“Nos jovens dos 13 aos 15 anos, o uso de cigarros eletrónicos é alarmante, com 14,3% a referir consumo – a taxa mais alta globalmente – valor três vezes maior do que a dos adultos.”
Os temas da semana: tibieza no combate ao tabagismo na Europa
Quanto aos assuntos que se destacaram na Saúde, a nível mundial, na semana passada, começo por África, onde soubemos que em mais de 200 instituições de saúde, na região afectada por conflitos, há escassez de medicamentos, devido aos saques e às interrupções na cadeia de fornecimentos, com cerca de 90% das clínicas sem stocks essenciais. Informação conhecida na semana do lançamento virtual da “4ª Conferência Internacional de Saúde Pública em África” (CPHIA 2025), onde se destacaram as prioridades para o continente.
Entretanto, em Guangdong registou-se o maior surto de chikungunya, com mais de 4.000 casos confirmados desde Julho, concentrados em Shunde, Foshan, tendo-se espalhado para Guangzhou, Shenzhen, Hong Kong e Macau. A doença, transmitida pelos mosquitos Aedes, causa febre, dores articulares intensas e pode levar a sintomas crónicos, não havendo tratamento específico ou vacina autorizada.
Um sismo de magnitude 6,5 atingiu Mindanao, levando a potenciais impactos na saúde pública, incluindo o risco de interrupções nos serviços médicos.
Em Singapura o Ministério da Saúde emitiu um alerta de surto de COVID-19, tendo sido reforçada a vigilância.
Esta semana um estudo mostrou que as mortes ligadas ao calor na América Latina podem duplicar até 2050, realçando as vulnerabilidades climáticas.
Destaco também os vários alertas epidémicos no Pacífico, sejam os surtos de dengue na Samoa Americana (212 casos confirmados, declarada emergência), nas Ilhas Cook (157 casos), na Polinésia Francesa (2.636 casos, desde 2023), Samoa (14.435 casos clínicos) e em Tuvalu (218 casos confirmados). Além disso, houve também alertas de sarampo na Austrália (12 casos em Queensland) e Nova Zelândia (6 casos), de tosse convulsa na Nova Zelândia (2.041 casos em 2025) e Vanuatu (270 casos), e de papeira no Havaí.
Por sua vez, nos Estados Unidos continuou a paralisação governamental, iniciada em 1 de outubro, e que atinge os serviços de saúde. O secretário de Saúde, Robert F. Kennedy Jr., continuou com as suas polémicas, desta vez ao propor a inclusão do autismo no “programa de compensação por lesões vacinais”. O governo Trump, por seu lado, continuou a negociar reduções de preços com a Pfizer, a AstraZeneca e a Amgen, usando as ameaças de tarifas, e isentando os genéricos de taxas.
Soube-se também que os microplásticos na água engarrafada aumentam a ingestão anual em 90.000 partículas, quando é sabido que a exposição a tricloroetileno aumenta o risco de Parkinson. Já a Califórnia vai banir os alimentos ultraprocessados nas escolas a partir de 2029, e restabelecer a obrigatoriedade de máscaras nas instituições de saúde.
Na Europa um relatório da OMS sobre o uso do tabaco e cigarros eletrónicos mostra que a Região Europeia da OMS apresenta a taxa mais elevada de uso de tabaco no mundo, com projecções de manutenção desse estatuto até 2030. Em 2024, 24,1% dos adultos (173 milhões) consumiam tabaco, representando uma redução relativa de apenas 19% desde 2000, aquém da meta de 30% dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável até 2025. Nos jovens dos 13 aos 15 anos, o uso de cigarros eletrónicos é alarmante, com 14,3% a referir consumo – a taxa mais alta globalmente – valor três vezes maior do que a dos adultos. Apenas 28 dos 53 países seguem os níveis recomendados de tributação sobre o tabaco. Tanto a fazer, ainda…
A homenagem da semana: melhor qualidade de vida para os doentes com fibrose quística
Michael J. Welsh e Jesús González merecem uma homenagem especial nesta semana. Estes cientistas, da “University of Iowa”, receberam o Prêmio Lasker-DeBakey de Investigação Médica Clínica, em 2025, pelos seus contributos fundamentais para o tratamento da fibrose quística, uma doença genética grave que atinge os pulmões e o sistema digestivo. Esta distinção reconhece os avanços que melhoraram significativamente a qualidade de vida de pacientes de todo o mundo, através de terapias inovadoras, que modulam proteínas defeituosas, o que representa um marco na investigação translacional e na aplicação clínica de descobertas genéticas.
Mário Freitas*
- Médico de Saúde Pública e de Medicina do Trabalho