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Quem assume a responsabilidade?

A palavra “responsabilidade” devia ser uma das mais bonitas da língua portuguesa. Soa a compromisso, a respeito, a consciência. Mas, na prática, parece ser um termo que muitos conhecem apenas de ouvir dizer.
Ser responsável é uma arte que começa no quotidiano. O cidadão responsável paga os seus impostos, cumpre as regras básicas de convivência e não atira lixo pela janela do carro. Mas também há aquele que, à primeira oportunidade, estaciona em cima do passeio “só por dois minutos”. É o mesmo que depois reclama que o país está mal, mas que nem o contentor do lixo sabe usar corretamente.
O funcionário responsável é aquele que chega a horas, cumpre o seu dever e não precisa que o chefe lhe diga três vezes o que tem de fazer. Mas há também o outro tipo, o que vive de frases como “isso não é comigo” e acha que picar o ponto às horas certas já é sinónimo de dever cumprido.
O marido responsável é aquele que partilha, apoia e cuida. Mas há os que pensam que responsabilidade é apenas pagar contas, esquecendo que o amor também precisa de manutenção. O pai responsável educa, dá exemplo e ensina valores. Mas há quem confunda “dar tudo aos filhos” com “dar tudo menos atenção”.
E, claro, há sempre a categoria dourada dos cargos de visibilidade, onde a responsabilidade costuma ter vida curta. Pode ser num clube desportivo, numa empresa, numa associação ou até num governo: o padrão é o mesmo. Quando há vitórias, apoios, bons resultados ou prémios, aparecem todos na fotografia, como se tivessem sido eles a colocar o tijolo, a escrever o relatório ou a marcar o golo decisivo. Nesses momentos, a palavra “responsabilidade” é dita com orgulho: “Foi um trabalho de equipa”, dizem, com um sorriso confiante e ar de missão cumprida.
Mas quando as coisas correm mal, quando há falhas, erros ou trapalhadas, o cenário muda de forma quase mágica. De repente, ninguém sabe de nada, ninguém decidiu nada, ninguém estava presente. É ver declarações dignas de teatro surrealista: “Não tenho conhecimento disso”, “Não fui eu que decidi”, “A responsabilidade é técnica”. Técnicos esses que, curiosamente, nunca têm nome.
Nas empresas, nas associações, nas equipas ou nas instituições, a lógica repete-se. Quando há sucesso, todos reclamam o mérito; quando há fracasso, a culpa é sempre de fatores externos: da comunicação, das circunstâncias, do azar ou, simplesmente, “de alguém”. Há líderes que, quando vencem, são visionários, mas quando falham, transformam-se em vítimas das circunstâncias.
A verdade é simples: assumir responsabilidade é raro, porque exige caráter. Exige reconhecer erros, pedir desculpa e, acima de tudo, não fugir quando a situação aperta. Seja o cidadão que deixa o carro mal estacionado, o funcionário que não faz o que devia, o pai que não dá atenção, o treinador que erra na tática ou o gestor que toma uma má decisão, todos deviam perceber que a sociedade melhora quando cada um cumpre o seu papel com seriedade.
A postura correta é esta: se o mérito é meu, que bom; se o erro também é, que sirva de lição ou que venham as consequências.

Responsabilidade não é uma palavra para ser dita, é uma palavra para ser vivida.
E enquanto uns vivem dela, outros continuam apenas a fingir que a conhecem.
Carlos Pinheiro

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