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Não se precipitem! Há outras alternativas

“A política exige transparência e inteligência na toma de decisões e esta determinará, certamente o nosso futuro e o das gentes destas ilhas.”

A entrada de Carlos Tavares ex-presidente executivo da Stellantis e do empresário Paulo Pereira da Silva no consórcio Newtour/MS Aviation para a aquisição de 76% da Azores Airlines, pelo montante de 15,2 milhões de euros, é notícia desta semana.
O empresário luso-francês Carlos Tavares foi CEO de uma multinacional, a quarta maior construtora de automóveis do mundo, com 15 marcas, entre as quais a FIAT, Peugeot, Opel, Citroen, Alfa Romeo, Jeep e DS.
P.Pereira da Silva, segundo o Expresso online, é “empresário ligado ao turismo e ao sector agroalimentar (Quinta da Pacheca). Ambos fariam parte do consórcio, sem que a sua participação ultrapassasse os 49%, permanecendo assim minoritários.”
A entrada destes dois accionistas no futuro capital da Azores Airlines deixou o Presidente do Governo satisfeito por o grupo angolano MS Aviation ter triplicado a proposta inicial.
Segundo a análise do júri, o concorrente que viu recusada a oferta de 5,5 milhões de euros não demonstrou ter “músculo financeiro” para suportar e viabilizar a operação.
A MS Aviation tem como acionista a companhia aérea angolana BestFly World Wide, que opera voos comerciais e tem uma operação de jatos executivos. Esta empresa detinha uma concessão atribuída pelo governo Cabo Verde para voos inter-ilhas, mas o serviço deteriorou-se por falta de aviões, ao ponto de ter suspendido os voos em 2024. 1
Com nove aeronaves a voarem para cinco países europeus (Itália, Inglaterra, França, Alemanha e Espanha), Cabo-Verde, Estado Unidos, Canadá, Madeira, Açores e Continente Português, a Azores Airlines é fundamental para garantir a mobilidade dos açorianos do arquipélago e as ligações com a diáspora e é um parceiro fundamental para o sector turistico. Sem esse meio de transporte as gateways do Faial, Pico e Santa Maria não funcionariam, já que a TAP se desinteressou em prestar esse serviço público.
Contrariando todos os bons serviços prestados e o crescente aumento de visitantes, está o elevado montante da dívida da Azores Airlines de cerca de 400 milhões de euros. Segundo o Expresso, a venda da companhia será livre da dívida, sendo esta assumida pelo Governo dos Açores.
Um negócio com estes contornos não é fácil de explicar aos açorianos. Sendo eles os contribuintes líquidos e os beneficiários dos orçamentos e políticas públicas regionais, devem os governantes e agentes políticos, económicos e sociais pronunciar-se, claramente, sobre tão séria e difícil decisão que terá consequências imediatas nos domínios económico e laboral, na mobilidade e no aproveitamento das infraestruturas aeronáuticas existentes.
A política exige transparência e inteligência na toma de decisões e esta determinará, certamente o nosso futuro e o das gentes destas ilhas.
A vida de muitos açorianos continua penalizada pela falência do BANIF, antigo Banco Comercial dos Açores, vendido juntamente com a Açoriana de Seguros. O processo judicial ainda continua e os pequenos investidores que acreditaram no antigo BCA, mantendo lá os seus negócios e poupanças, foram levados por produtos tóxicos que lhes roubaram os ganhos de uma vida de privações. Quem os protegeu? Ninguém.
A Azores Airlines não pode transformar-se num BANIF, numa Caixa Económica Açoriana ou num Banco do Faial. Os Açores que criaram esta transportadora aérea com capitais públicos não podem abrir mão dela por qualquer montante.
Desde que se decidiu parcialmente privatizá-la questionei-me por que não agrupar investidores locais e da diáspora, ligados aos transportes e ao turismo, para concorrerem à privatização da empresa que se manterá como empresa mista.
Adquirir uma transportadora aérea, livre de dívidas, com reconhecido e fiável serviço, por 15,2 milhões de euros, parece-me, a mim, leigo na matéria, uma pechincha.
Esta semana foram anunciados investimentos hoteleiros para a orla litoral do Cais do Pico, em fase de construção, no montante de 40 milhões. Outros existem de montantes elevados no mesmo sector. Não vale mais a Azores Airlines que leva longe o nome dos Açores e representa motivo de orgulho para todos nós?
O processo de privatização da Azores Airlines deve ser repensado para se tentar envolver o empresariado açoriano e os pequenos investidores. Como aconteceu inicialmente com o capital da TAP, nos anos 60 em que participaram pequenos acionistas.
Qualquer decisão precipitada pode redundar num irreversível fracasso económico para a Região e para a mobilidade dos açorianos.
Esta deve ser uma preocupação dos responsáveis e de todos nós, já que são os açorianos que, sem serem tidos nem achados, vão pagar a dívida dos 400 milhões de euros.
1 https://expresso.pt/economia/2025-03-19

José Gabriel Ávila*

*Jornalista c.p.239 A
http://escritemdia.blogspot.com

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