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Diário da Ditadura The Times They Are A-Changing (Os tempos estão de mudança)

Ainda outro dia mencionei aqui a emissora de rádio americana da Base das Lages. Se bem me lembro havia um programa às 3 da tarde que transmitia música moderna. Naquela altura, anos 60 do século XX, era onde ouvíamos os grandes artistas de rock-and-roll, os tais que os nossos pais diziam que só faziam barulho a gritar e a bater em latas. Aquilo de música tinha pouco, avisavam-nos. E, claro, a fama dos consumos de drogas e vivências estravagantes por parte daqueles guedelhudos e suas pindéricas namoradas, que nem usavam soutiens, eram o suficiente para os mais idosos nos tentarem afastar daquelas poucas-vergonhas.
Foi também graças aos americanos que tive a oportunidade de ver o documentário “Woodstock”, no cinema da Base, ainda antes, dizia-se, de ter passado no circuito comercial português. Nem sei como conseguimos entrar, talvez com o empurrão de um militar português, pai de algum amigo. Estava eu preparado para dizer que também era militar, levava comigo um cartão falso, fardado da …Mocidade Portuguesa. Os americanos, dentro das suas seguranças, sempre deram muitas facilidades aos terceirenses, o que eles queriam era vender hamburguers, pirexes no BX e bilhetes para o cinema. Agora, os tempos estão mudados, não haverá tantas portas escancaradas, imagino eu.
Claro que não posso voltar aos tempos do rock-and-roll da minha juventude. Aquele género de música ficou sempre comigo, mesmo depois de ter passado anos e anos de trabalho na Califórnia em que não ouvia no rádio senão notícias e reportagens do trânsito nas autoestradas, para facilidade de trabalho. Mas, esta semana, dei um salto no Tempo. Ou o Tempo deu-me uma volta e trouxe até à minha salinha um filme que me deixou consolado, uma interpretação de parte da vida do famoso músico e poeta Bob Dylan. Devo confessar, para sossego os mais puristas, que os discos dele foram, para mim, um pouco dificultosos para entender, mais por causa da dicção do que de outra coisa. Para mais o sr. Dylon, que não participou na versão original do “Woodstock”, foi agraciado com o Nobel da Literatura em 2016, pela sua obra poética. E foi aí que o filme me despertou mais atenção, o ter-me apercebido melhor da sua poesia, principalmente o poema que usei como título da crónica.
No princípio da carreira Dylon compôs algumas músicas e poemas de raiz interventiva, embora a sua falta de continuidade nesse campo tivesse originado o afastamento dele e de Joan Baez, essa sim uma lutadora ímpar. Mas as suas músicas e as de muitos outros rock-and rollers embelezaram momentos de luta, de manifestações contra as guerras, de campanhas de trabalhadores e sindicatos (as Uniões, como aqui se diz), de desprotegidos e dos desamparados. Durante a visualização do filme ouvi dezenas de canções que me alertaram para o facto que há a necessidade premente de os americanos se envolverem muito mais na luta pelas suas liberdades e direitos sociais. Não são as canções que resolvem os problemas, não são as músicas que ajudam os tribunais a discernir os factos, não são os poetas que escrevem os artigos de opinião nos jornais, não são os filmes que substituem as reportagens honestas das televisões. Só ajudam. Somos todos nós, os amantes da verdade e da liberdade, que temos que dar as mãos e avançar, pacífica, legal e corajosamente, contra a teia que as monstruosas aranhas preparam para nos envolver.
Os Tempos são de mudanças, mas nós é que temos de assumir a nossa defesa.
A Liberdade não cai do céu em bandejas de prata.

“Avança e vem reunir-te aos outros
Venhas de onde vieres
E admite, que ao teu redor
O nível das águas subiu
Aceita que em breve estarás molhado até aos ossos.

Se o teu Tempo te merece poupança
Então é melhor começares a nadar
Para que não afundes como uma pedra
Porque os tempos estão de mudança.

....

A linha está traçada
A maldição está lançada
O que é lento agora
Mais tarde será rápido
Tal como o que é Presente
Mais tarde será Passado
A Ordem desaparece depressa
E o que é primeiro agora
Brevemente será o último
Porque os tempos estão de mudança.

João Bendito

(Peço desculpa ao Bob Dylan por esta desajeitada tradução de parte do seu lindo poema)

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