Decorreu durante a semana que passou uma parte da campanha nacional para as eleições legislativas, resultado de uma acesa discussão entre partidos com acento na assembleia da República e após o líder do partido do governo de modo unilateral decidir apresentar uma moção de confiança.
O resultado, após duas moções de rejeição apresentadas por outros tantos partidos que não foram aprovadas, ocorreu a queda do governo e marcação de eleições praticamente ao fim de um ano das últimas realizadas, por queda de outro governo, e que nos vai custar mais cerca de 40 milhões de euros na sua concretização.
Não fossemos um país pobre e despesas destas nem sequer teriam efeito no erário público. O problema é que este dinheiro, obtido em 2024 dos nossos cerca de 35,4% de impostos, poderiam muito bem ser aproveitados em qualquer das muitas áreas carenciadas da economia, do social, da educação ou da saúde.
A apresentação da moção resultou de uma teimosia de Montenegro em tornar público alguns documentos na assembleia da República, os quais posteriormente disponibilizou apresentando uma listagem de empresas com quem trabalhou na sua empresa “caseira”.
Teria este seu ato sido consumado quando foi solicitado, ainda com a assembleia da República a funcionar com os seus plenos poderes, e teríamos evitado o gasto em novas eleições – os tais cerca de 40 milhões de euros.
Sendo muito mau, isto – quanto a mim – não é o pior. O pior é – está a ser ainda por mais uns dias – o paupérrimo espetáculo que os partidos em geral e através dos seus representantes estão a dar ao País, a um povo que genericamente falando demonstra estar farto de eleições e de candidatos e partidos tais como eles se apresentam.
Considero, de algum tempo a esta parte, que Portugal tem um enorme deficit de verdadeiros políticos sendo os atuais de qualidade duvidosa, como aqueles que todos os dias nos entram em casa pela janela televisiva ou pela rádio ou mesmo nas arruadas e jantares. Torna-se necessário homens/mulheres que tenham não só a devida formação para tal, mas apresentem carisma e honestidade para servir os portugueses.
O “deficit” é enorme e aqueles que poderiam ser verdadeiros líderes não o querem ser, pois eles próprios avaliam o estado pobríssimo em que esta classe se encontra atualmente – muitos falam com um português duvidoso de assuntos de que só lêem cabeçalhos na comunicação social, enganando-se nos números de que falam ou desenvolvendo pensamentos/teorias que não conhecem – e consequentemente preferem continuar a desenvolver as suas atividades profissionais, onde bastas vezes usufruem de prestígio e rendimentos muitíssimo superiores ao de qualquer governante.
Genericamente só vai para a politica quem não sabe fazer mais nada ou hipoteticamente e devido à sua formação académica e profissional ganha bastante mal. Consequentemente somos nós cidadãos que recebemos, muitas vezes de braços abertos e aos beijos e abraços, aqueles que não tendo cabimento qualitativo suficiente nas outras atividades profissionais admitindo-os na politica nacional ou regional.
Os programas dos partidos políticos que nos são apresentados – como o do Chega com várias centenas de páginas e parecendo um álbum fotográfico do líder do partido em numerosas poses de modelo – são para além de intragáveis pouco elucidativos daquilo que os partidos pretendem fazer, caso obtenham o poder (o que felizmente não passa de uma ilusão de algumas semanas) e reflete algumas ideias acerca do que está mal no País, mas não clarificam como pretendem atuar para solucionar estas verdadeiras chagas económicas e sociais.
Até porque muitos destes problemas nacionais vão sucessivamente passando de um programa para outro, de legislatura em legislatura, sem que se atinjam os objetivos propostos.
E os problemas, sem qualquer ordem pois todos eles são prioritários para nós e para os nossos familiares, estão relacionados com a habitação, a saúde, a educação, a pobreza em geral e mesmo a energética ou o apoio estatal a certas situações de índole socioecónomica prementes.
Perante tantos partidos concorrentes ás legislativas, ou mesmo considerando apenas aqueles existentes na assembleia da República, não acredito que os cidadãos eleitores alguma vez se sintam seduzidos a ler os conteúdos dos diversos programas políticos. Não acredito igualmente que a maioria dos filiados leiam os respetivos programas, assumindo que seria ótimo se pelo menos os candidatos conhecessem os seus conteúdos
A quase totalidade dos eleitores quando muito, se houver paciência, faz a sua avaliação pelo que querem dizer publicamente os candidatos e em parte o que dizem os “milhares” de comentadores televisivos que bastas vezes defendem as suas cores partidárias e, parece incrível, ainda recebem bom dinheiro por isso.
J. Rosa Nunes
Prof. Doutor