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O Antídoto para o Chega

O surgimento e a ascensão do Chega no sistema partidário português representaram um ponto de inflexão no cenário político nacional. Classificado pela generalidade dos analistas como um partido de extrema-direita, o Chega tem mobilizado setores sociais descontentes com os modelos tradicionais de representação democrática.
A ascensão do Chega deve ser compreendida, em parte, à luz da crise da representação nas democracias liberais ocidentais. O enfraquecimento dos partidos tradicionais, a crescente tecnocratização da política e a alienação de largos segmentos da população favoreceram a emergência de discursos antissistema. Sabendo ocupar esse vácuo, o Chega tem se apresentando como uma força contra o sistema, “próxima do povo” e distante da elite política.
A frustração, acumulada com os escândalos de corrupção, a lentidão da justiça e o agravamento das desigualdades socioeconómicas criou o terreno fértil para o crescimento do partido. Pelo que, antes de demonizar o eleitorado do Chega, é preciso entender as condições que tornaram esse discurso atraente e mobilizador.
A linguagem do Chega é marcada por uma retórica emocional, moralizante e simplificadora. Encarnando essa lógica, criou uma narrativa de denúncia, preferencial, dos políticos do sistema, dos privilegiados, dos imigrantes criminosos e das minorias étnicas. Construindo uma dicotomia entre o “povo puro” e as “elites corruptas”.
Estratégia discursiva que mobiliza afectos — raiva, medo, ressentimento — em detrimento da racionalidade política. Um antídoto eficaz, portanto, não deve simplesmente confrontar o Chega com as suas mentiras ou com indignação moral, mas reconstruir uma linguagem política capaz de mobilizar afectos positivos, como empatia, solidariedade e esperança.
Um dos pilares fundamentais do combate à extrema-direita é a aposta na educação democrática. O enfraquecimento da memória histórica — nomeadamente sobre o autoritarismo do Estado Novo — e a desvalorização da cidadania crítica nas escolas contribuem para o crescimento de propostas autoritárias e revisionistas. “Uma educação orientada para a liberdade e para o pensamento crítico é essencial para formar cidadãos resistentes ao discurso de ódio e à manipulação ideológica”.
Não basta responder ao Chega com retórica e ataques políticos, é necessário corrigir as mentiras e demagogias que alimentam o seu discurso. É, essencial, promover reformas profundas na justiça, um combate eficaz à corrupção, uma maior proximidade das instituições ao cidadão comum e políticas públicas centradas na inclusão social.
Sendo, também, fundamental abordar temas como a segurança, a imigração e habitação sem tabus, mas com responsabilidade e humanismo. Quando a esquerda e o centro político deixam de ocupar esses espaços discursivos, o populismo radical toma-os de assalto como temos visto naquilo que a extrema-direita transformou em seu “ex-libris”.
O Chega é, antes de tudo, um sintoma: um reflexo das fracturas de um sistema que perdeu a capacidade de ouvir, proteger e representar amplos sectores da população. O verdadeiro antídoto para o seu crescimento não reside em proibições, silenciamentos ou indignações ocasionais, mas numa profunda renovação democrática. Esta renovação exige coragem política, compromisso ético e capacidade de imaginar um futuro comum que seja, de facto, para todos.
Tendo sido os partidos do centro (PS e PSD), os grandes responsáveis pela criação do caldinho em que medra a extrema-direita deveriam ser eles próprios a desenvolver o antidoto para o Chega. E são apenas eles que o podem fazer, fugindo ao papão do bloco central ou outras aleivosias que tais, mas formando um governo estável e livre de vedetismos.
A grande maioria dos eleitores não quer, comprovadamente, um governo de direita, mas um governo de centro. A história de um governo de direita é uma mais uma narrativa iniciada pela extrema-direita e, não, o que mostram os números. É tempo de acabar com os egos políticos hipertrofiados e as maleitas clubísticas e olhar para o País real que espera maturidade e sentido de estado.
“Se esse governo for bom, governar bem e incluir ministros competentes e sérios, não se vê por que diabo a extrema-direita iria crescer. Se tal governo não for corrupto, for ao mesmo tempo determinado e democrático e saiba ouvir as populações e sentir as suas necessidades, não há espaço para extremos, para partidos radicais nem para partidos populistas”.
Têm a palavra decisiva os partidos do centro: seja em coligação ou com acordo de incidência parlamentar. De boas intenções está o inferno cheio.

António Simas Santos

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