Nos cerca de 37 anos que estou a viver no Continente português, tenho conhecido personalidades de vários sectores e com diferentes competências que gostam muito dos Açores e que têm beneficiado muito este arquipélago, sem que estejam à espera de recompensas pecuniárias ou outras. Uma dessas personalidades foi o dr. Salvador Alves Dias, que faleceu há poucos dias em Lisboa, aos 79 anos de idade. Não tenho quaisquer dúvidas em afirmar que estas ilhas ficam-lhe a dever muito em termos de promoção turística, realizada durante muitos anos.
Ele foi jornalista, locutor e realizador na velha Emissora Nacional e também diretor da RDP-Radiodifusão Portuguesa, onde trabalhou durante mais de trinta anos. Na antiga Rádio Comercial, então também estação pública, foi realizador do “Conta-Corrente”, programa pioneiro de informação turística e que fez história na Comunicação Social portuguesa.
Culto, competente e educado, Salvador Alves Dias colocou, efectivamente, o turismo como importante atividade económica no topo da agenda nacional ao realizar o programa “Conta-Corrente”, por onde passaram muitas personalidades, nomeadamente governantes, autarcas, empresários, representantes das regiões de turismo e dirigentes associativos. Em várias ocasiões, o turismo e as potencialidades turísticas dos Açores foram tema em debate e análise, com repercussões positivas, obviamente, para estas ilhas.
Licenciado em Comunicação Social pela Universidade Nova de Lisboa, Salvador Alves Dias foi presidente da Associação de Jornalistas e Escritores Portugueses de Turismo, que foi substituída pela Associação Portuguesa dos Jornalistas de Turismo, que fundou e a que também presidiu. Foi, igualmente, dirigente ao mais alto nível da European Travel Press/Associação Europeia dos Jornalistas de Turismo e da Fédération Européenne des Associations de Journalistes du Tourisme.
Além disso, foi formador no Centro Protocolar de Formação Profissional para Jornalistas, o conhecido e prestigiado CENJOR. Lecionou, do mesmo modo, nos Institutos Superiores Politécnicos de Setúbal e de Viseu.
Durante vários anos, o dr. Salvador Alves Dias foi o responsável pela organização e funcionamento do Gabinete de Imprensa da Bolsa de Turismo de Lisboa. Existia sempre muita e diversificada documentação, nomeadamente, sobre as várias regiões de turismo portuguesas, incluindo, como é óbvio, Açores e Madeira, que ele visitou por diversas vezes, de resto, em deslocações pessoais e profissionais. Jornalistas portugueses e estrangeiros procuravam o Gabinete de Imprensa da Bolsa de Turismo de Lisboa à procura de informação especializada. A todos atendia com muita disponibilidade e notável competência.
Em sucessivos anos, a Agência Lusa destacou-me para cobrir a Bolsa de Turismo de Lisboa. Foi no âmbito dessa missão profissional que conheci Salvador Alves Dias, a quem fiquei a dever muito apoio e muita amizade. Como eu era jornalista da Lusa, ele dizia-me com graça: “Eu conto contigo e tu contas comigo para a divulgação da Bolsa de Turismo de Lisboa”. Sim, era verdade. Além da feira de turismo propriamente dita, frequentada por milhares de visitantes, decorriam, nomeadamente, conferências de imprensa de governantes do sector, colóquios de associações empresariais e ações de grupos económicos turísticos para anunciar investimentos ou cooperação internacional. Como me era impossível estar ao mesmo tempo em tantos eventos, Salvador Alves Dias arranjava-me sempre textos ou documentos de discursos, intervenções ou declarações para efeito de notícia ou reportagem.
Almocei e jantei com ele algumas vezes nas “tasquinhas” da Bolsa de Turismo de Lisboa. Descontraído e bem humorado, nunca me deixou pagar nada. “É oferta da casa”, salientava, referindo-se ao Gabinete de Imprensa que ele tão empenhadamente dirigia. Muito conhecedor do sector turístico em todas as suas vertentes e muito conceituado entre os agentes turísticos, ele teria dado um grande Secretário de Estado do Turismo, mas não o souberam aproveitar para tal missão governamental, o que foi pena.
Vou recordar sempre o dr. Salvador Alves Dias como uma excelente pessoa, um excelente jornalista e um excelente amigo. Manifesto aqui respeito e gratidão à sua memória. Pelas razões expostas, o seu nome, sem dúvida ilustre, não pode nem deve ser ignorado ou esquecido nos Açores.
Tomás Quental Mota Vieira