Podemos considerar que a parentalidade é, em muitos aspetos, um grande baile de máscaras. Entramos no papel, ajustamos expressões, moderamos tons de voz e, a cada dia, ensaiamos novas formas de dançar ao ritmo dos desafios que os filhos nos colocam. Ora somos a máscara da paciência inabalável, ora a da firmeza inquestionável, ora a do humor estratégico, que nos salva das birras no corredor dos cereais. E, entre uma e outra, espreita o nosso rosto verdadeiro, com todas as emoções cruas e intensas que a parentalidade nos faz sentir.
Os nossos pais e avós usavam máscaras bem diferentes. A autoridade era a coroa de glória da sua parentalidade e a obediência, o seu maior troféu. Não se discutiam sentimentos – e, se se discutissem, provavelmente ficavam para segundo plano, que a vida não estava para sensibilidades. Resultava? Talvez. Mas também deixou cicatrizes invisíveis em muitos que hoje se vêem a educar os próprios filhos de forma diferente, procurando romper com um ciclo onde o medo e a repressão se confundiam com respeito.
A nós, pais desta geração de crianças que sabem negociar antes mesmo de saber amarrar os atacadores, cabe-nos equilibrar esta dança. Não queremos a rigidez de um baile de máscaras veneziano, onde tudo é solenemente inalterável, mas também não podemos transformar a parentalidade numa paródia onde os limites são tão maleáveis que se dissolvem como serpentinas ao vento. No meio deste desfile de emoções, há dias em que nos sentimos os mestres de cerimónias da alegria e outros em que mais parecemos foliões exaustos, a tentar manter o brilho no olhar enquanto a bateria do samba (ou o choro estridente das crianças) toca sem intervalo.
O desafio dos nossos tempos não é impor pela força nem ceder por exaustão. É encontrar a máscara certa para cada momento – e saber quando a podemos tirar, mostrando às nossas crianças que também sentimos frustração, cansaço e incerteza. Mais do que nunca, sabemos que a perfeição não é real, e que ser um pai ou uma mãe excecional não significa não errar, mas sim ter a humildade de reconhecer, corrigir e seguir em frente.
Os novos tempos ensinaram-nos a ouvir os nossos filhos, a validar os seus sentimentos e a ensinar-lhes que a sua voz tem valor. Isso não significa que a nossa deixe de ter, mas sim que o respeito deixou de ser um caminho de sentido único. No entanto, não podemos cair na ilusão de que basta deixá-los expressar-se para que cresçam bem – porque, tal como nós, também eles precisam de estrutura e de um norte. Educar é, no fundo, um equilíbrio entre escutar e guiar, entre compreender e corrigir, entre soltar e segurar.
Se há algo que aprendemos ao longo das gerações, é que a parentalidade não é um guião fixo, mas um improviso constante. Às vezes, vamos acertar na máscara certa; outras, vamos tropeçar no próprio disfarce. Mas, no fim, talvez seja isso que nos torna autênticos – e, quem sabe, esse seja o segredo para educarmos crianças que não precisem de máscaras para serem felizes.
Fique bem, pela sua saúde e a de todos os Açorianos!
Um conselho da Delegação Regional dos Açores da Ordem dos Psicólogos Portugueses.
Júlia Raposo*
*Psicóloga