Edit Template

O poder do voto

Decorrem os últimos dias de uma campanha eleitoral que deveria estar ao rubro. Desde os dias inglórios da Primeira República que já não se sentia um clima de instabilidade política tão aceso. Ou pelo menos alguns querem vender-nos essa narrativa. Todavia, o que é mais certo é que nem sequer parece que estamos propriamente em campanha. Na televisão passam os debates e os comícios, com as entrevistas repetidas e remastigadas até à exaustão. Nas ruas, ouvimos as músicas em repetição, saídas de carrinhas travestidas em molduras para as caras das senhoras e, na esmagadora maioria, dos senhores candidatos. Deveria ser coisa para nos empolgar. Para nos obrigar a refletir. Para nos orientar pensamento.
Mas não é, pois não? Quantas e quantos de nós sentem verdadeiramente a véspera das eleições? Quantas pessoas deram a devida importância a esta campanha? Já leram o programa dos partidos? Sabem alguma medida concreta?
Nos Açores, salvo raras exceções, a campanha eleitoral resume-se, como quase sempre, às visitas/reuniões com direito a espaço televisivo e às redes sociais, algo que para alguns era inconcebível, até perceberem que estas são uma ferramenta que, devidamente utilizada, consegue uma abrangência enorme. Aqui pelas nossas ilhas já restam muito poucas iniciativas para um político que se queira destacar e inovar. E neste caso, nem é preciso propriamente um destaque. Os candidatos são, na generalidade, os mesmos. As mulheres parece que continuam escassas no Atlântico. É quase como se fôssemos uma terra de conservadores e machistas com elevados índices de violência doméstica e repressão social.
A AD transformou esta campanha, num cenário de vitimização diluída em mentira, em que a eleição se resume a uma espécie de final do festival da canção, onde estamos a torcer pelo mais bem vestido ou pela miss simpatia. É lamentável assistir ao declínio do pensamento livre e da massa crítica. Fomos empurrados até esta miséria de ato eleitoral, na qual muitas pessoas estão literalmente na dúvida entre a espada e a parede.
Pelo caminho, o país voltou a estar parado. Os governantes utilizam este tempo para desculparem a sua incompetência. Mesmo nas regiões autónomas, são muitas as vozes que correm nos bastidores a desculparem-se com a velha máxima portuguesa: “isso só lá para depois das eleições, e mesmo assim não sei, porque depois mete-se o verão e sabem como é…”
Sabem, não é? O velho truque do apagão e do deslumbramento. Os populistas sedentos de tomar o palácio. E os palacianos inquietos e desinsofridos, prontos para lhes entregar as chaves. Pelo caminho, perdem-se as causas legítimas e as lutas necessárias. O 25 de abril passa para maio e o Zeca Afonso canta sobre os sonhos do menino da província que só queria uma empresa para dar aos filhos. Não se fala na pobreza galopante. Não se recordam os números assustadores na educação e na saúde. Escudam-se os engravatados na imigração e na deportação, tomando o exemplo do Rei-Sol do outro lado do oceano.
Também aqui falhamos totalmente nestes assuntos. Compromissos com a república que podiam estar a ser resolvidos ficaram para trás. Falou-se de casos e casinhos, mas faltou perceber a razão pela qual os Srs. Deputados da AD, eleitos pelo círculo eleitoral dos Açores, permitiram a imposição de um teto máximo de 600 euros, para a aquisição de uma viagem para o restante território nacional, por exemplo. Mas, agora, é que vai ser. Agora é que Paulo Moniz e Francisco Pimentel pretendem reverter essa situação vergonhosa, imposta pelo seu governo. Até à campanha eleitoral, a coesão territorial era algo supérfluo. Tiveram sorte com a queda do Governo, facilitada por eles próprios. Agora, podem bradar aos céus o seu descontentamento com tal.
O texto desta semana não é mais do que um desabafo, de quem passou pelo mundo da política, de quem lutou por uma realidade de proximidade, e vai agora, como sempre, ao boletim eleitoral, encarando-o como um direito e um dever cívico. Votei antecipadamente. Votei certa e em consciência da necessidade de Portugal mudar de rumo. Votei à Esquerda, acreditando que o Futuro é Já. Um voto consciente de que quem executa os projetos são as pessoas e que esses projetos não podem ser uma série de discursos que não se adequam às práticas, conforme dá jeito às lideranças políticas.
Por tudo o que possam identificar de errado na política, é fundamental votar. Hoje, mais do que nunca. Mas, também, seria fundamental exigir mais da nossa classe política. Obrigar a retomar procedimentos e a centrar ideias e temáticas, para que o outro senhor, com o seu coelho e a sua trupe de malfeitores, não chegue lá.
A política necessita de ser empática, com uma aproximação diária às pessoas e às suas necessidades. Que mais nenhuma mulher ou homem pensionista tenha de ouvir, por parte de um primeiro-ministro, em campanha, que a culpa das baixas pensões é resultado da sua carreira contributiva.

Alexandra Manes

Edit Template
Notícias Recentes
Em Março a remuneração bruta total média por trabalhador nos Açores foi de 1.457 euros
“Semana dos Açores” com gastronomia, workshops, um mercado e música em Lisboa
Lagoa assinala Dia Internacional dos Museus com visitas guiadas ao Convento de Santo António
Sérgio Rezendes destaca contributo do Centro Municipal de Cultura para o desenvolvimento dos futuros artistas
Clube Naval de Ponta Delgada organiza a 3ª prova Campeonato Regional de Vela
Notícia Anterior
Proxima Notícia

Copyright 2023 Diário dos Açores