O Governo da República aprovou, ontem, através da Portaria n.º 270-A/2025/1, a Estratégia Nacional para a Gestão da Macroalga Invasora Rugulopteryx okamurae, uma espécie exótica originária do Pacífico que tem vindo a disseminar-se de forma alarmante ao longo da costa portuguesa, com especial incidência no Algarve e em Cascais.
Esta medida lança pelo governo da républica surge como resposta aos impactos ecológicos, económicos e sociais causados pela rápida proliferação da alga, cujas densas acumulações degradam a biodiversidade marinha, afetam a pesca, a fruição balnear e a atividade turística.
A estratégia nacional agora em vigor assenta em cinco pilares: monitorização e alerta precoce; resposta operacional; valorização e gestão de resíduos; investigação e inovação; e coordenação institucional e participação pública.
Nos Açores, onde a Rugulopteryx okamurae foi detetada pela primeira vez em 2019 na costa sul de São Miguel, a resposta tem vindo a ser construída de forma integrada com a academia e as entidades públicas regionais.
A Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores alertou, em Setembro de 2022, para os riscos da propagação desta espécie, que atingiu já diversas ilhas, e que em algumas zonas tornou-se dominante, cobrindo totalmente o substrato rochoso submerso.
A Resolução da Assembleia Legislativa n.º 33/2022/A determinou um conjunto de recomendações urgentes ao Governo Regional, nomeadamente o controlo de águas de lastro e cascos de navios, a deteção precoce em portos e a realização de ações de sensibilização junto de comunidades piscatórias e turísticas.
Em Julho de 2023, a Secretaria Regional do Ambiente e Alterações Climáticas lançou um concurso público para a realização de um estudo científico abrangente sobre a alga invasora, em colaboração com a Universidade dos Açores.
Este estudo, financiado através do Fundo Ambiental e orçado em 200 mil euros, visa conhecer a origem da alga nos mares do arquipélago, a sua biologia, os seus vetores de propagação e o seu eventual potencial económico.
O presidente do Governo Regional, José Manuel Bolieiro, sublinhou que “é essencial capacitar a região com conhecimento científico que permita uma gestão eficaz do fenómeno, tanto em meio marinho como nas zonas balneares”, destacando os riscos para a saúde pública, o turismo e a pesca regional. São desconhecidos, até ao momento, os resultados do estudo encomendado pelo Governo dos Açores.
Entretanto, a Universidade dos Açores avança, em nota informativa, refere que o Instituto de Investigação em Ciências do Mar – OKEANOS -Uac, destacou-se no “13th International Congress of Marine Biotechnology”, que decorreu em Brest, França, entre 7 e 11 de julho.
O evento contou com a participação do docente Raul Bettencourt e do doutorando João Moreira, ambos investigadores do OKEANOS-Uac que têm vindo a desenvolver trabalhos de investigação sobre a Rugulopteryx okamurae. A comunicação oral dos investigadores intitulada “From Ecology to Innovation: Unlocking the Biotechnological Potential of Algal–Microbial Interactions in two Azorean macroalgae” esteve integrada na sessão temática “Marine Algal Omics and Biotechnology”.
O trabalho revelou os mais recentes resultados sobre os microbiomas associados às macroalgas invasoras Rugulopteryx okamurae e Sargassum sp., evidenciando o seu potencial biotecnológico para a inovação sustentável.
Os resultados promissores sobre o potencial biotecnológico da alga demonstraram que poderá ter aplicações, sendo possível transformar um problema ecológico numa oportunidade económica.
A ameaça da Rugulopteryx okamurae obriga a uma vigilância constante e a uma ação coordenada entre diversas entidades públicas e privadas.
Com a ativação imediata da Estratégia Nacional e o avanço dos estudos ciêntificos feitos nos Açores, espera-se que a resposta à Rugulopteryx okamurae ganhe robustez e sustentabilidade, protegendo os ecossistemas e valorizando a economia azul.