“A paixão pelas raízes arquipelágicas e a visão estratégica, impulsionaram recentemente Emílio Cabral a investir num empreendimento turístico em São Miguel, um dos territórios onde o turismo mais cresce nos Açores.”
Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é indubitavelmente a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico e político.
Nos vários exemplos de empresários lusos da diáspora, cada vez mais percecionados como um ativo estratégico na promoção e reconhecimento internacional do país, destaca-se o percurso notável e de sucesso de Emílio Cabral.
Natural de Santa Clara, freguesia do município de Ponta Delgada, na ilha açoriana de São Miguel, Emílio Cabral partiu em 1969, aos 10 anos de idade, com os pais para o Canadá. Um dos mais importantes destinos para muitos emigrantes portugueses, em particular açorianos, que nessa época, marcada na pátria de origem pela estreiteza de horizontes, falta de liberdade, pobreza e guerra colonial, partiram para a América do Norte à procura de melhores condições de vida.
O trabalho, esforço e resiliência, valores coligidos no seio familiar, transformaram o emigrante ponta-delgadense num proeminente empresário da numerosa comunidade portuguesa, presente no segundo maior país do mundo em área total, onde se estima que atualmente vivam mais de meio milhão de luso-canadianos.
Para tal, muito contribuiu o facto, de no alvorecer da maioridade se ter lançado na área da construção civil, adquirindo uma experiência socioprofissional que combinadas com capacidades extraordinárias de trabalho, mérito e inovação, impulsionaram o empresário luso-canadiano a criar em 1986 a Regional Sewer and Watermain.
Uma empresa com atividade no setor da construção civil, sediada em Cambridge, cidade localizada na província canadiana do Ontário, com 140 mil habitantes, onde um terço da população é luso-canadiana, inicialmente especializada em esgotos para bairros residenciais. Mas que, com o passar dos anos passou também a incidir a sua área de atuação na construção de estradas e bairros de grande dimensão.
Uma das empreitadas mais conhecidas do emigrante açoriano na América do Norte, foi inaugurada no início do séc. XXI, mormente o Whistle Bear Golf Club, situado em Cambridge. Se em termos de comprimento, o Whistle Bear Golf Club é o maior campo de golfe do Canadá, nos últimos anos destaca-se ainda, por ser um espaço icónico ao nível da realização de casamentos de luxo.
A paixão pelas raízes arquipelágicas e a visão estratégica, impulsionaram recentemente Emílio Cabral a investir num empreendimento turístico em São Miguel, um dos territórios onde o turismo mais cresce nos Açores. O investimento de cinco milhões de euros, num setor cada vez mais essencial para o desenvolvimento do país, contribuindo significativamente para a economia nacional, regional e local, consubstanciou-se no decurso do passado mês de março, na inauguração do Azores Homes Resort & Spa.
Uma nova infraestrutura de alojamento turístico localizado na Fajã de Baixo, em Ponta Delgada, composta por nove vilas exclusivas, cada uma representando as nove ilhas dos Açores, e que realça paradigmaticamente a importância da diáspora no desenvolvimento e projeção do território arquipelágico, e conjuntamente de Portugal, no mundo.
Um relevante investimento de um emigrante açoriano, que reforça assim a atratividade turística do território arquipelágico, um setor de atividade que constitui já um dos principais motores económicos dos Açores. Como sustenta o Serviço Regional de Estatística dos Açores (SREA), no ano transato o arquipélago registou 4,3 milhões de dormidas e 1,3 milhões de hóspedes, representando um acréscimo face ao ano anterior de 12,4% e 9%, o valor mais elevado desde que há registos (2001).
Uma das figuras mais conhecidas da comunidade portuguesa em Cambridge, no sul da província canadiana do Ontário, a trajetória de vida de Emílio Cabral, e o seu recente contributo na valorização do território arquipelágico, e concomitantemente de Portugal, aviva a conspeção queirosiana que arrosta a “emigração como força civilizadora”.
Daniel Bastos