, expressando juízos velados em tom jocoso.
Em Nova Orleães, o Mardi Gras desenvolveu-se a partir de tradições católicas francesas e espanholas, embora também se possam encontrar resíduos portugueses e brasileiros no gosto pelas máscaras impressionantes e atuações da rua. Na Itália, o carnavale de Veneza também projeta estas marcas vagas relembrando, dizem alguns observadores, os grandiosos bailes de gala que um dia tiveram lugar nos palácios portugueses.
O carnaval possui um significado cultural e simbólico, partilhado como tema universal nas diferenças regionais. Antes da Quaresma, como em muitos países católicos, o carnaval português representava a última oportunidade para as pessoas se entregarem a condutas excessivas antes do período de jejum e reflexão. Permitia à sociedade escapar temporariamente às normas sociais, utilizando máscaras para ocultar identidades. As óbvias limitações religiosas exercidas durante um século ou mais, têm diluído bastante nas últimas décadas.
Numa perspetiva psicológica, no carnaval as pessoas ignoram o stress das pressões quotidianas. A festa inebriante funciona como um escape emocional. Para algumas, as máscaras e fantasias coloridas criam a sensação de liberdade desmesuradas sem consequências. Estudos recentes revelam que as cores vibrantes do carnaval — vermelho, amarelo, verde — influenciam o estado de espírito e a energia dos intervenientes.
O carnaval permite uma interrupção temporária da ordem social, mas dentro de um quadro aceite pela sociedade. Este «caos controlado» tem uma função libertadora, fomentando a criatividade e a espontaneidade sem desestabilizar o equilíbrio social.
Escritores e poetas portugueses há muito que referem o carnaval nas suas obras. Autores como Eça de Queirós e Fernando Pessoa exploraram temas de disfarce, elementos essenciais da experiência carnavalesca. Até as canções de fado, por vezes, refletem o contraste entre a alegria do carnaval e a melancolia do regresso à normalidade.
O carnaval é uma celebração vibrante que transcende as fronteiras culturais e geográficas. Combina tradições históricas, expressões culturais ricas e proporciona alívio psicológico.

Manuel Leal

*Bakhtin, M. (1984). Rabelais and His World. Bloomington: Indiana University Press.
**Henriques, P.M.J. (2015) Carnaval de Torres Vedras: história e identidade (Tese de Mestrado). Lisboa: Instituto Universitário de Lisboa.

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